Portugal: «Pacem in Terris» foi base para a revolução do 25 de abril

Publicada em 1963, a encíclica do Papa João XXIII ajudou a abrir caminho para a liberdade, recorda responsável da Liga Operária Católica

Lisboa, 27 abr 2013 (Ecclesia) – O vice-presidente nacional da Liga Operária Católica – Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC-MTC) diz que a encíclica “Pacem in Terris”, publicada há 50 anos pelo Papa João XXIII, foi uma das bases do 25 de abril de 1974.

“Naquele tempo foram documentos da Igreja com esta envergadura que foram marcando as etapas dos jovens, forjando uma escola de consciências, de solidariedade, de descoberta de valores para a vida e para o tempo”, explica José Rodrigues em entrevista à Agência ECCLESIA.

Em 1963, o responsável da LOC-MTC tinha 12 anos e começava a envolver-se na Juventude Operária Católica.

As propostas de João XXIII apontavam a importância de “olhar o homem como pessoa, com direito a ter uma vida digna, a ter direito ao trabalho, a ter direito à liberdade”, numa altura em que em Portugal estava “em ditadura” e era preciso “esconder tudo”, recorda. 

Segundo José Rodrigues, o Papa italiano apresentava uma “visão larga” sobre o tempo que havia de vir, dizendo que as organizações “precisavam de liberdade” e “denunciando o que o Estado Novo não queria que se denunciasse”.

Entre 1963 e 1974 uma geração que aspirava à liberdade começava a formar-se e os valores contidos na “Pacem in Terris” encorajaram os jovens a um caminho novo, porque naquele tempo a Igreja era a única instituição com “espaços de liberdade”.

“Os primeiros dirigentes sindicais foram formados na JOC”, explica José Rodrigues, reformado da Lisnave onde participou no movimento sindical, sublinhando ter sido nos espaços eclesiais que a solidariedade e os direitos formaram a sua consciência.

O vice-presidente nacional da LOC afirma a presença de “Jesus Cristo no compromisso dos militantes que acreditavam no seu projeto de liberdade e de dignidade das pessoas” e tinham como meta “o Evangelho”.

José Rodrigues lamenta que atualmente se viva “num mundo teórico”, pois os jovens militantes “são estudantes” que “não colocam na vida o que aprendem na escola”. 

Ao olhar para as manifestações que percorrem as cidades onde os manifestantes reclamam direitos, o dirigente lamenta que os manifestantes nem sempre “tenham consciência dos seus deveres”.

“Cada um tem o direito de exigir, porque é um direito que lhe assiste mas tem o dever de ser capaz de contribuir e exigir de si”.

Numa entrevista que poderá ser acompanhada este domingo na Antena 1, a partir das 6h00, José Rodrigues realça que a encíclica “Pacem in Terris” não perdeu atualidade.

“Foi escrita num tempo com gente que adivinhava os sinais e por um homem de vistas largas, sábio”, aponta, acrescentando não ser necessário “inventar nada” mas antes “utilizar bem os meios” que existem.

A “Pacem in Terris deve ser proclamada e conhecida” para que “todos os homens de boa vontade não tenham vergonha de assumir que por aqui passam valores e nós temos ferramentas para os colocar em marcha”, conclui.

LS/JCP

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Agência ECCLESIA

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