Portugal: Doença mental não pode continuar a ser «o parente pobre» da Saúde

Vítor Cotovio realça a necessidade de integrar mais esta área nos restantes cuidados médicos

Lisboa, 10 out 2017 (Ecclesia) – O médico Vítor Cotovio, diretor clínico do hospital psiquiátrico Casa de Saúde do Telhal, diz que Portugal precisa de mudar a forma de intervir na doença mental, que “é muitas vezes o parente pobre” nos cuidados de saúde.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, no âmbito do Dia Mundial da Saúde Mental que hoje se assinala, aquele responsável recordou que o nosso país é um dos territórios na Europa onde “a prevalência da doença é maior”.

Um estudo recente da Direção Geral de Saúde apontou Portugal como o país do Velho Continente com maior número de casos de perturbações mentais, como destaque para quadros clínicos como a depressão ou a esquizofrenia, esta última a afetar cerca de 100 mil portugueses.  

Vítor Cotovio alerta para um contexto que se tem vindo a agravar ao longo dos últimos anos e que necessita de uma nova estratégia, que tenha em conta todo o processo de acompanhamento das pessoas.

Desde “os cuidados continuados” aos “cuidados primários”, a assistência “nos centros de saúde” e a “psiquiatria da infância e da adolescência”.

“Uma área muito carenciada e que é fundamental que existam serviços distribuídos geograficamente da forma mais completa possível”, sublinhou.   

Vítor Cotovio alertou também para a urgência de combater o “estigma” que muitas vezes faz desta doença uma realidade escondida e, consequentemente, “complica o prognóstico” que tem de ser feito.

“O preconceito, a discriminação, o estereotipo sempre esteve muito associado à doença mental”, apontou o médico, acrescentando que normalmente “entre o primeiro surto de uma doença e a primeira vez que a pessoa recorre aos serviços de saúde mental vai uma distância muito grande”.

“É da responsabilidade todos, e da comunicação social também, desmontar progressivamente o estigma da doença mental para que as famílias, que têm muitas vezes um ónus complexo por terem uma pessoa com doença mental, nomeadamente se for uma doença mental mais grave no seu seio, se sintam à vontade para procurar os serviços”, sustentou.

Atualmente, muitos casos de saúde mental, sobretudo os mais “graves e complexos”, são encaminhados para instituições ligadas à Igreja Católica, como o hospital psiquiátrico Casa de Saúde do Telhal, ligado à Ordem Hospitaleira de São João de Deus.

Para Vítor Cotovio, “é fundamental dar mais condições” financeiras a estes e outros organismos, no sentido de poderem continuar a corresponder às necessidades “dos utentes e das famílias”, e favorecer o acesso à “informação”, à “literacia na saúde mental”.

No horizonte está um novo plano nacional para a saúde mental até 2020.

Vítor Cotovio, que faz parte do Conselho Nacional para a Saúde Mental, espera que este plano abra novas perspetivas para quem sofre com esta doença, e também para os profissionais que os apoiam, nomeadamente através de uma maior implicação a nível governamental.

“É proposto que exista uma coordenação nacional para a implementação do plano, que não existia antes porque mesmo politicamente a saúde mental é sempre tendencialmente o parente pobre”, reforçou.

O Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala a 10 de outubro, tem este ano como tema ‘Dignidade na Saúde Mental: Primeiros Socorros de Saúde Mental e Psicológica para Todos’.

A iniciativa, que visa chamar a atenção pública para a questão da saúde mental global, foi lançada em 1992 pela Federação Mundial de Saúde Mental.

PR/JCP

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Agência ECCLESIA

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