«Um número significativo de jovens portugueses sente que não tem futuro», alerta o organismo católico
Lisboa, 17 out 2018 (Ecclesia) – A Cáritas Portuguesa espera que o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que hoje se assinala, seja marcado por uma reflexão profunda sobre a realidade nacional e em especial dos jovens.
Num comunicado enviado à Agência ECCLESIA, o organismo católico recorda que “em 2017, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, 23,3 por cento dos portugueses viviam em risco de pobreza ou de exclusão social”.
“Ainda que os indicadores nos levem a verificar alguma diminuição deste valor, é um dado que se mantém ainda demasiado elevado se tivermos em consideração que 18 por cento deste número diz respeito a menores de 18 anos”, aponta a Cáritas Portuguesa, que este ano quer “olhar de forma particular” para os desafios dos mais novos.
Também “seguindo o exemplo do próprio Papa Francisco que dedica o Sínodo dos Bispos, a decorrer em Roma, à juventude e à sua forma de entender e participar no mundo”.
Na mesma nota, a Cáritas Portuguesa faz referência ao estudo que lançou em conjunto com a Cáritas Europa, em fevereiro deste ano, intitulado ‘Os jovens na Europa precisam de um futuro’.
Um trabalho que “apontou particularmente o facto de as políticas portuguesas adotadas nos últimos 10 anos não terem conseguido quebrar os ciclos de pobreza geracional”.
No que toca à realidade portuguesa, os números agravaram-se e atualmente o desemprego juvenil no país atinge os 23,8 por cento (7 por cento acima da média da UE), e o abandono escolar cifra-se nos 12,6 por cento (2 por cento acima da média da UE).
Estatística que segunda a Cáritas Portuguesa fazem com que “um número significativo de jovens portugueses sinta que não tem futuro”.
“Custa-me pensar que há muitas pessoas que não têm acesso à educação porque infelizmente neste momento, como as coisas estão, as políticas que estão, não funciona”, realça Joana Pereira, educadora social da Cáritas Diocesana de Santarém.
Outra questão diz respeito aos níveis atuais dos apoios concedidos aos jovens e ao tipo de salários que estão disponíveis para quem está a entrar no mercado de trabalho e quer começar a orientar a sua vida.
“Será que alguém pensa que com 600 euros alguém vai-se emancipar, vai sair de casa e vai constituir família? Tenho dúvidas”, questiona Joana Pereira.
Ana Rita Costa, formada em Psicologia e voluntária na Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima, é um destes casos, de jovens que se viram num impasse depois de anos e anos a estudar.
“Não faz parte de mim estar em casa à espera que o trabalho surja”, salienta a jovem, que não deita a toalha ao chão mas reconhece o contexto difícil que atinge toda uma geração.
“Se calhar 80 por cento dos meus colegas não estão a trabalhar na área para a qual tanto estudámos”, salienta Ana Rita Costa, para quem assim é difícil “pensar num futuro”.
Esta realidade também toca os jovens que saem dos seus países para concluírem os seus estudos em Portugal, como é o caso de Saíde Jamal, que está a concluir o seu doutoramento no nosso país, apoiado pela Cáritas Diocesana de Coimbra.
“As dificuldades financeiras, isso enfrenta-se muito e às vezes as bolsas não são suficientes e vários estudantes enfrentam um conjunto de carências”, indica o jovem, que salienta as repercussões que este contexto tem para os mais novos.
“Alguns acabam por trabalhar e não voltam, terminam os seus objetivos, terminam em trabalhos precários, outros até abandonam a escola”, aponta Saíde Jamal.
A Cáritas Portuguesa, através das suas estruturas espalhadas pelo território nacional recolheu testemunhos de “estudantes, trabalhadores, desempregados e portadores de algum tipo de deficiência”, que pudessem neste Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza ilustrar os desafios que estão em causa.
“Ficou expresso o seu sentimento de incerteza no futuro e de desconfiança nas estruturas, políticas e institucionais, que deveriam responder às suas necessidades”, pode ler-se.
A Cáritas Portuguesa quer com esta iniciativa “renovar a sua preocupação para com os jovens, em todas as suas circunstâncias e nos contextos em que se inserem”.
E destacá-los enquanto “garantia para a construção de uma sociedade mais forte, capaz de intervir na resolução dos seus próprios problemas, mais justa e mais solidária”.
JCP