Portugal na festa do ecumenismo

D. Manuel Felício destaca compromissos comuns assumidos em Sibiu, desde a ecologia à justiça social Portugal fez-se representar na festa do ecumenismo que decorreu na cidade romena de Sibiu até este Domingo, 9 de Setembro. Uma delação oficial de 15 pessoas, liderada por D. Manuel Felício, deixou a marca dos católicos do nosso país em momentos de reflexão, celebração e convívio guiados por um objectivo comum: a unidade dos cristãos. O membro da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé e Ecumenismo destaca o facto de as recomendações finais desta Assembleia Ecuménica Europeia (AEE) procurarem olhar para o “pós-assembleia”, abrindo perspectivas de futuro. A AEE percorreu um longo caminho até chegar a Sibiu: Roma, Wittenberg e as dioceses de cada país. Nesse sentido, o “momento festivo” que se viveu na Roménia serviu sobretudo para “motivar as pessoas e os grupos para que comece, propriamente, uma nova etapa no diálogo ecuménico partir das experiências bonitas partilhadas uns com os outros”. Das várias intervenções de delegados católicos, anglicanos, protestantes e ortodoxos transpareceu a sensação de que era necessária uma mudança no modelo ecuménico. D. Manuel Felício refere à Agência ECCLESIA que, daquilo que viveu nestes dias, brota a sensação de que “o modelo de assembleia está algo esgotado”. “As novidades doutrinais não aparecem, o que havia para colocar em cima da mesa já está colocado. Esta assembleia, por outro lado, não foi programada tanto para uma partilha de experiências, mas para os notáveis e representantes das Igrejas terem a sua palavra”, relata. O representante português considera, por isso, que no futuro as organizações desta natureza “não podem ser doutrinais, discursivas, terão de ser essencialmente festa da partilha daquilo que o Espírito vai realizando nas comunidades e nos cristãos”. A nota fundamental vai, assim, para aquilo que mobiliza os cristãos numa “prática comum”, em particular na Europa, onde se exige que os cristãos “tenham presença organizada nas várias frentes de resolução de problemas e de abertura de horizontes”. A respeito deste tema, o Bispo da Guarda saudou o “bom discurso” de Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, que assumiu a vontade de ter a colaboração dos cristãos, abrindo portas para que o documento conclusivo referisse que “a Europa esteve representada ao mais alto nível”. Presença portuguesa Em relação à presença de cristãos do nosso país, D. Manuel Felício destaca a possibilidade que foi dada para apresentar “o trabalho realizado, sobretudo, ao longo do último ano”, devidamente ilustrado nos locais da AEE. A delegação das várias Igrejas cristãs de Portugal teve ainda um encontro “formal”, onde se vincou o desejo de “continuar o trabalho, em especial junto das comunidades de base, não tanto com grandes conferências ou reuniões, procurando sensibilizar para o diálogo e a cooperação ecuménica junto das comunidades”, com iniciativas concretas. D. Manuel Felício destacou, neste âmbito, que o “modelo de trabalho que se está a realizar no Porto é inspirador para outras dioceses”. A Pastora Eunice Alves, da Igreja Metodista, também destaca este encontro da delegação portuguesa como um grande momento vivido em Sibiu. “Foi um momento muito rico de partilha e de esboço de projectos para o futuro”, afirma. Destes dias na Roménia, a Pastora metodista sublinha os compromissos assumidos no campo da “paz, da promoção da justiça, a busca da unidade” entre os cristãos. Compromissos que “têm de ser postos em prática a partir de agora, nos nossos contextos”. Superar dificuldades Ao longo de cinco dias, cerca de 3 mil representantes de 350 Igrejas e comunidades cristãs estiveram a reflectir conjuntamente sobre o tema “A luz de Cristo ilumina todos. Esperança de renovação e de unidade na Europa”. Sibiu assistiu a duas dinâmicas diferentes que se entrelaçaram durante alguns momentos: por um lado os teólogos e peritos no ecumenismo, pessoas que se encontram regularmente e que assumem um consenso sobre a maior parte dos problemas teológicos; por outro lado, representantes de Igrejas que não estão no centro do movimento ecuménico – como a Igreja Ortodoxa da Rússia ou algumas correntes da própria Igreja romena-, e colocam em questão os consensos ecuménicos, considerados compromissos perigosos. Conhecidas as dez recomendações que os participantes deixaram, no final dos trabalhos, sublinha-se a necessidade de identificar as experiências que melhor podem servir a unidade dos cristãos, como as peregrinações ecuménicas ou o estudo comum da teologia. Num texto de quatro páginas, há poucas referências aos temas que dividem as igrejas cristãs: pede-se que se prossiga o debate sobre o reconhecimento mútuo do baptismo e que sejam organizadas mais iniciativas comuns. No texto onde são visíveis outras preocupações, que passam pela promoção dos direitos dos imigrantes e das minorias étnicas na Europa, um forte apoio aos Objectivos do Milénio das Nações Unidas para reduzir a pobreza no mundo, a regulação da globalização e um compromisso ecológico, no contexto das alterações climáticas – uma espécie de Doutrina Social Ecuménica que se começa a desenhar. Os participantes recomendam que se estude a “responsabilidade europeia pela justiça ecológica, para enfrentar a ameaça da mudança climática”. A declaração pede mesmo que se reserve o período de 1 de Setembro a 4 de Outubro para “a protecção da criação e a promoção de estilos de vida duráveis”. A mensagem final da AEE inclui declaração específica sobre os jovens, o “futuro do ecumenismo”. Esses mesmos jovens escreveram a sua mensagem, onde é possível ler palavras-chave como unidade, testemunho, paz, justiça, migrações ou ecologia – condensando o que foi o espírito das discussões destes dias, na Roménia. Uma crítica muito dura é endereçada pelas novas gerações aos responsáveis eclesiais, pedindo que “deixem de competir entre si e comecem a viver verdadeiramente o Evangelho”, precisando que “não devemos testemunhar as dinâmicas de poder das nossas Igrejas, mas Cristo”. À imagem do que sucede no nosso país, é entre as novas gerações que o dinamismo ecuménico conhece novo desenvolvimentos, um pouco à margem das questões institucionais, teológicas, morais e pastorais que provocam grandes fracturas. A diversidade de perspectivas sobre os vários temas, dentro das Igrejas e comunidades eclesiais, fazem com que haja pontos de acordo entre os que pertencem a Igrejas diferentes, mesmo quando afastados dos que fazem parte da sua mesma comunidade. O desafio, deixado pelo próprio Bento XVI na mensagem que enviou aos participantes da AEE, passa por criar novos espaços de encontro e de “confiança recíproca”, na Europa, para superar divisões seculares e dificuldades recentes, mas cada vez mais complexas. Foto: CCEE-CEC/Ag. Siciliani

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Agência ECCLESIA

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