Portugal: Crise política vai «agravar sofrimento» dos mais desfavorecidos (actualizada)

Fórum Abel Varzim deixa apelo à participação dos cristãos para uma «revolução» na sociedade. Bispos falam em mudança

Lisboa, 23 Mar (Ecclesia) – O Fórum Abel Varzim (FAV), organização centrada na problemática social e do desenvolvimento, considera que uma crise política em Portugal vai “aumentar o sofrimento de muitos”, depois de uma longa crise financeira.

O Parlamento discute hoje a nova versão do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC 4), que poderá abrir caminho a uma crise política e levar à demissão do primeiro-ministro, José Sócrates.

“Ninguém duvida que esta crise política, no imediato e até no curto prazo, venha agravar a situação económica e a aumentar o sofrimento de muitos e, em particular, dos mais desfavorecidos”, assinala o FAV, em documento publicado na sua página oficial.

Em entrevista à Lusa, o bispo do Porto defendeu hoje que é preciso “levar a sério” as manifestações de quem luta por um futuro melhor e pediu maior capacidade mobilizadora a quem tem responsabilidades políticas.

 “Ou nós sentimos que isto é com todos e cada um faz o que lhe compete, e os políticos fazem também aquilo que nós lhes incumbimos que façam, ou então se ficamos à espera que venha alguma salvação do grupo A, do grupo B, do político A, do político B, sem nunca resolveremos o problema”, observou D. Manuel Clemente.

Esta terça-feira, em declarações à RR, o bispo da Guarda, D. Manuel Felício, lamentava que o país esteja “parado” e apelava à necessidade de uma “democracia participativa”, considerando que “o grande capital com que se há-de construir o futuro do país não vem dos bancos, mas sim das pessoas”. 

O prelado não tem dúvidas de que “virá um PEC 5”, mas sublinha que o que falta a Portugal é “um projecto comum”, em volta do qual todos se possam mobilizar.

D. Januário Torgal Mendes Ferreira, bispo das Forças Armadas e de Segurança, assinalava na sua última crónica semanal «Ao Compasso do Tempo» que “não faltam interrogações sobre o momento actual”.

“A configurarem-se alterações ou alternativas, é perfeitamente consequente que se pergunte, a propósito de casos concretos, o que se vai registar de novo”, escreveu.

O PEC proposto pelo Governo e os projectos de resolução de rejeição ao Programa vão ser debatidos na Assembleia da República a partir das 15h00.

Para o FAV, existe o risco de o país ficar “sem soluções à vista”, defendendo a necessidade de uma “«revolução» profunda das mentalidades e das posturas, de forma generalizada”.

“Que bom seria se o exercício do poder, bem como a prática da oposição a esse poder, fosse realizado por pessoas que acreditam que a busca de consensos é um princípio a ser continuamente procurado, mesmo em prejuízo das ideias próprias”, indica o documento.

O FAV assinala ainda que “os crentes, e em particular os que se reclamam de formação Cristã, deveriam ter um papel importante” na “mudança de mentalidade” e na “superação desta crise de valores”.

O Fórum nasceu na sequência da realização, em 1994, de um seminário integrado na homenagem ao padre Abel Varzim (1902-1964), que teve lugar por ocasião do trigésimo aniversário da sua morte e pretende “dar continuidade à obra que desenvolveu, como sacerdote e cidadão, na procura de uma maior justiça social e na defesa intransigente da dignidade humana”.

OC

Notícia actualizada às 13h00

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