Congresso da UNIAPC prossegue esta sexta-feira na Universidade Católica Portuguesa
Lisboa, 23 nov 2018 (Ecclesia) – O Papa Francisco e o presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, marcaram esta quinta-feira o início do Congresso Mundial da União Internacional Cristã dos Dirigentes de Empresas (Uniapac) com mensagens a favor de uma economia mais humana.
Num evento que conta com cerca de 450 empresários, cristãos e não cristãos, com o tema ‘O Negócio como uma nobre vocação’, o Papa saudou, em mensagem enviada aos participantes uma reflexão “mais importante que nunca”, no contexto de “um mundo onde a globalização da atividade económica e do comércio tem vindo a afetar profundamente o meio financeiro, na sua visão, nos seus objetivos e métodos”.
“Serem fiéis à vossa vocação e missão implica manter um equilíbrio delicado entre inovação e competitividade e ao mesmo tempo o progresso em ordem ao bem comum, à dignidade humana e ao uso apropriado dos recursos naturais”, salientou Francisco, convindando os empresários cristãos a “inspirar” outros para uma mudança de paradigma.
Já o presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, que enviou uma vídeo-mensagem, frisou que “promover a dignidade da pessoa no meio empresarial implica uma atenção constante ao mérito, à promoção da equidade e da justiça, mas também da competência, do sentido do serviço dos outros”.
“Num mundo dividido por egoísmos, por visões unilaterais, por conflitos, por guerras, num mundo que mais depressa promove o desentendimento do que a concórdia, a palavra do Papa Francisco, o exemplo do Papa Francisco, e os valores próprios do cristianismo devem estar presentes na vida empresarial, nos trabalhadores como nos empresários, nos líderes e gestores”, sustentou.
Marcelo Rebelo de Sousa realçou ainda aquele que deve ser o foco principal do meio financeiro: contribuir “para que através das empresas se enriqueça aquilo que é o significado fundamental da vida de uma sociedade, as pessoas de carne e osso”.
O Congresso Mundial da Uniapac está a decorrer na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, até este sábado.
A abertura dos trabalhos contou também com uma intervenção gravada do presidente do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, da Santa Sé, cardeal Peter Turkson.
O responsável católico sublinhou o conceito de ‘bem-comum’ que deve estar enraizado em toda e qualquer iniciativa humana, pois só assim possível concretizar “o desenvolvimento integral de todos”.
O “capital” financeiro só será verdadeiramente uma mais-valia se chamar “à livre responsabilidade de ajudar os mais pobres”, defendeu D. Peter Turkson.
Em representação da Santa Sé, em Lisboa, esteve o padre Bruno-Marie Duffé, secretário do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, que apresentou a 5.ª edição do documento do Vaticano ‘A vocação do líder empresarial’.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o membro da Cúria Romana realçou que no contexto atual de “luta de interesses” que marca o setor financeiro, começa a haver sinais de mudança na forma de encarar o mundo económico e empresarial que dão esperança à Igreja Católica.
“São cada vez mais aqueles que buscam uma referência moral, uma autoridade moral, uma forma de respeitar a dignidade das pessoas, de respeitar o ambiente e de ter em conta as mudanças climáticas. E talvez nós, como Igreja Católica, possamos propor uma antropologia, uma forma de ter em conta a comunidade humana e as condições para uma vivência mais pacífica e positiva”, apontou.
Mudar o “paradigma de desenvolvimento”, acrescentou o padre Bruno-Marie Duffé, implica também apostar mais na “educação das novas gerações”, que serão os empresários e empreendedores do amanhã.
Em maio de 2018 completaram-se 87 anos da publicação da encíclica ‘Quadragesimo Anno’, do Papa Pio XI, escrita na sequência da Grande Depressão económica de 1929.
Em alusão a este documento dedicado à ordem social, a Santa Sé prepara-se para oficializar um novo projeto dedicado a este setor, a ‘Fundação Quadragesimo Anno’.
De acordo com o professor italiano Stefano Zamagni, especialista em Economia, e outro dos oradores do Congresso Mundial da Uniapac, este organismo, que será presidido pelo cardeal Antonio Maria Vegliò, é mais um acréscimo positivo da Igreja Católica para a transformação do meio económico e financeiro.
“A ideia é criar um conjunto de princípios que favoreçam um comportamento ético no mundo económico”, explicou o docente da Universidade de Bolonha, o qual alertou para o muito que ainda há a fazer para prevenir uma nova crise como a que aconteceu mais recentemente, em 2008.
“Aprendemos e estamos a aprender, mas isso não é suficiente porque não estamos a fazer o suficiente para alterar a matriz básica do sistema financeiro. Olhemos por exemplo para o sistema bancário, nada mudou, o que se fez foi simplesmente remediar a crise dos bancos através de um enorme investimento económico por parte dos vários governos, mas as regras do jogo não mudaram”, advertiu Stefano Zamagni, em declarações à Agência ECCLESIA.
Isto é um verdadeiro escândalo. Por outras palavras, a nível intelectual aprendemos com a crise, porque é que ela começou e foi tão profunda, mas apesar disso não tivemos coragem para modificar nada. Porquê? Porque o setor financeiro hoje está tão concentrado que se tornou uma oligarquia com um poder terrível, tão grande que pode chantagear os governos em ordem a não modificarem o estado das coisas”.
A abertura do Congresso Mundial da Uniapac, que prossegue esta sexta-feira, contou com a participação também do presidente deste organismo, Rolando Medeiros; do presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores, João Pedro Tavares; e da reitora da Universidade Católica Portuguesa, anfitriã do evento, Isabel Capeloa Gil.
JCP