Américo Monteiro lamenta situações de exploração de trabalhadores imigrantes e perda de poder de negociação coletiva
Lisboa, 22 jan 2023 (Ecclesia) – O coordenador nacional da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC/MTC) defende que o aumento salarial deste ano deveria ser “à volta dos 10%”, para responder à escalada da inflação.
“Num ano tão duro como este, convinha haver alguma melhoria e não só a atualização ou não só perto da atualização”, referiu Américo Monteiro, convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, publicada e emitida aos domingos.
O responsável participou este sábado na Conferência Anual da Comissão Nacional Justiça e Paz, que colocou em diálogo empresários e trabalhadores cristãos na defesa de “salários justos contra a pobreza”.
Américo Monteiro considerou “evidente que qualquer aumento que não supere os 8% é perda de poder de compra”.
“Noutros anos, em que as condições não eram más, em termos de inflação, os trabalhadores, a maioria dos trabalhadores, tiveram aumentos inferiores à inflação. Ora, com a inflação a este nível e a perda de salários que foi decorrendo durante os anos de crise que vivemos, tem de se pensar nisto de uma outra forma”, justificou.
O coordenador da LOC/MTC entende ser necessária “uma distribuição da riqueza mais concreta”, com intervenção dos “poderes instituídos”.
“Não podemos estar a analisar os custos do salário hoje, numa empresa, aos mesmos níveis de há 20 ou 30 anos”, adverte.
O entrevistado admite que o salário mínimo nacional “tem dado um bom salto”, nos últimos anos, mas realça que o combate à pobreza se faz com rendimentos superiores a essa referência, recordando que “metade dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal ganham um salário até 800 euros”.
Há que reconhecer que o salário mínimo nacional tem puxado os salários mais baixos para cima, mas nós temos um problema muito grave em Portugal, que é a escassez de negociação coletiva”.
A entrevista aborda as denúncias sobre exploração de trabalhadores imigrantes no país, admitindo que, acima de tudo, este é “um problema de falta de reconhecimento, de igualdade com as pessoas”.
“Para nós são trabalhadores como os portugueses e devem ter os mesmos direitos, devem ser considerados como tal. E se os empregos são sazonais, tem de haver outras compensações que ultrapassem isso”, aponta Américo Monteiro.
Para o responsável da LOC/MTC, este é um “tipo de exploração que hoje não é concebível”, que retira a liberdade e as condições “mínimas” de dignidade de vida a estes trabalhadores.
“Isso é um tipo de escravatura que nenhum país deve aceitar que ocorra”, adverte.
Questionado sobre o lugar que estas questões ocupam na reflexão católica, Américo Monteiro lamenta que, no atual processo sinodal, convocado pelo Papa, “as questões laborais quase não apareçam”.
“Na própria Igreja, nas suas dinâmicas normais os trabalhadores estão muito afastados”, lamentou.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)