Portugal: Novo Papa desafia a «uma fraternidade muito mais próxima» dos desfavarecidos

País marcado pela «desigualdade» precisa de “uma Igreja que diga o que tem a dizer, custe a quem custar», realça o diretor executivo da CAIS

Lisboa, 19 mar 2013 (Ecclesia) – O diretor executivo da CAIS, instituição particular de apoio aos sem-abrigo, defende que os primeiros passos do pontificado de Francisco mostraram um Papa determinado em envolver Igreja e sociedade na construção de um mundo mais justo e fraterno.

 Em entrevista concedida hoje à Agência ECCLESIA, Henrique Pinto aborda particularmente a mensagem que o Papa deixou durante a missa de inauguração do seu pontificado, que decorreu esta terça-feira no Vaticano.

Perante milhares de fiéis, representantes de outras religiões e mais de uma centena de delegações diplomáticas vindas de todo o mundo, inclusivamente de Portugal, Francisco desafiou todas as pessoas a serem “guardiões da criação” e de todas as criaturas, “especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis”.

Para o líder da CAIS, a homilia do Papa constituiu “um desafio à construção de uma fraternidade muito mais próxima dos mais desfavorecidos”, repto que “também tem” de ser abraçado pela Igreja.

“É importante que a Igreja recupere a sua dimensão política, social e económica, porque se não ela perderá o seu lugar no mundo”, aponta aquele responsável, para quem concretamente a hierarquia católica portuguesa, através das suas instituições sociais, pode ir “mais além” na sua missão a favor daqueles que pouco ou nada têm.

No campo social, mais do que fazer “gestão da pobreza”, sublinha Henrique Pinto, é preciso ajudar a criar condições para que os pobres “saiam desse ciclo vicioso”.

Por outro lado, a nível político, “a Igreja, com a sua dimensão profética e de forma desapegada, deve ter capacidade de dizer ao Governo se as políticas propostas são a favor de uma nação mais fraterna ou se vão gerar desigualdade, separação, barreiras, muros e maior pobreza”.

No meio de uma sociedade portuguesa onde “quem tem poder, quem tem dinheiro, continua a ver a crise de binóculo enquanto aqueles que estão na classe média baixa estão a ver-se sem trabalho e sem rendimento”, não há lugar para “uma Igreja que se cale e que não diga o que tem a dizer, custe a quem custar”, reforça.

Portugal participou na cerimónia de inauguração do pontificado do Papa argentino representado, entre outros responsáveis, pelo presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas.

Indo ao encontro das palavras que Francisco deixou aos governantes de todo o mundo, para que “não tenham medo da bondade”, Henrique Pinto manifestou o desejo de um Governo português mais voltado para os problemas das pessoas.

“Um Governo que diz apenas que é um dever constitucional a greve, as pessoas manifestarem-se na rua e não faz uso dos apelos que vêm das manifestações, é um governo que não ouve ninguém”, sustenta o diretor executivo da CAIS, que vai abordar o início do pontificado do Papa Francisco na próxima edição do Semanário ECCLESIA.

JCP

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