Organismo da Igreja rejeita classificação de «potenciais terroristas» para pessoas que fogem da guerra
Lisboa, 14 set 2015 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) publicou hoje a nota «O que fizeste do teu irmão», sobre o acolhimento de refugiados, onde alerta que estes “não são potenciais terroristas” e muitos fogem da “violência gerada pelo fundamentalismo”.
“É verdade que também entre nós há quem passe por dificuldades e situações graves de pobreza. Mas as situações de onde fogem estes refugiados, que os fazem assumir os riscos que assumem, são, de um modo geral, muito mais graves do que aquelas com que nos deparamos em Portugal”, escreve a CNPJ.
No documento, o organismo da Igreja Católica contextualiza que quando os refugiados “batem à porta” não se podem reagir “com indiferença”.
A CNPJ concorda que, “como já foi afirmado”, este é um “desafio” à Europa como comunidade de valores que se quer ser fiel às raízes cristãs da cultura europeia “não pode reduzir-se a uma proclamação formal” ou à conservação de sinais externos.
“É, acima de tudo, adotar comportamentos coerentes com a mensagem cristã”, alerta, observando que não existe essa coerência quando se recusa o acolhimento de refugiados por “não partilharem a fé cristã”.
A Comissão Nacional Justiça e Paz destaca que a “novidade” do cristianismo “reside no amor universal” que não faz aceção de pessoas, por isso, a defesa da identidade europeia “não pode servir de pretexto” para distinguir entre refugiados cristãos perseguidos por causa da é e os outros refugiados.
“A Europa não pode pretender ser um oásis de paz e prosperidade, protegido por fronteiras ou muros, num mundo onde prevalece a guerra e a pobreza. No mundo globalizado de hoje, o que acontece no Médio Oriente em África ou noutras zonas do globo tem sempre repercussão na Europa, e este êxodo de refugiados comprova-o”, desenvolve.
O organismo laical considera também que de “modo imediato” é preciso “buscar incessantemente” o fim das guerras de onde fogem os refugiados – Síria; Iraque; Líbia; Sudão – e “pôr termo ao fornecimento de armas que alimenta tais guerras”.
“A solução definitiva não passa, pois, pela fuga contínua”, acrescenta a CNPJ que relembra os apelos dos representantes das Igrejas presentes na Síria e no Iraque “preocupados com o fim” da presença secular dos cristãos nesses países.
O organismo da Conferência Episcopal Portuguesa integra a Plataforma de Apoio aos Refugiados e comenta que é importante que “este espírito cresça cada vez mais” no âmbito de uma “educação para a cidadania solidária”.
Neste contexto, a CNJP assinala que os católicos são “interpelados pelos apelos vibrantes” do Papa Francisco para que cada paróquia acolha, pelo menos, uma família de refugiados e recorda que noutros períodos da sua história, “o povo português deu provas de generosidade no acolhimento de refugiados”.
CB/OC