Portugal: «O mercado de trabalho não retira as pessoas da pobreza» – Presidente da ACEGE (c/ vídeo)

João Pedro Tavares considera que fazer da «abstenção um protesto, seria uma forma errada de participar ou de não participar» nas eleições legislativas 2024

Lisboa, 04 mar 2023 (Ecclesia) – O presidente da Associação Cristã de Empresário e Gestores (ACEGE) alertou para a situação de pobreza a nível nacional, denunciado que nem a população empregada escapa a cair nesta condição.

“30% dos pobres em Portugal trabalham, isso significa que o mercado de trabalho não retira as pessoas da pobreza e, portanto, mais importante do que o salário mínimo é falarmos do salário digno e isto depende do contexto da família”, disse João Pedro Tavares, em entrevista à Agência ECCLESIA, transmitida hoje na RTP2.

Os números são do estudo desenvolvido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) e publicado em abril de 2021, com o nome “Faces da Pobreza em Portugal”.

O presidente da ACEGE e o coordenador nacional da Liga Operária Católica – Movimento dos Trabalhadores Cristãos (LOC-MTC) foram hoje os convidados do Programa ECCLESIA, olhando a forma como ser agente de justiça social num Portugal empobrecido e fator de mudança, a propósito das eleições legislativas de 10 de março.

Américo Monteiro espera que as eleições Legislativas 2024 sejam um ato democrático muito participado e disse que era importante “as pessoas assumirem que as decisões, nesta altura, têm a ver com a vida de todos, não é só com a de alguns”.

João Pedro Tavares lembrou a posição da ACEGE, que divulgou em nota a forma como vê o ato eleitoral que se aproxima.

“A nossa tomada de posição foi apelar à participação de todos, as pessoas não se demitirem, e não fazerem da abstenção um protesto, seria uma forma errada de participar ou de não participar. Apelar a uma sociedade de maior esperança, existe uma falta de esperança patente, lutar pela erradicação da pobreza, inverter o inverno demográfico que temos, e temos que ser muito convergentes, tem que ser com todos”, salientou.

O responsável considera que “faltam muitas coisas” para os ordenados aumentarem, os jovens deixarem de abandonar o país e Portugal sair do drama da pobreza.

“O Estado tem que ser mais amigo das empresas, não é dando subsídios e criando dependências, não é fazendo favores, mas tem que ser mais amigo das empresas e da sociedade, no sentido de ter maior agilidade na forma como resolve problemas legislativos, de criação de empresas, de falências ou disputas, o que quer que seja”, defendeu João Pedro Tavares.

No que toca aos empresários, o presidente da ACEGE indica que “tem que haver maior arrojo, maior compromisso, não ter a política do salário mínimo”.

Por outro lado, Américo Monteiro realça não ver problema nenhum na política do salário mínimo, mas que este deveria servir “para puxar os outros salários para cima”

“O problema é quando nos outros direitos, nos outros salários, nos outros rendimentos, vão ficando para trás. Por exemplo, há vários setores, cujas diferentes categorias, diferentes especialidades, todas são abrangidas pelo salário mínimo. Porquê? Porque falhou, não está a conseguir realizar a negociação dos contratos coletivos de trabalho, das tabelas salariais, etc, e isso sim está a falhar”, entende.

Questionado como vê o mundo do trabalho nos próximos tempos, o coordenador nacional da LOC-MTC diz que Portugal encontra-se, tal como muitos países, em dificuldades, com trabalhadores descontentes.

“Nós tivemos uma pandemia que nos mostrou quais os trabalhadores que eram fundamentais para que a sociedade se segurasse nessa altura. Depois disso, os trabalhadores não viram reconhecido a forma fundamental como a sociedade depende deles nas maiores crises. É normal esta revolta, é normal esta insatisfação, até porque a seguir vieram outras crises também complicadas, de guerra, da economia”, assinala.

Em Portugal, estamos numa fase em que o desafio é pela democracia, é pela participação de todos, é pela cidadania e não por uma sociedade fraturada. E, portanto, temos que esforçar-nos para que esse equilíbrio venha ajudar a encontrar melhores soluções, soluções conjuntas”.

A Agência ECCLESIA publica documentos e opiniões sobre as Legislativas 2024 no separador www.agencia.ecclesia.pt/portal/legislativas2024

HM/LJ

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