Iniciativa quer dar voz às «culturas juvenis emergentes»
Lisboa, 21 jun 2013 (Ecclesia) – A Igreja Católica promove hoje em Fátima a 9.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, para “dar voz aos jovens” e ir encontro da “primeira geração incrédula”, afirmou o padre José Tolentino Mendonça.
“Interessa-nos muito perceber como é que o mundo dos jovens se articula hoje, que procura de sentido da vida fazem, como se abrem à questão da transcendência, que valores são privilegiados” considerou o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, organismo ligado à Conferência Episcopal Portuguesa, em entrevista ao programa ECCLESIA (RTP 2).
Segundo este responsável, os que têm entre 15 e 25 anos de idade vivem numa “mudança de paradigma” que faz deles uma geração “incrédula”, na qual “a fé é sobretudo uma questão de iniciação”.
“A cultura de base não é uma cultura onde o religioso seja um ponto de partida, seja uma herança. Não existem referências religiosas”, precisou.
O padre e poeta madeirense abordou o tema escolhido para a jornada nacional, ‘Culturas Juvenis Emergentes’, sublinhando a necessidade de arriscar “um esforço de tradução”, por parte da Igreja Católica, dando aos mais novos “espaços de expressão e reconhecimento”.
“A linguagem oficial da Igreja é um enigma, absolutamente incompreensível e ilegível para grande parte dos jovens, e isso representa um problema”, declarou.
O responsável frisou, por outro lado, que “grande parte da crise financeira e antropológica que se vive tem uma expressão dramática no mundo juvenil”.
“Hoje a juventude é o lugar de solidão, de incerteza, o lugar de onde se olha o futuro com uma apreensão e um medo enormes. Por isso, há uma espécie de contração da esperança com a qual também é necessário a Igreja dialogar”, sustentou.
O diretor do SNPC entende que a questão do sentido da vida se coloca “dramaticamente” nos jovens, falando na juventude como “um campo de missão” para os católicos.
[[v,d,4008,Jornada Nacional da Pastoral da Cultura]]“Hoje, a juventude é um admirável mundo novo e também um mundo desconhecido, um mundo submerso, porque muitas vezes é olhado como uma subcultura, ‘o mundo dos miúdos’, a que não se pode dar demasiada importância e, de facto, acaba por haver poucas instâncias de diálogo e até de conhecimento da realidade juvenil”, advertiu.
O também vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa destacou a quantidade de “subculturas dentro do mundo juvenil” e a importância de haver “uma sensibilidade para poder mapear, saber o que é” esse universo.
“Há uma grande necessidade de buscar uma identidade e uma afirmação do próprio grupo, dos seus códigos e gramáticas, mas ao mesmo tempo há uma dispersão muito grande. Por isso é que é tão difícil falar da juventude”, observou.
Entre os intervenientes na Jornada Nacional da Pastoral da Cultura vai estar o sociólogo José Machado Pais, investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais de Universidade de Lisboa.
O encontro, dividido em conferências, mesas-redondas e momentos artísticos, conta também com o sacerdote jesuíta José Frazão, o cantor e compositor Manuel Fúria, a atriz Inês Nogueira e o ator Miguel Loureiro, além do presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. Pio Alves.
Durante a jornada vai ser entregue, pela nona vez, o ‘Prémio de Cultura Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes’, desta feita a Roberto Carneiro, antigo ministro da Educação.
PR/OC