José Miguel Sardica destaca discurso próprio dos católicos na vida política
Lisboa, 25 abr 2015 (Ecclesia) – O diretor da Faculdade de Ciências Humanas, da Universidade Católica Portuguesa (UCP) comenta que antes e durante o 25 de abril de 1974 na hierarquia e no laicado da Igreja Católica houve quem simpatiza-se e fosse contra as opções políticas.
“Aquela velha imagem que havia cumplicidade entre a hierarquia da Igreja e Salazar, ou o regime politico, que chegou até 1974, hoje já não tem sentido”, destaca José Miguel Sardica.
À Agência ECCLESIA, o comentador considera que é “fácil perceber” qual a foi a atitude da hierarquia da Igreja perante o antigo regime que era autoritário mas adianta mesmo ai “houve divisões e fissuras”, com uma parte mais identificada e outra que simpatizava com os leigos católicos leigos que fizeram “campanha contra a guerra, o atraso económico, contra os aspetos políticos ditatoriais que existiam”.
Desta forma, destaca que os católicos eram parte “muito significativa do país em geral” e mais do que referir no singular deve-se considerar uma “diversidade enorme” entre a hierarquia e o laicado católico.
Para José Miguel Sardica, a palavra “adesão” não é a certa para se referir à relação entre Igreja e política porque esta “tem um discurso” que é a sua Doutrina Social (DSI) que “é indiferente aos regimes mas não ao conteúdo desses regimes”.
“Aos católicos é pedido que se envolvam na construção de ordem social nova, democrática, livre”, indica o docente e nesse sentido, a ideia era “aproveitar a oportunidade” para que a DSI pudesse em democracia e liberdade “sair à rua” no sentido de “influenciar as decisões políticas que iam ser importantes”.
“Se a mudança traz a liberdade nada deve mais alheio a um católico do que liberdade no seu sentido mais filosófico, inspirador, humano”, observou o diretor da Faculdade de Ciências Humanas da UCP.
Para o professor José Miguel Sardica, hoje continuam a existir exemplos e ações dos católicos, como o Manifesto dos 101 Católicos (1965) ou a vigília na Capela do Rato, na transição de 1972 para 73, mas a agenda dos meios de comunicação social está “muito mais cheia com muitas outras coisas”.
“Por outro todos esses atos, desde 1960 a 1973/74, como aconteciam numa sociedade fechada tornavam-se mais impactantes. Hoje os católicos mexem-se, a forma não é importante”, acrescentou.
Para o docente, importante é sentir que de facto existem organizações, grupos de leigos que contactam “livremente” com pessoas que precisam de ter “ajuda financeira, social, emocional” porque “há 40 anos a ordem política deixou de ser autoritária e passou a democrática”.
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