Pedro Neto pede que Marcelo Rebelo de Sousa ajude a colocar causa dos sem-abrigo de volta na agenda mediática
Lisboa, 30 mai 2021 (Ecclesia) – Pedro Neto, diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal, disse em entrevista à Renascença e Ecclesia que a pobreza se “agravou” durante a pandemia e exige uma resposta dos responsáveis políticos.
“A pobreza agravou-se e temos aqui um nível que já existia, mais uma vez, mas que agora é muito evidente: pessoas que trabalham a tempo inteiro, que têm um full-time job, mas que mesmo assim não conseguem sair da pobreza. Isto é dramático e exige uma reflexão muito grande”, indicou.
O responsável sublinhou que, durante a crise provocada pela Covid-19, o direito à saúde foi “colocado em causa de modo absoluto e dramático”.
O convidado da entrevista semanal conjunta, publicada e emitida ao domingo, sublinhou que os grupos mais vulneráveis “ficaram ainda mais para trás”.
Cabe ao governo, à sociedade civil, às respostas sociais contribuir para essa justiça social se equilibrar e estarmos todos na mesma medida”.
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, elegeu a situação das pessoas sem-abrigo como uma das suas causas no seu primeiro mandato e o responsável da Amnistia Portugal espera que isso se repita, nos próximos meses.
“O apelo que faço, se ele nos estiver a ouvir, é que essa causa volte de novo à sua agenda”, refere.
Questionado sobre a situação nas prisões, Pedro Neto defende que é preciso dar prioridade à “inserção social”.
“É necessário investir nela [reinserção] para depois poupar na despesa nas prisões e para poupar naquilo que são processos de regresso. É como se fosse uma porta giratória, muitas pessoas que saem da prisão chegam cá fora, não têm meios e são obrigadas a reincidir, e voltam para dentro”, aponta.
O responsável mostra-se preocupados com discursos populistas que se aproveitam do “descontentamento e a revolta” da população.
Pedro Neto indica que os recentes casos que envolveram trabalhadores migrantes em Odemira não foram “caso único”, pedindo “atenção à Lezíria e ao Oeste, onde o tráfico de seres humanos se aproveita para este trabalho quase escravo”.
O entrevistado considera importante o papel de líderes religiosos na sensibilização das suas comunidades, falando de Francisco como “um Papa completamente ligado à sociedade, às pessoas e às suas preocupações, muito atento aos problemas sociais do mundo”.
“Temos de nos focar naquilo que nos une e menos no que nos separa”, acrescenta, a respeito das divergências de posições entre a Amnistia Internacional e a Igreja Católica.
Um dos campos de convergência é a defesa do meio ambiente e a luta contra as alterações climáticas.
“Todos os nossos direitos económicos e sociais dependem do planeta terra. Se extrairmos sem regras e sem sustentabilidade, vamos ficar sem modo de sobrevivência. Aliás, isso já está à vista, com os refugiados climáticos”, assinala o responsável da Amnistia Portugal.
Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)