Professor Joaquim Cadete falou para Semanário ECCLESIA sobre o tema «Há justiça nos Impostos?»
Lisboa, 07 out 2016 (Ecclesia) – O docente universitário Joaquim Cadete, mestre em Economia Monetária e Financeira, considera que ultimamente a discussão centra-se na redistribuição da riqueza o que “evidencia a necessidade de mudar o tópico” para “como produzir e criar mais riqueza”.
“Hoje, existe uma grande dificuldade, em se fazer uma destrinça imparcial entre o que é a posição de sacrifício de alguém e o que é a redistribuição para alguém. Esse é o debate e precisamos fazer conversa calma com todos os principais intervenientes no processo de decisão e infelizmente essa calma não tem reinado”, disse o professor à Agência ECCLESIA.
Joaquim Cadete explicou que o seu receio é que se esteja a “focar apenas na redistribuição” sem perceber que nessa trajetória “o bolo vai ser menor e a justificação é óbvia”.
O mestre em Economia Monetária e Financeira observa que se as famílias vivem com dificuldades para continuarem a garantir condições de ensino, de saúde, “vão ter de contratar créditos”, bem como as empresas que também têm dificuldades, “inevitavelmente, no final do ano, vão ter de contratar créditos”.
“O problema da dívida que o país defronta é a decorrência de anos sistemáticos em que quer famílias, quer empresas viveram com dificuldades. Adicionalmente, o Estado para tentar socorrer foi-se progressivamente endividando”, desenvolveu.
Para o entrevistado se não existir uma mudança no debate de “redistribuir para tentar produzir”, inevitavelmente, a prazo não vai haver um “grande bolo de produção e quanto menor for mais difícil se torna”.
Segundo o também mestre em Ciência Política e Relações Internacionais, nos últimos 10 anos e meio, “muitas empresas foram incapazes de se adaptar ao mundo global” e foram “contratando, progressivamente, dívida” para manter a sua atuação que “já não era válida” e “foram-se endividando e muitas colapsaram” nos primeiros anos da assistência.
Neste contexto, sublinha a importância de chegar a um acordo no que é a linha da Doutrina Social da Igreja “envolvendo todos em partilha de ganhos mais do que tentar imputar ganhos a uns e afetação de custos a outros”.
A proposta de Orçamento do Estado para 2017 vai ser apresentada pelo Governo no dia 15 de outubro e se o docente fosse chamado a participar, com a Doutrina Social da Igreja, considera que o ponto “acima de tudo, é perceber” que a “dita” classe média começa a estar, “claramente, sobrecarregada de impostos”.
Outro ponto central é a questão de se a tributação não começa “a afastar potenciais investidores” e, adicionalmente, a provocar uma “mudança cultural nas próprias elites portuguesas”.
Alertando também para o populismo político, que considera estar a crescer na Europa, Joaquim Cadete refere que está a ganhar o “valor simbólico do lado político” enquanto o “valor efetivo do lado económico ou financeiro é praticamente nulo”, e o tempo está a passar.
Jesus disse ‘não podeis servir a Deus e ao dinheiro’, o docente considera que na realidade “é tentar nas coisas do dinheiro usar os princípios de Deus”, na medida do possível, na Doutrina Social da Igreja.
“Nesse contexto, devemos procurar ser o mais justo naquilo que é a imposição dos sacrifícios e na redistribuição do que possa ser sacrifício de alguém”, sublinha Joaquim Cadete.
Subordinado ao tema ‘Há justiça nos Impostos?’, o Semanário ECCLESIA publicado hoje insere-se na conferência sobre ‘Sistema fiscal e justiça social’, que vai ser promovida pela Comissão Nacional Justiça e Paz no dia 22 de outubro, e também na proximidade da apresentação do Orçamento de Estado para 2017.
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