Portugal é co-responsável pela pobreza em África

Irmã Begoña Iñarra denuncia enriquecimento de companhias ocidentais e proprietários locais à custa dos agricultores

Lisboa, 23 mai 2012 (Ecclesia) – A religiosa espanhola Begoña Iñarra, secretária executiva da Rede Fé e Justiça África Europa, afirmou hoje que Portugal é responsável pelo empobrecimento dos camponeses africanos ao financiar a produção de combustíveis biológicos nos seus países.

“Portugal, seguindo a prática dos países membros da União Europeia, está a dar subsídios às companhias produtoras de biocarburantes, dado que na Europa não há terrenos disponíveis para essas culturas”, denunciou a responsável em declarações à Agência ECCLESIA.

A aquisição por parte de proprietários locais e companhias estrangeiras de vastas áreas de terreno para a produção de combustíveis e alimentos, destinados à exportação, constitui a principal preocupação da organização cristã, que tem como objetivo pressionar as instituições europeias para os problemas económicos em África.

“Os compradores prometem emprego aos camponeses que ficaram sem as terras mas não o dão porque a maior parte da mão de obra é substituída por trabalho mecanizado”, explicou, acrescentando que a verba recebida pelos agricultores, quando são indemnizados, “chega-lhes para um ano, não mais”.

Os salários e condições laborais da população que continua a trabalhar nos campos adquiridos pelas multinacionais são escassas, como acontece com uma companhia dos EUA conhecida pela produção e exportação de bananas, que comprou uma empresa do mesmo ramo nos Camarões.

“Os camponeses, que trabalham desde as cinco e meia da manhã até às cinco da tarde, e alguns à noite, têm ordenados miseráveis, abaixo do salário mínimo”, apontou a religiosa, que destacou a diferença entre o preço de produção, 15 cêntimos por quilo, e de venda, 1,60 euros em Inglaterra, um aumento superior a mil vezes.

A secretária executiva referiu igualmente que o preço dos bens alimentares está a crescer, não por falta de chuva mas porque os mercados estão a aplicar os seus recursos na compra de alimentos e terrenos, investimentos mais seguros do que a construção e outros setores, cujo valor caiu nos últimos anos.

A responsável pretende que a delegação portuguesa da Rede Fé e Justiça pressione os responsáveis políticos nacionais para que eliminem os subsídios às companhias produtoras de biocarburantes e se empenhem, no seio da União Europeia, na elaboração de uma “moratória sobre a venda das terras, se os governos africanos estiverem de acordo”.

A irmã Begoña Iñarra profere esta tarde, nas dependências da Basílica dos Mártires, em Lisboa, uma conferência sobre a missão da sua instituição, e pelas 18h00 desloca-se à Livraria Ferin para uma intervenção intitulada ‘Olhares Cruzados sobre África’, moderada por Paulo Rocha, diretor da Agência ECCLESIA.

A Rede Fé e Justiça está também comprometida na generalização em África de medicamentos genéricos, “muito mais baratos”, e pressiona a União Europeia para exercer maior controlo sobre as armas exportadas para o continente.

A organização, que envolve cerca de 170 congregações religiosas, das quais duas dezenas são portuguesas, está igualmente empenhada na defesa dos direitos dos trabalhadores e na salvaguarda do meio ambiente, procurando que os atropelos às normas internacionais sejam apresentadas nos tribunais dos países onde as companhias infratoras estão sediadas.

RJM

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