Carla Santos pede mudanças efetivas, que vão para além da indignação momentânea
Lisboa, 12 jun 2020 (Ecclesia) – A antropóloga Carla Santos, convidada da entrevista semanal conjunta Renascença/Ecclesia, afirmou que os políticos que negam o racismo, na sociedade portuguesa, desconhecem o país em que vivem.
“Não sei onde vive nem por onde anda quem tece essas considerações”, realçou a diretora-executiva da ‘Capacitare’ e mediadora sociocultural no Centro Nacional de Apoio ao Imigrante.
“Os nossos governantes não têm noção do país em que vivemos”, acrescenta a entrevistada, sublinhando que em Portugal existe “racismo estrutural” e preconceito.
A colaboradora da Obra Católica Portuguesa de Migrações assinala que, quem está no terreno, “todos os dias lida com esta realidade”.
Carla Santos lamenta que não se reconheça o problema, considerando que essa atitude dificulta a procura de soluções.
“Quando estamos a falar dos fenómenos do racismo, se não assumirmos, se não aceitarmos que existe – a nível estrutural e institucional -, que temos um preconceito que vai sendo alimentado, de geração em geração, estamos simplesmente a não admitir que é preciso fazer alguma coisa”, alerta.
Para a diretora-executiva da ‘Capacitare’, é necessário rejeitar a ideia de “assistencialismo”, procurando antes “políticas públicas diferenciadas para que se possa resolver um problema estrutural, nomeadamente ao nível da falta de representatividade de comunidades que são fortemente violentadas”.
A convidada da entrevista semanal Renascença/ECCLESIA, publicada e emitida à sexta-feira, entende que a própria Justiça cria “crenças” e trata de forma diferentes os cidadãos.
“Que crença é que está a ser instalada na Justiça, que requer reparação, para que realmente se exerça Justiça?”, questiona.
Carla Santos considera que a discussão sobre fenómenos como o racismo é pontual, feita de “vagas às vezes quase incendiárias”, que depois se esquecem “durante um tempo”.
Depois de saudar as intervenções do Papa Francisco contra o populismo e a xenofobia, a entrevistada considera que a pandemia de Covid-19, que afetou “de pessoas mais abastadas a menos abastadas”, veio fazer com que muitos “sentissem o que é a privação diária”.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)