Portugal: «Estamos num momento profundamente difícil para as democracias», afirma reitora da Católica

Isabel Capeloa Gil considera as comemorações dos 50 anos do 25 de abril como oportunidade para debater as «vantagens» e a «degradação» da transição democrática

Foto Agência ECCLESIA

Lisboa, 03 fev 2024 (Ecclesia) – A reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP) afirmou que há uma “crise de confiança nas instituições”, o discurso público “está completamente contaminado” e considera que as democracias vivem um momento “profundamente difícil”.

“No contexto europeu estamos num momento profundamente difícil para as democracias”, disse Isabel Capeloa Gil em entrevista à Agência ECCLESIA.

A reitora da UCP alertou para a “crise de confiança nas instituições” que se vive na sociedade europeia, referindo que “o ressentimento e o desencanto das pessoas com as condições de vida provoca um esboroar das instituições que muitas vezes não estão à altura daquilo que delas se exige”.

“Não é um epifenómeno, é algo sistémico. E isso é algo mais problemático”, sublinhou.

Isabel Capeloa Gil disse que os casos de justiça que envolvem responsáveis políticos “são sintomas de que algo não está bem”, refletindo-se na “degradação dos serviços públicos, na educação, na saúde”.

Nos anos depois da democracia, depois de uma transformação absolutamente necessária para que os portugueses pudessem ambicionar a ter uma maior educação, a convergir com a Europa em termos de crescimento económico, de valor criado, de estabilidade social, os últimos naos não têm sido anos bons”.

A reitora da UCP considera que “o discurso público está completamente contaminado, entre o que é verdadeiro e o que é falso, o que surge nas redes sociais, o descréditos dos meios tradicionais de divulgação da informação” e alerta para a necessidade de valorizar a “transição democrática”.

“É bom as pessoas recordarem o que é que representa a transição democrática e debater, sem manipulação, o que são as vantagens e também o que foi a degradação, o que está mal na sociedade portuguesa e o importante que é acariciar e acarinhar a democracia”, sublinhou.

Para sustentar a democracia, a reitora da UCP afirma que é necessário uma “opinião pública capaz de esgrimir, de forma civilizada, argumentos sólidos e propostas diferenciadas para a sociedade”, a existência de “media independentes que não se deixam manipular” e “sistemas de educação robustos que permitem preparar as pessoas para diversidade de pensamento e de opiniões”.

Lembrando que “a UCP é apolítica”, nomeadamente as associações de estudantes, Isabel Capeloa Gil defende que a universidade eduque “para uma cidadania responsável”, uma das missões da instituição.

“Ser um cidadão responsável significa ter a capacidade de discernir o que são as propostas dos partidos que, no âmbito da nossa democracia muito colorida, tem propostas para a sociedade: poderem escolher, debater com os políticos e poder fazer escolhas em consciência”, afirmou.

A reitora da Católica referiu-se ao incidente que envolveu um jornalista e estudantes da universidade, por ocasião de um debate com um líder partidário, considerando que “foi um incidente muito infeliz” que “está a ser averiguado”.

“Está a ser averiguado ensina-nos a todos que o jogo democrático tem regras e essas regras democráticas devem ser assumidas por todas as partes: os jovens, as associações, e sobretudo os partidos políticos e também o jornalismo. Fazemos todos parte do ecossistema”, afirmou.

A entrevista a Isabel Capeloa Gil é emitida este domingo no programa 70×7 (na RTP2, às 17h30) quando se assinala, por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa, o Dia da Universidade Católica.

PR

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Agência ECCLESIA

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