Portugal: Diretora da Obra Portuguesa das Migrações «chocada com os relatos» do relatório sobre «discurso de ódio e imigração» (c/vídeo)

Eugénia Quaresma convida a «limpar as lentes do preconceito», que só se consegue «na relação», e a uma «cidadania ativa»

Lisboa, 06 fev 2025 (Ecclesia) – A diretora da Obra Portuguesa das Migrações (OCPM) revelou-se “chocada” ao ler o Relatório ‘Discurso de Ódio e Imigração em Portugal’, da Casa do Brasil de Lisboa, “com os relatos de algumas pessoas que sofreram e sofrem diariamente”.

“Algo que me chamou a atenção, os canais de denúncia que não são muito eficazes e 76% das vítimas não relata, ou por medo, ou pelo sentimento de impunidade, ou sente que não vai haver consequências, ou porque não é levada a sério”, disse Eugénia Quaresma, esta quinta-feira, 6 de fevereiro, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A Casa do Brasil de Lisboa (CBL) produziu o relatório ‘Discurso de Ódio e Imigração em Portugal 2024’, e explica que o diagnóstico do projeto #MigraMyths – Desmistificando a Imigração (5ª edição) revela que a “perceção social que o discurso de ódio contra pessoas migrantes em Portugal aumentou, tornando-se também mais violento”.

Seguindo a tendência das edições anteriores, o novo relatório, apresentado na segunda-feira, dia 3, indica que “as vítimas raramente apresentam denúncias”, apenas 24% reportam, “uma tendência também se verifica noutros países”.

Segundo o relatório ‘Discurso de Ódio e Imigração em Portugal 2024’, a xenofobia foi o tipo de discurso de ódio “mais percecionados, representando 80,4% dos casos”, seguido do “ódio racial, com 10,4%”.

A diretora da OCPM, obra da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), destaca que “há um trabalho que é importante fazer” e que, acredita, está “ao alcance de qualquer cidadão”.

“Não é só a política que nós reservamos para os políticos e para o Estado, mas também a cidadania ativa. Parte de cada cidadão a atenção ao modo como eu olho para o outro e como eu o trato, limpar as minhas lentes do preconceito, só se consegue na relação”, desenvolveu.

O documento analisa o discurso de ódio contra as pessoas migrantes “online e offline” e explica que no online “a principal plataforma de disseminação é a rede social Instagram (36,9%)”, enquanto os principais locais de discurso fora da internet “são os serviços públicos (15,6%), particularmente nos centros de saúde (15,2%), universidades (12,8%)”, e nos serviços privados destacou-se a “restauração (22,8%)”.

Foto: Casa do Brasil de Lisboa

No relatório ‘Discurso de Ódio e Imigração em Portugal 2024’, do projeto #MigraMyths – Desmistificando a Imigração (5ª edição), foram publicados vários testemunhos desse discurso, e Eugénia Quaresma ficou “um bocadinho chocada” com o que “algumas pessoas sofreram e sofrem diariamente”.

“É também pelo cidadão comum, não é só uma coisa de serviços ou de estrutura ou de políticas. Portanto está ao nosso alcance fazer alguma coisa para melhorar”, acrescentou a diretora da Obra Portuguesa das Migrações, no Programa ECCLESIA, transmitido esta quinta-feira, na RTP2.

O relatório da CBL, associação fundada em 1992, informa que foram auscultadas “262 pessoas” migrantes – “74,4% do sexo feminino; a nacionalidade brasileira mantém-se como a mais representativa, correspondendo a 83,6% das pessoas inquiridas – as mudanças observadas “refletem transformações sociais, políticas e mediáticas”, desde 2021.

Eugénia Quaresma comentou também a carta aberta com ‘recomendações sobre Migrações e Desenvolvimento’, que 37 organizações da sociedade civil em Portugal, também da Igreja Católica incluindo a OCPM, “instituições que trabalham o direito a não emigrar”, dirigiram a três ministros do Governo português, da Presidência, da Administração Interna e dos Negócios Estrangeiros, no dia 29 de janeiro.

HM/CB/PR

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