Marcelo Rebelo de Sousa destaca necessidade de respeitar liberdade religiosa consagrada na Constituição
Porto, 09 mar 2021 (Ecclesia) – O presidente da República Portuguesa apelou hoje às confissões religiosas do país que contribuam para a defesa da tolerância e da “compreensão mútua”, face a discursos que visam a exclusão do “diferente”.
“Apelo para que, em salutar diálogo e convergência de propósitos, tudo façamos para defender a liberdade, a tolerância, a compreensão mútua, num tempo em que é tão sedutor dividir e catalogar, encontrar bodes expiatórios”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, no salão nobre da Câmara Municipal do Porto, perante autoridades da cidade e 13 convidados, representantes das diversas confissões religiosas presentes em Portugal.
O chefe de Estado incluiu um momento de oração inter-religioso no programa da tomada de posse para o seu segundo mandato presidencial, à imagem do que aconteceu em 2016, então em Lisboa.
O discurso desta tarde começou por sublinhar a “liberdade fundamental” da Constituição, “a liberdade religiosa, a liberdade de crer e de não crer”.
“A liberdade de crer, que é mais do que a liberdade de culto, para os crentes, é a liberdade de agir no espaço público em conformidade com os valores essenciais da sua fé, da sua visão da pessoa e da comunidade”, precisou o chefe de Estado.
Marcelo Rebelo de Sousa pediu que “crentes e não crentes tenham presente o significado da Constituição da República Portuguesa, respeitem a liberdade alheia, não a queiram limitar, não a queiram condicionar, não a queiram esvaziar em homenagem às suas posições pessoais”.
Este singelo encontro, que repete o de há cinco anos, em Lisboa, é um sinal dado aos portugueses daquilo que nos deve unir: o respeito da liberdade e, portanto, da diversidade”:
O presidente português agradeceu às confissões religiosas o “muitíssimo” que o país lhes deve em áreas como a educação, a saúde ou a solidariedade, “na resistência às crises e no combate à pandemia”.
“Sublinho, neste ano doloroso para todos os portugueses, neste ano infatigável para todos nós, que o combate sem tréguas à pandemia seria outro sem o vosso contributo”, apontou.
O discurso destacou o contributo em “domínios sensíveis” da vida nacional, ajudando os mais pobres e os mais afetados pela crise, “muitas vezes sem que se saiba”.
“Portugal agradece o vosso contributo ao longo de um ano de pandemia, dado a milhares e milhares de portugueses”, prosseguiu.
O chefe de Estado desafiou as confissões religiosas a participar num esforço coletivo de “pacificação dos espíritos e aceitação do diferente”.
O encontro inter-religioso contou com uma oração conjunta, no qual os participantes deixaram uma prece: “Faz com que todos os povos vivam de acordo com a tua lei de amor”.
“A todos se aplica o amor como regra de vida, o amor como compreensão dos outros”, destacou o presidente da República Portuguesa.
Marcelo Rebelo de Sousa destacou que só no pluralismo que carateriza uma sociedade livre “é consagrada e floresce a liberdade religiosa”.
“O espírito ecuménico, o espírito da abertura, o espírito da tolerância, o espírito do respeito dos demais, é um espírito nacional. Deve ser nacional. A todos importa, sem exceção, porque importa a Portugal e aos portugueses”, apontou.
O presidente da República tomou hoje posse para o seu segundo mandato, num programa que incluiu esta celebração inter-religiosa, à imagem do que aconteceu em 2016, então na Mesquita de Lisboa.
O presidente da Câmara do Porto agradeceu a Marcelo Rebelo de Sousa a realização da cerimónia numa cidade que é “de tolerância” e que “acolhe e abriga inúmeros cidadãos de diversas raças, credos e opiniões políticas”.
Rui Moreira defendeu que o país precisa de “políticas fortes que lhe tragam crescimento, que lhe tragam esperança”.
“Hoje é um bom dia para se retomar essa esperança”, salientou Rui Moreira, citando um texto de D. José Tolentino Mendonça: “Precisamos de olhar para a espiritualidade como uma arte integral de ser”.
Depois de participar na cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa visita Centro Cultural Islâmico do Porto, onde declarou que “não há uma separação entre o ser espiritual e o ser social”.
O programa de tomada de posse teve início esta manhã com uma cerimónia na Assembleia da República, à qual se seguiu a deposição de coroas de flores nos túmulos de Luís de Camões e Vasco da Gama, no Mosteiro dos Jerónimos.
PR/OC