Portugal: Comunidades são «pouco acolhedoras dos jovens» considera editor dos salesianos

Padre Rui Alberto comenta «debandada» da juventude referida pelo Papa

Lisboa, 22 set 2015 (Ecclesia) – O padre Rui Alberto, salesiano, considera importante que uma parte “tão grande” da mensagem do Papa Francisco aos bispos portugueses seja “dedicada” à “fé das novas gerações” e alerta que há comunidades “pouco acolhedoras dos jovens”.

“Se calhar temos comunidades pouco acolhedoras dos jovens. Isso nota-se em pequenas e grandes coisas. Somos uma Igreja que não aprecia demasiado os seus jovens pela sua irreverência, pelas contradições, pela sua criatividade, às vezes até pela sua má-educação”, comenta o sacerdote em entrevista à Agência ECCLESIA.

“Somos muito bons a dar o sinal que os jovens não são muito bem-vindos cá em casa”, alerta o padre Rui Alberto.

O também diretor da Edições Salesianas considera que a intervenção de Francisco aos bispos portugueses, na visita ‘Ad Limina’, pretende “ser sinal de alerta, abanar as consciências” e acabar com um certo “imobilismo” que existe na Igreja para juntos se procurar e construir “novas formas, soluções”.

Para o sacerdote da Pia Sociedade de São Francisco de Sales o facto de o Papa repetir temas que foram alertas na visita ‘Ad Limina’ de 2007, com o Papa emérito Bento XVI, como os itinerários de formação cristã, revela que não se “evoluiu muito”.

“É evidente que há situações novas na sociedade como a questão da pós-modernidade, os jovens nativos digitais que não existia no passado. Mas é verdade que a nossa Igreja em Portugal, mormente nesta área, está tudo como dantes”, observa.

Segundo o padre Rui Alberto há “pouca inovação” e um clima pouco “propício à inovação e criatividade”.

À preocupação com a afirmação do Papa Francisco sobre a “debandada da juventude” da Igreja, o sacerdote salesiana prefere alegra-se com o facto de a mensagem dedicar uma “talhada tão grande” à questão da fé nas novas gerações, o que revela preocupação.

O entrevistado defendeu este ano uma tese de doutoramento no âmbito da Teologia com especialidade em Pastoral Juvenil e Catequética onde estudou a forma como os adolescentes portugueses que frequentaram ou não a catequese “vivem hoje a fé”.

Das 1250 entrevistas realizadas para o doutoramento a maioria, “cerca de 800”, foi a quem fez os 10 anos de catequese, depois “umas centenas” a quem fez entre quatro a seis anos e o mesmo número a quem não frequentou ou apenas fez um ano ou dois.

Segundo o especialista, quem faz o percurso catequético todo é uma percentagem “relativamente reduzida de 10-12% de jovens” mas que é em “todos os indicadores diferente” dos restantes dois grupos.

“Vê-se na imagem de Deus; nas práticas de oração pessoal, de Eucaristia dominical, nos padrões éticos, nos mecanismos de socialização religiosa”, revela o padre Rui Alberto.

Neste contexto, o diretor das Edições Salesianas observa que a abordagem do Papa é mais “binário – sim, não” – e na sua análise “os jovens estão indo, muito no gerúndio”.

“Concordo com o Papa na falta de ofertas qualificadas de acompanhamento. Aos 18 anos quando há um mundo novo a acontecer – trabalho, faculdade, desemprego, namorados – as pessoas estão um bocadinho desamparadas”, exemplifica.

A tese de doutoramento do padre salesiano no âmbito da Teologia, especialidade em Pastoral Juvenil e Catequética, tem como título ‘Believing in God. An empirical-theological study of social representations among adolescents in Portugal’ (Acreditar em Deus. Um estudo empírico-teológica das representações sociais entre adolescentes em Portugal).

PR/CB

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Agência ECCLESIA

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