D. Rui Valério destaca necessidade de «pacto cultural», que respeite os valores fundamentais da sociedade de acolhimento

(Visita ao Bairro do Zambujal, em Lisboa, 17.11.2024)
Lisboa, 16 jul 2025 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa apelou hoje à “compaixão e responsabilidade” no acolhimento de quem chega ao país, defendendo ainda um “pacto cultural”, que respeite os valores fundamentais da sociedade portuguesa.
“Somos chamados a olhar os migrantes com compaixão e responsabilidade, promovendo políticas que respeitem a sua dignidade e os ajudem a reconstruir a vida”, escreve D. Rui Valério, num artigo publicado originalmente no ‘Observador’ e divulgado online pelo Patriarcado de Lisboa.
O responsável católico entende que a questão da imigração se tornou um dos “grandes desafios morais, sociais e políticos” da atualidade.
“Às razões de ordem económica, juntam-se guerras, perseguições, alterações climáticas e desigualdades estruturais. Mas por detrás dos números estão sempre pessoas. E cada pessoa é portadora de uma dignidade inviolável, pois cada homem e mulher é criado à imagem de Deus”, indica.
O patriarca de Lisboa recorda que a doutrina social da Igreja reconhece que “os Estados têm o direito – e mesmo o dever – de regular os fluxos migratórios em função do bem comum”.
“A hospitalidade não pode ser sinónimo de anarquia, porque isso coloca gravemente em risco a dignidade da pessoa humana dos migrantes, que acabam por ser vistos como mão de obra barata, desprotegida e manipulável”, precisa.
Para D. Rui Valério, “o acolhimento deve ser responsável, coordenado e integrado num esforço mais amplo de solidariedade internacional, incluindo o apoio aos países de origem, para que ninguém seja forçado a emigrar por falta de alternativas”.
A reflexão aborda a questão do reagrupamento familiar, que a Igreja defende, precisando que “só pode acontecer com diálogo, cooperação e compromisso”.
O texto evoca a carta do Fórum das Organizações Católicas para a Imigração e Asilo (FORCIM), pedindo “o envolvimento efetivo das organizações que atuam no terreno”.
O patriarca de Lisboa dedica outra parte da sua reflexão ao “impacto cultural da imigração”.
“A convivência só é possível com base num ‘pacto cultural’, que respeite os valores fundamentais da sociedade de acolhimento. Não se trata de impor uma uniformidade, mas de preservar um património civilizacional construído com esforço e sofrimento, e que deve ser proposto como base de integração”, sustenta.
D. Rui Valério refere que Portugal, como outros países europeus, construiu a sua identidade sobre “valores cristãos que modelaram a convivência social: o respeito pela liberdade, a dignidade da vida humana, a igualdade entre homem e mulher, a valorização da família, o princípio da solidariedade”.
“Pode acontecer que nalgumas correntes culturais trazidas por grupos migrantes – ainda que minoritários -, se encontrem visões que atentam contra estes valores, como a subjugação da mulher, práticas familiares incompatíveis com os direitos humanos ou a rejeição da liberdade religiosa. É aqui que surge o compromisso inadiável de verdadeiro e real acolhimento”, realça.
O patriarca de Lisboa declara que a resposta cristã à imigração “não é ceder ao medo nem se entregar a uma ingenuidade”.
“É construir pontes com sabedoria, coragem e firmeza. O verdadeiro acolhimento exige que sejamos fiéis à nossa cultura e à nossa fé, para poder partilhá-las com liberdade e respeito. A integração só é possível quando há verdade, identidade e confiança”, insiste.
A imigração não é apenas uma questão política ou económica. É um exame moral para o nosso tempo. Como cristãos, somos chamados a responder com sabedoria, com compaixão e com responsabilidade.”
O patriarca de Lisboa visitou o Bairro Portugal Novo, nas Olaias, na tarde desta terça-feira, dia 15 de julho, onde “escutou as preocupações dos moradores”.
A visita foi acompanhada pelo pároco ‘in solidum’ (moderador) de São João de Deus, Padre Robson Cruz, paróquia a que pertence este bairro situado entre o Areeiro e as Olaias.
Nesta tarde, D. Rui Valério teve oportunidade de contactar com alguns dos habitantes do Bairro Portugal Novo, também conhecido como ‘bairro azul’, e sublinhou a importância de “todos terem oportunidade de desenvolver as suas capacidades e de terem uma vida digna”, refere o Patriarcado de Lisboa.
As alterações à lei de estrangeiros e a criação da Unidade Nacional de Estrangeiros e Fronteiras (UNEF) na PSP estiveram hoje em votação no Parlamento português, sendo aprovadas com os votos do PSD, Chega e CDS.
OC