Portugal/Natal: «Não deixem de pensar nas crianças que mais precisam» – Sandra Anastácio

A Ajuda de Berço foi fundada em março de 1998 e abriu a sua primeira casa de acolhimento em janeiro do ano seguinte com 20 camas, mas em 26 anos já deu colo a centenas de crianças e já tem mais espaços para as receber. Sandra Anastácio, fundadora da instituição é convidada da entrevista conjunta Ecclesia/Renascença, para falar deste trabalho

Entrevista conduzida por Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

A Ajuda de Berço, da qual é fundadora, cresceu nos últimos anos. Tem, nesta altura, quantas casas de acolhimento e está a ajudar quantas crianças e de que idade?

Infelizmente até estamos a ajudar menos crianças, estamos a ajudar 35. Até 2021 tínhamos duas casas e ajudávamos 40 crianças, 20 em cada casa. A regulamentação tem mudado, a lei tem mudado, as casas têm de ser cada vez mais pequenas para que tenham um ambiente familiar e ao mudarmos, em 2021, inauguramos a casa de Benfica. Quando inauguramos esta casa, a premissa era triplicar a nossa capacidade de resposta, era manter, transferir as crianças que estavam na casa da Avenida de Ceuta para a casa nova, ter ali uma unidade de cuidados especiais para crianças em situação de abandono com problemas de saúde e manter a casa de Monsanto a funcionar.

O país tem mudado muito, a regulamentação das casas de acolhimento residencial para crianças também, acabamos por fechar a casa da Avenida de Ceuta, que foi a primeira e era para isso que esta casa estava a ser construída. Acabamos por fechar, em 2022, a casa de Monsanto porque a Ajuda de Berço vive essencialmente de donativos e angariar dinheiro não é fácil, o Estado participa com uma percentagem muito reduzida daquilo que é o nosso orçamento. Foi uma decisão que nos custou bastante, porque a casa precisava de muitas obras também e nós já não tínhamos dinheiro para investir mais, depois do investimento de 2 milhões de euros na casa nova, e fechamos a casa de Monsanto. Estamos atualmente aqui, muito perto aqui da Renascença, em Benfica, com uma casa onde cabem 35 meninos, mas também isto está a ser agora negociado com a Segurança Social e possivelmente vamos passar para 30 crianças.

 

E porquê?

Por causa desta nova lei em que as casas têm de ser pequenas, com ambiente familiar. Como se o ambiente familiar, na minha opinião, fosse garantido pelo número de pessoas que lá vivem.

 

Tem havido uma perceção pública de que as casas de acolhimento não são provavelmente a melhor solução para as crianças abandonadas. Conhecendo o trabalho da Ajuda de Berço, imagino que não seja muito fácil gerir essa perceção…

Efetivamente uma casa de acolhimento não é a melhor solução para nenhuma criança e estamos todos de acordo, não é? Agora o que é que nós estamos a oferecer? Estamos a oferecer famílias de acolhimento que não são definitivas para a vida de uma criança e não sendo definitivas… a mim faz-me muita impressão que um bebé saia da maternidade com uma decisão de adoção e que tenha de passar por uma família de acolhimento, tenha de se vincular a uma família de acolhimento, a família tenha que se vincular com a criança e ao fim de X meses ou anos a criança seja retirada para ir para uma família definitiva de adoção. Daquilo que é a minha experiência de cerca de 30 anos, acho que isto é mais perverso para uma criança que se vincula a pessoas específicas, que se habitua a colos e a nomes e até trata a mãe de acolhimento por mãe e depois vai conhecer outra mãe.

Qquando fundamos a Ajuda de Berço era exatamente para contrariar esta ideia de orfanato, porque éramos totalmente contra das crianças ao monte numa casa, tratadas de forma completamente igualitária e a Ajuda de Berço conseguiu fazer a diferença e as casas de acolhimento hoje, na sua maioria, fazem a diferença. São de facto, efetivamente, não uma casa familiar, mas uma casa que permite que as crianças possam viver num ambiente mais parecido com uma família: elas são tratadas com individualidade, têm os seus objetos pessoais perfeitamente identificados, que são seres únicos e irrepetíveis, mas que vivem com um grupo de amigos de 15, 20 crianças que partilham os mesmos problemas, no fundo.

 

As idades quais são?

Neste momento, a Ajuda de Berço nasceu no âmbito do referendo do aborto e acolhia bebés. O país tem mudado tanto que hoje a criança mais pequena tem 2 anos e a criança mais crescida tem 13 anos. E aquilo que percebemos com as crianças mais crescidas, falando agora nas famílias de acolhimento, é que o facto de partilharem o mesmo problema, o mesmo tipo de vida, isto às vezes é muito terapêutico para eles, “porque não sou eu só que não tenho uma mãe ou um pai que me quer levar para o resto da vida, somos todos nós, somos os 30 que vivemos aqui, que estamos nesta situação”.

Sobre a realidade das famílias de acolhimento: as famílias de acolhimento atualmente, no meu entender, estão muito focadas para os bebés e há crianças que estão na Ajuda de Berço, por exemplo, que têm mais de 6 anos, que não têm um projeto de vida como a adoção, e que podiam estar numa família de acolhimento, mas para estas crianças não há famílias de acolhimento…

 

Isso deve-se a razões financeiras, a falta de sensibilização da comunidade no seu todo para estas situações?

Eu diria que há falta de sensibilização da comunidade para isto: uma criança na pré-adolescência dá mais trabalho do que um bebé, todos sabemos, a mochila que estas crianças trazem de sofrimento e até a sua história familiar é mais difícil. Por outro lado, estas crianças mantêm contactos, na sua maioria, com os seus familiares biológicos e a família de acolhimento tem de estar numa situação em que tem de permitir esses contactos e torna tudo muito mais complicado.

 

 

Nós estamos a ver que são situações complexas. Estamos a falar de situações de desemparo, de abandono, também de violência doméstica, é este o perfil das crianças?

Abuso sexuais, também, sim, estamos a falar de uma grande variedade de problemas.

 

Muito peso na mochila, não é?

Muito peso na mochila, o abandono… o abandono não é só quando o pai e a mãe não vêm mais, não é? O abandono é também quando o pai e a mãe vêm, mas não vêm como eu quero que venham – e como eu quero que venham é que o pai venha e me tire daqui, que eu não precise de estar aqui ou que não esteja nesta família de acolhimento. Todas as crianças querem estar na sua família com o seu pai e com a sua mãe, por muito… não há pais maus para as crianças, há pais que não conseguem cumprir e isto é incompreensível para uma criança. Este peso é muito difícil, a comunidade não está sensibilizada para isto, as entidades oficiais também não fazem um bom marketing ou uma boa política de verdade junto destes potenciais interessados em serem famílias de acolhimento.

 

Devia-se investir em sua opinião nessa área?

Com certeza, porque estamos a romantizar a família de acolhimento, não é? Eu também, durante 20 anos da Ajuda de Berço, só acolhi bebés, dão muito trabalho porque comem de manhã, de tarde e de noite, mas é um presépio, um bebé é um presépio, não é? É uma maravilha estar com um bebé numa casa, quem resiste a um bebé? Uma criança com mais de 6 anos, com as suas questões de vida, é bastante complicado.

 

Os próprios processos de adoção melhoraram em Portugal do seu ponto de vista ou não? Ou estamos a marcar passo?

Os processos de adoção para mim nunca estiveram mal, a Justiça deve ser mais rápida, sem dúvida alguma. Mas eu percebo que o magistrado tenha muita dificuldade em decretar uma sentença para adoção, quando há uma família presente que tem muitas dificuldades, em que a pobreza não pode ser um sinónimo de exclusão para um pai não ser pai, ou uma mãe não ser mãe. A saúde mental, que é um problema gravíssimo no nosso país e no nosso mundo hoje em dia, não pode ser também um fator de exclusão para tirar a paternidade ou a maternidade de uma criança. Efetivamente, a adoção para mim é como as famílias de acolhimento: são uma solução, mas não são a solução perfeita. Nós temos de dotar as famílias das crianças para que sejam capazes de ser famílias destas crianças. Porque assim é que as coisas estão corretas, assim é que o mundo funciona bem. Portanto, para mim a adoção é uma solução, mas não é a solução perfeita.

 

Nesse sentido, pergunte-lhe como vê a articulação com os serviços do Estado que tutelam as políticas para a infância?

Uma instituição, com a Ajuda de Berço, que tem uma equipa técnica exigente, está em cima dos serviços que tutelam a adoção, está em cima do tribunal, está em cima das equipas de adoção. Nós não podemos ter, eu não posso nunca achar que o meu dia está feito. Estas equipas que trabalham com crianças não podem achar, “pronto, eu hoje fiz tudo”. Nunca se faz tudo. Há sempre muita coisa para fazer e, portanto, a partir do momento em que os técnicos passam só a elaborar relatórios de acordo com aquilo que a lei obriga, nunca vamos conseguir resolver situações de uma forma rápida.

Levando ainda para a adoção, porque há uma coisa importante que quero dizer sobre isto: não há bebés para adotar, há crianças que têm uma mochila muito pesada e para isto também não há casais. Portanto, quando falamos que nas casas de acolhimento estão muitas crianças, nós somos um dos países que têm mais crianças institucionalizadas. Eu tenho crianças há vários anos com sentença de adoção que não são adotadas porque não há famílias para o perfil daquelas crianças. Crianças com mais de seis, sete, oito anos, onze anos, com problemas de saúde, ainda o problema da cor da pele, a questão da cor da pele, ainda são questões que pesam nas famílias. Há menos de 15 dias eu tive uma criança internada num hospital, com onze anos, com uma crise de ansiedade, com um problema de saúde grave, e o que ela me cobrou nesse dia foi – ela tem uma sentença para a adoção – “por que é que os meus pais não me quiseram e por que é que tu arranjas pais para toda a gente e para mim não?”. É muito duro ouvir isto.

 

É duro de ouvir…

Não há outra coisa senão a verdade, é explicar por que é que os pais não quiseram e porque é que não há uma família da adoção, porque de facto as pessoas são todas muito boas, mas as pessoas têm todas muito medo. Isso foi o que eu disse a esta menina de onze anos, e nós temos todos muito medo, nós temos medo de viver, nós temos medo de nos entregarmos ao próximo, nós temos medo de nos dedicarmos ao próximo. Se há um apelo que eu possa fazer a partir daqui é que as pessoas que sentem esta generosidade, que têm esta generosidade, que sentem este apelo de fazer a diferença na vida de uma criança, não tenham medo e pensem nas crianças que mais precisam, que são efetivamente aquelas que têm a mochila mais pesada, mas são aquelas que precisam mais do amor de quem está bem na vida, de quem está realizado com a sua família, de quem sente uma vontade enorme de dar ao próximo e não sabe como. Há muitas crianças nas casas de acolhimento que não são perfeitas, que não são os “bebés nestlé”, mas são crianças que têm muito amor para dar, não logo à primeira vista, porque as crianças, graças a Deus, também são mais naturais do que nós, são mais verdadeiras do que nós, e até gostarem, e até se entregarem, e até perceberem que é mesmo para a vida toda, dão ali um bocadinho de trabalho, mas vale a

 

Portanto, investir nessa sensibilização às famílias e deixa aqui esse apelo, e também deve ser prioritário ajudar as famílias de origem a dar a volta à vida, para poderem receber de novo os filhos…

Essa para mim é a primeira condição, não é? Conto-lhe também uma história: em agosto eu tinha uma mãe, com alguns problemas de saúde mental, que queria visitar os filhos e não podia já, porque tinha várias multas da Carris, e eu chamei e perguntei, mas como é que isto é possível? Já tinha dívidas, montes de dívidas de multas, e não tinha dinheiro, não tinha comida em casa, não tinha dinheiro. As equipas competentes não a estavam efetivamente a ajudar.

 

Nem a encaminhá-la para a questão do passe ser mais acessível agora, não é?

Nada. Em agosto nós todos estamos quase todos de férias, não é? Mas quem trabalha na área social não pode estar de férias, e quem vai ter de ir de férias em agosto na área social tem de pensar que há pessoas que dependem delas, que dependem de um apoio, que dependem do RSI, que dependem de um subsídio, que dependem de uma ajuda, e podemos inconscientemente, e de uma forma negligente, estar a condenar uma pessoa à morte, porque isto é a morte de uma pessoa – uma pessoa que tem um filho que lhe é retirado, que precisa de cumprir, de fazer uma série de provas para conseguir recuperar um filho, e ainda por cima não tem o básico, que é comida para comer em casa e dinheiro para se transportar, porque em Lisboa não se consegue transportar facilmente se não tivermos um passo social, não é? A não ser que estejamos aqui agora na Buraca e moremos em Benfica, nós conseguimos facilmente vir a pé, mas quem mora em Carnaxide e tenha de vir a Lisboa não consegue fazer isto com facilidade. Portanto, enquanto nós não fizermos uma intervenção de força e de verdade junto das famílias portuguesas não estamos a fazer nada.

 

Já nos contou aí algumas das histórias que a marcaram. Sendo fundadora desta associação, percebe-se que é uma missão de vida. Ter fé ajudou a lidar com estas situações tão marcantes?

Para mim é fundamental, quer dizer, em primeiro lugar eu estou na Ajuda de Berço por uma questão de fé. Em segundo lugar todo o meu caminho é uma questão de fé, não é? Eu entendo isto como um serviço de amor ao próximo, sem dúvida nenhuma, nem conseguiria nunca fazer este trabalho, eu sei que há pessoas que conseguem, eu não conseguiria fazer este trabalho se a fé não fosse a minha base, porque depois é difícil continuar a acreditar, não é? E aqui Deus ajuda-nos bastante a perceber que o sofrimento não é gratuito e que nós todos juntos podemos mexer o mundo e tornar o mundo um sítio melhor. E, de facto, temos conseguido.

 

Ainda há pouco dizia que as crianças têm algumas coisas em que não disfarçam, ao contrário dos adultos. O Papa Francisco criou uma estrutura própria dentro do Vaticano para uma nova jornada mundial, a Jornada Mundial da Criança, que ele também criou, e há duas coisas que me chamam a atenção: a primeira é a valorização da criança na idade em que ela está, não apenas por quilo em que ela se virá a tornar; e o segundo é aprender com elas. Surpreendeu-a?

Não, a mim não me surpreendeu nada, porque o Papa conhece o seu rebanho, não é?

 

É um sinal importante para a sociedade, também?

Sem dúvida nenhuma. E o Papa disse uma coisa, em tempos, muito importante e eu tenho feito disso um modo também na minha vida: nós temos de ter o cheiro das nossas ovelhas. Isto serve para o Papa, serve para os senhores padres, serve para os diretores e presidentes de instituições. Eu tenho de cheirar a criança, eu tenho de estar no meio das crianças. As crianças não podem estar ali e que eu estou aqui agora a falar sobre crianças. Isso é impossível. Portanto, nós temos todos de mexer na vida, cheirar a vida e estar na vida.

 

E é também uma decisão que valoriza, de alguma forma, o próprio ouvir o que as crianças têm a dizer. Sabemos que em situações, por exemplo, como nos abusos, nem sempre a voz das crianças é levada a sério logo de início, porque se desvaloriza, de facto, esse papel da criança.

E foi isso que nós aprendemos todos agora, não é? Ou que muitos aprenderam, que se tem de ouvir, porque um adulto é o resultado de uma criança ferida. E eu digo sempre, muitas vezes em tribunal, quando tenho uma mãe a lutar pelos seus filhos e que eu estou a representar as crianças, que eu estou perante duas crianças, a criança que tenho e a criança que gerou outra criança. Ninguém entende o amor, nem ninguém entende o cuidado ao outro, se não o teve. E esta é a batalha, nós temos de ouvir as crianças, temos de estar com as crianças, temos de ouvir os pobres, temos de estar com os pobres, porque senão são políticas cheias de palavras bonitas, mas vazias de conteúdo.

 

Temos também de falar da questão financeira da Ajuda de Berço, é uma Instituição de Solidariedade Social, como é que sobrevivem? O apoio do Estado é suficiente, são apoiados por privados, a Igreja também ajuda,?

A fé é o que me salva. E obviamente que eu tenho preocupações com o dinheiro, mas é a minha última preocupação. Eu entendo a Ajuda de Berço como um serviço ao próximo e entendo, neste enquadramento da fé, que esta obra vai permanecer enquanto Deus quiser.

A Ajuda de Berço, neste sentido, tem sido alvo de grandes milagres. O povo português tem sido muito generoso com a Ajuda de Berço. Nós gastamos, por ano, cerca de um milhão e meio e o Estado português só participa com 30% deste valor. Tudo o resto tem sido garantido graças à generosidade de nós todos, através do IRS, através da Igreja e do Patriarcado de Lisboa, que tem apoiado muito a Ajuda de Berço, nomeadamente na construção também desta casa, na confiança que a Ajuda de Berço transmite de clareza. Não há desvios de dinheiros, não há fundos, há contas prestadas, as pessoas têm a certeza para onde é que vai o dinheiro que é gasto na Ajuda de Berço e é efetivamente gasto com as crianças em várias áreas da vida das crianças, naquilo que elas consomem, e nos adultos que são necessários para cuidar destas crianças.

 

Essas contas podem ser consultadas no vosso site?

São públicas, estão publicadas e, portanto, isto é uma clareza. Agora, nós estamos sempre a desenvolver campanhas. Esta semana saiu a nossa campanha de Natal, este ano diferente de todas as campanhas que temos feito, porque muitas vezes a opinião pública não gosta de ouvir falar de Jesus. Nós temos tido algum cuidado em não falar muito de Jesus nas nossas campanhas, mas este ano a nossa campanha é totalmente transparente sobre isto: é pedir às pessoas que ajudem o Pai Natal a ajudar o Menino Jesus, que quer ajudar as crianças que estão na Ajuda de Berço.

 

Também íamos apontar aí, porque já nos vamos aproximando, estamos no Advento: como é vivido o Natal na Ajuda de Berço?

Intensamente, aquilo tem várias fases. A primeira começou este domingo com uma visita do Pai Natal à Ajuda de Berço, que veio reunir com as crianças da Ajuda de Berço para levar as cartas para o Menino Jesus. As crianças entregaram-lhe as cartas e isto é muito claro na Ajuda de Berço: é o Menino Jesus que vai dar os presentes. E os meninos pedem as coisas materiais, mas há meninos que pedem as outras coisas que não são materiais, como por exemplo uma mãe e um pai, ou a fotografia dos pais que não conhecem. E isto é muito difícil para o Menino Jesus e para o Pai Natal resolverem e para nós.

Depois há outro momento, é celebrada uma Missa no dia 18 de dezembro, em que é uma missa comunitária da Ajuda de Berço, onde estão as crianças, respeitamos sempre aqui também as diferenças de religião que existem na Ajuda de Berço – porque há muitas crianças que são muçulmanas, que se quiserem participam na Missa, se não quiserem não participam, eles escolhem sempre participar porque de facto é um momento de festa e que não os compromete em nada com a religião.

E depois há o dia de Natal, 24, em que o Pai Natal regressa outra vez à casa com todos os presentes que o Menino Jesus mandou entregar. Isto vai sendo trabalhado com as crianças como se faz nas nossas casas, de uma forma muito descontraída. Eles quando me encontram estão-me sempre a dizer “quando é que o Pai Natal vem? Quando é que tu compras?”, porque depois há crianças mais crescidas e voltamos outra vez àquela pedagogia de que “não sou eu, é o Menino Jesus”. Portanto é uma casa de crianças com o ambiente mais próximo de uma família.

 

Essa presença de crianças muçulmanas já é reflexo também da mudança que a sociedade portuguesa vai registando?

Sim, mas também não é recente. Nós sempre tivemos, desde há 26 anos, a presença de crianças muçulmanas na casa e de famílias muçulmanas, porque embora as famílias não estejam acolhidas na casa, as famílias das crianças fazem parte da Ajuda de Berço também.

Têm de visitar os filhos e ir cumprindo, vamos dizer, provas, não fazem parte desta Missa de Natal, porque era muito conflituoso, porque mexia aqui com muitas sensibilidades que não é possível nesse dia pôr tudo na mesma sala, mas há crianças também que passam Natal com as suas famílias.

 

Estamos a chegar ao fim da entrevista, convidamo-la a deixar a sua mensagem para este Natal…

Não deixem de pensar nas crianças que mais precisam e que não tenham medo.

 

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Agência ECCLESIA

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