Portugal: «Nós não queremos a mesa dos pequenos, queremos a mesa da discussão normal», diz presidente do Conselho Nacional de Juventude

Rui Oliveira assinala que presença de jovens tem vindo a diminuir na Assembleia da República

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Coimbra, 01 fev 2024 (Ecclesia) – O presidente do Conselho Nacional de Juventude (CNJ) de Portugal afirma que os jovens não querem “a mesa dos pequenos”, lamentando a diminuição da representação das novas gerações na Assembleia da República.

“Há uma discussão política muito clara à volta do tema dos jovens, depois como é que há uma decisão em que os jovens não vão estar na mesa a discussão. Isso deve ser preocupante porque depois cria as tais fricções na sociedade que nós temos assistido muitas vezes. Eu acho que há espaços, não sei se realmente esses espaços não estão, às vezes, na mesa ao lado da discussão”, disse Rui Oliveira em declarações à Agência ECCLESIA, no Congresso do Centenário do Corpo Nacional de Escutas (CNE).

O presidente do CNJ explica que têm “criado espaços onde os jovens podem falar e podem opinar”, mas se esses espaços se efetivam em alterações “e uma verdadeira cogestão e integração dos jovens” no processo de decisão já tem “um bocadinho de dúvidas”.

“O próprio Presidente da República no seu Conselho de Estado não tem um conselheiro jovem, não há essência de um conselheiro jovem, defende-o para empresas. E nós dissemos-lhe isso, defende que as empresas tenham jovens nos seus conselhos de administração, mas ele próprio não tem. A resposta foi fazer um conselho ao lado, um conselho só com os jovens, isso é a mesa dos pequeninhos”, desenvolveu.

“Nós não queremos a mesa dos pequenos, nós queremos a mesa da discussão normal. Nós somos participativos na vida de sociedade, por isso, acho que isso é um papel muito importante que a sociedade tem que ter e que nós temos de todos em conjunto de trabalhar”, acrescentou o presidente do Conselho Nacional de Juventude

Rui Oliveira tem ainda menos dúvidas que “os jovens participem mais na vida política e decisória concreta do país”, segundo os dados há “menos jovens na Assembleia da República, progressivamente têm vindo a diminuir”:

“Eu arrisco a dizer que, com aquilo que são as listas que conhecemos e com os cenários possíveis, provavelmente vamos ter Assembleia da República com menos jovens outra vez. Já tivemos em 2022, em 2024 é muito possível o que isso volte a acontecer, e eu acho que isso é um cenário muito preocupante”, acrescentou, este sábado, dia 27 de janeiro.

O presidente do CNJ salienta que não quer “os jovens contra os mais velhos, é completamente o contrário” e defende um diálogo intergeracional, porque é muito importante para os jovens “trazer a disrupção, trazer ideias novas, trazer a energia que têm”, e terem, ao mesmo termos, os “contributos” dos mais velhos, as aprendizagens que tiveram, porque, “só assim, é que a sociedade aprende, na parte mais política, socieltal, mas também nas organizações”.

“Nas organizações, digo isso muitas vezes, grande parte do problema das empresas teve esta falta de diálogo e comunicação que devia acontecer para que os jovens trouxessem a energia e os outros trouxessem a parte do conhecimento. E que os dois, em conjunto, fizessem crescer as organizações”, realçou o jovem de 27 anos, natural de Guimarães, que frequenta o Mestrado de Engenharia Mecânica, na Universidade do Minho.

Rui Oliveira, Presidente do CNJ
Foto: CNE

No dia 7 de janeiro, na 98.ª Assembleia Geral Eleitoral do Conselho Nacional de Juventude, em Coimbra, Rui Oliveira, do Corpo Nacional de Escutas, foi reeleito presidente da direção do CNJ, para o mandato de 2024/2026; o projeto do CNE venceu com 25 votos a favor, contra os nove votos recebidos pela Federação Académica de Medicina Veterinária e um voto em branco.

O CNJ, sintetiza o presidente, “é o órgão que representa a juventude em Portugal nos diversos órgãos do Governo, desde o presidente da República, à Assembleia da República e ao Governo”: “É uma plataforma que representa organizações juvenis de âmbito nacional e cariz cultural, ambiental, escotista, partidário, estudantil, sindicalista ou confessional em Portugal”, lê-se no sítio online do conselho.

“O papel do CNJ é chegar a recomendações, sugestões, contribuir politicamente, criar este mediatismo em torno dos jovens e esse é um trabalho que o CNE tem que fazer na liderança, como uma liderança de uma organização, e exige essa capacidade de nós termos uma visão e construímos e desenvolver essa potencialidade”, explicou.

Criado em 1985, o CNE, que lidera o Conselho Nacional de Juventude, é um dos membros fundadores, e Rui Oliveira destaca a capacidade do Corpo Nacional de Escutas “ser muito neutro, mas neutro num bom sentido, muito dialogante, muito respeitador das diferenças” e perceber que, na mesa de discussão, “ter várias diferenças é bom”, para a discussão e para os projetos que “serem mais sólidos e a longo prazo”.

“Agora, um processo muito pré-legislativo, temos dito muitas vezes que era importante que o país tivesse uma visão muito a longo prazo nas coisas sólidas, em crescimentos contínuos que vamos ter, independentemente do Governo virar um bocadinho mais à esquerda ou à direita, mais progressista ou menos. E, aqui, o contributo do CNE é essencial, porque consegue muitas vezes fazer esta base de discussão, a tarefa do presidente do CNJ é garantir que todos tenham palavra, todos tenham uma hipótese de discutir”, desenvolveu.

Neste sentido, Rui Oliveira destaca a uma recomendação do CNJ no âmbito da habitação, em duas áreas que, “parece que estão uma contra a outra”, mas podem ser trabalhadas ao mesmo tempo: “O acesso ao crédito à habitação por parte dos jovens e para parte das pessoas singular, como parte de habitação ao público, uma coisa mais exclusiva da outra”.

Segundo o presidente do Conselho Nacional de Juventude, outra parte do trabalho que desenvolvem é “trazer mediatismo para a questão do CNJ, trazer atenção política”, e “não tem sido mal cumprida, hoje falam-se muito mais de jovens do que há dois ou três anos”.

CB/OC

 

Foto: CNE

O Corpo Nacional de Escutas encerrou as celebrações e comemorações dos seus 100 anos, assinalados entre 2022 e 2024, com o ‘Congresso do Centenário’, sábado e domingos, dias 27 e 28 de janeiro, no Convento de São Francisco, em Coimbra; participaram mais de 300 escuteiros, de todas as regiões escutistas do país, para debater a importância do escutismo em áreas como a Educação não Formal, a Sustentabilidade, a Comunidade e ‘out of the box’ (fora da caixa).

O escutismo faz parte da vida de Rui Oliveira desde os 6 anos de idade, por isso “há uma parte intrínseca de aprendizagem e crescimento” dentro do movimento que “moldou completamente” a forma como vê o mundo, como interage com ele e como interage com a sociedade.

“A questão do relacionamento, a questão de liderança de equipas, de gerir com pessoas, de perceber que pessoas têm gostos muito diferentes, é uma coisa que depois foi transitando para outros, outras experiências, tive minha vida, partilhei hoje para apresentar; No CNE somos todos escuteiros, é verdade, mas a área de formação é muito diferente, os gostos são muito diferentes, e temos sempre de trabalhar para que as pessoas tenham essa potencialidade. Eu acho que esta é uma forma muito clara, muito diferente de crescer e de fazer”, desenvolveu.

Sobre o futuro do Corpo Nacional de Escutas, o escuteiro do Agrupamento 455 Vermil (Guimarães) vê-o “com muito sucesso”, está numa fase de “fervilhar, trazer novas ideias, de trazer mudanças”, como o congresso e temas para além dos normais, “pôr em causa algumas das questões”, para “reformular, reinventar e restruturar”, para ir ao encontro daquilo que é a principal missão do CNE, “formar jovens ativos e preparados para a sociedade”.

 

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Agência ECCLESIA

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