D. Américo Aguiar alerta para «palavras que ferem» quem combate os incêndios e apela à união de políticos e comentadores em torno do mesmo «inimigo»

Lisboa, 21 ago 2025 (Ecclesia) – O capelão nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses, D. Américo Aguiar, disse que, durante os fogos, todos devem “estar unidos e totalmente de mãos dadas”, nomeadamente políticos, apontando para a necessidade de uma revisão do quadro jurídico-penal dos incendiários.
“Após os incêndios, que o Parlamento se sente, reflita com verdade, com dados cientificamente validados, para que possa equacionar um quadro jurídico-penal diferenciado, para que a sociedade salvaguarde a propriedade, quer a floresta, quer o ambiente, mas acima de tudo, as vidas humanas dos que combatem os incêndios e das populações”, afirmou o bispo de Setúbal em declarações à Agência ECCLESIA.

Para D. Américo Aguiar, o atual o quadro jurídico-penal que criminaliza os incendiários “deve ser avaliado e atualizado”, tendo em conta que a sociedade e o poder legislativo vão “amadurecendo uma reflexão”.
“Isto é um caminho que a sociedade faz. E, hoje, acho que se começam a criar condições na sociedade de criminalizar com mais gravidade os incêndios que têm mão humana no seu início”, afirmou o capelão nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses.
O bispo de Setúbal lembrou que, no julgamento dos incendiários, é necessário ter presente “várias nuances”, nomeadamente casos de “doença das pessoas” e os “atos criminosos” que estão na origem de alguns fogos.
No contexto dos sucessivos fogos que se registam em Portugal e que já queimaram mais de 222 mil hectares no país, D. Américo Aguiar lembra que “para inimigo já bastam os incêndios” e afirma que, neste cenário, todos “devem estar unidos” e “muitas vezes calados”.
“Quando passarem os incêndios, então sim: parar, avaliar, julgar, alterar, modificar, planificar, para que no próximo ano, nos próximos anos, possamos ver alteradas as situações”, apontou, referindo que as “diferenças político-partidárias” e o debate deve ser antes ou depois da vaga de incêndios, não durante.
O bispo de Setúbal referiu-se também aos comentários mediáticos, lembrando que algumas palavras e certos “sentimentos de alma” “ferem muitíssimo o coração” de quem combate os incêndios e as suas famílias.
“Não podemos deixar de ter noção que, no cenário dos incêndios, eles precisam de todo o nosso apoio, todo o nosso apoio. Podemos não concordar logisticamente, tecnicamente, no que diz respeito às coordenações de comandos, podemos ter essas divergências todas. Mas, durante os fogos, temos de estar unidos e totalmente de mãos dadas com estes homens, com estas mulheres, com as suas famílias, com as corporações e com todos aqueles que estão envolvidos nos incêndios”, afirmou D. Américo Aguiar.
O capelão nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses prestou homenagem às três vítimas mortais causadas pelos incêndios, lembrando também os dois feridos “muito graves”.
Desde o mês de julho, vários incêndios rurais de grande dimensão têm afetado sobretudo as regiões do Norte e Centro de Portugal, num quadro de temperaturas elevadas durante dias consecutivos, que motivou a declaração de situação de alerta desde o dia 2 de agosto e as 23h59 desta terça-feira, dia 19 de agosto.
De acordo com dados divulgados na sua página da internet, a GNR registou, até ao dia 13 de agosto de 2025, 5996 incêndios, sendo 30,2% causados por uso de fogo, 14,5% tiveram “origem acidental”, 0,5% “origem estrutural”, 24% têm origem em incendiários, 1% causas naturais, 23,2% causas indeterminadas e 6,6% resultaram de reacendimentos. Este ano, juntando os dados da Polícia Judiciária e da GNR, foram detidas 94 pessoas; em 2024 foram detidas 99 pessoas, refere a Agência Lusa esta terça-feira, citando o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2024. A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais referiu à Lusa que estão na cadeia 109 presos relacionados com o incendiarismo, sendo desses 42 condenados, 24 inimputáveis, 39 aguardam julgamento em prisão preventiva e 4 aguardam que a decisão transite em julgado. |
PR