«A mensagem do Natal é de paz e seria bom para todos» – padre João Gonçalves
Aveiro, 20 dez 2018 (Ecclesia) – O coordenador da Pastoral Penitenciária da Igreja Católica em Portugal espera que os sindicatos dos guardas prisionais e o Governo cheguem o mais depressa possível “a acordo para bem de todos”, no que toca à greve que está em marcha nos estabelecimentos prisionais.
“O Natal não é um momento indiferente em Portugal com a nossa tradição e educação. A maior vivência da espiritualidade também ajudaria os presos a manterem-se serenos e calmos. O Evangelho, a mensagem de Jesus Cristo, do presépio, a mensagem do Natal, é de paz e seria bom para todos”, afirmou hoje o padre João Gonçalves, que lembra que o Natal “é quando o homem quiser” mas “é agora” que se celebra.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o sacerdote de Aveiro assinala que, para além da assistência religiosa e espiritual, as greves estão a privar os reclusos de outros direitos, como “estarem com as famílias mais tempo, de telefonarem com mais frequência, até mesmo de tomarem uma refeição, como é habitual em algumas prisões, com as famílias”.
O coordenador nacional da Pastoral Penitenciária observa que os reclusos não vão receber “pequenas prendas” que são “símbolos de carinho”, que muitos visitadores voluntários tinham comprado e alguns grupos também compram presentes para os reclusos oferecerem “aos seus filhos no dia de Natal ou nas visitas de Natal.
“Há até dinheiro envolvido na aquisição das ofertas para os reclusos, como é habitual nos anos anteriores. Pequenos gestos de carinhos que ajudariam os reclusos a viver com mais serenidade; “Todo este gesto iria reforçar a vida familiar mas não está permitido”, desenvolveu.
O padre João Gonçalves reforça que, se as greves continuarem como anunciadas, até ao início do mês de janeiro de 2019, existirão outras ocasiões de celebração, como a festa dos Reis, “mas o Natal é agora”.
O Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional e o Sindicato Independente do Corpo da Guarda Prisional querem a revisão do estatuto profissional, e reivindicam também a progressão das carreiras, novas admissões, a atualização da tabela remuneratória e a alteração dos horários dos guardas.
O padre João Gonçalves apela às partes em diálogo para que se sentem e “cheguem a acordo o mais rápido possível”.
“A economia não é a única coisa importante num país. Não quer dizer que o Governo dê tudo quanto se pede, as greves são para provocar o diálogo, a concentração, chegar a acordo e isso parece importante que se faça”, sustenta o «padre das prisões» da Diocese de Aveiro.
A assistência religiosa fazia parte dos serviços mínimos a serem garantidos aos reclusos nos períodos de greve, algo que deixou de ser consagrado em 2014, com o novo Estatuto do Pessoal do Corpo da Guarda Prisional.
O coordenador nacional da Pastoral Penitenciária pretende que os ministros das diversas religiões, com a revisão do Estatuto da Guarda Prisional, “sobretudo no que se refere ao direito à greve”, possam de “novo integrar” a assistência religiosa e espiritual como “direito mínimo a garantir”.
“Não podemos ser tão radicais. Não se trata de fazer proselitismo nas cadeias, mas levar aquela paz do presépio, do mandamento novo do amor, do perdão”, acrescenta sobre uma linguagem que “faria muito bem e ajudaria a viver estes valores”.
O padre João Gonçalves lembra que enquanto continuar a greve os “irmãos reclusos ficam privados de alguns direitos” e o da Assistência Religiosa e Espiritual, que “não é um direito qualquer”, está previsto na Constituição da República Portuguesa, como o direito à greve.
O direito à greve está integrado nos ‘Direitos, liberdades e garantias de participação política’ e a liberdade de consciência, de religião e de culto dentro dos ‘Direitos, liberdades e garantias pessoais’, ou seja, está relacionado “com o que a pessoa é, deseja, o que a pessoa quer”.
Sobre as greves dos guardas prisionais, o coordenador da Pastoral Penitenciária da Igreja Católica em Portugal realça ainda positivamente o “equilíbrio da comunicação social” e aproveita para “elogiar esse aspeto bom, que têm relatado muito bem e com serenidade”.
“[Meios de Comunicação Social] Têm publicado coisas apreciáveis e que ajudam a criar mentalidade para que os muros das prisões não separem as pessoas tão radicalmente mas aproximem”, concluiu o padre João Gonçalves, que tem mais de 40 anos de serviço nas cadeias.
CB/JCP