Portugal: As exigências do tempo nos cuidados de saúde

Igreja Católica celebra o 23º Dia Mundial do Doente com tema «Sabedoria do coração»

Lisboa, 11 fev 2015 (Ecclesia) – A Igreja Católica celebra hoje o Dia Mundial do Doente, este ano atenta ao tempo que marca o atendimento em saúde em diferentes realidades e respostas médicas, partindo da mensagem escrita pelo Papa Francisco.

“As pessoas estranham o tempo que demora a consulta. Não estão habituados a ser avaliados de uma forma tão global, a ter presente na mesma consulta o médico, o enfermeiro e posteriormente outros elementos que possam ser necessários”, começa por explicar a médica responsável pela Unidade de Medicina Paliativa do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

À Agência ECCLESIA, Filipa Tavares assinala que o ponto de partida deste serviço é tentar saber “sempre” o grau de conhecimento das pessoas, “esclarecer e explicar” o âmbito da consulta e da equipa multidisciplinar que conta com enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, capelão, entre outros.

Na Unidade de Medicina Paliativa, do Hospital de Santa Maria, a palavra de ordem é acompanhar os pacientes e familiares onde se destaca a proximidade e a escuta, feita pessoalmente ou pelo telefone.

“De forma graciosa e por opção temos telefones sempre disponíveis 24h00. O doente em caso de necessidade contacta-nos; nós fazemos a triagem e encaminhamos ou reportamos à médica”, desenvolve a Enfermeira-chefe Amélia Matos.

Na Unidade de Saúde Familiar (USF) de Rio Dão, em Santa Comba Dão, Distrito de Viseu, a resposta quer estar centrada no utente, na diminuição do tempo de marcação de consulta e sempre na tentativa de que o atendimento dos pacientes seja realizado com o respetivo médico de família.

“[As pessoas] Sentem-se sempre um bocadinho melhor quando saem e sabemos que não é pelos medicamentos. A maior parte do efeito decorre pela relação que têm connosco, a forma como transmiti o que podíamos fazer”, observa Inês Rosendo sobre “90% da cura” de quem a procura.

A médica de família frisa que “está provado” que quanto mais tempo passam com as pessoas “menos exames e menos medicamentos” são receitados, com impacto financeiro menor quer para o Estado como para o utente.

“Nós não curamos grande coisa, infeções e pouco mais. O que curamos é a pessoa sair daqui mais leve”, considera Inês Rosendo que trabalha há quatro anos na USF de Rio Dão.

Em Lisboa, a Enfermeira-chefe da Unidade de Medicina Paliativa do Hospital de Santa Maria, acrescenta que há cada vez “menos recursos, pessoas” e a “exigência do tempo” faz com que os profissionais de saúde “não consigam muitas vezes” fazer o que pretendem.

Nesta unidade tentam “contornar um bocadinho” a exigência do tempo e do número e não correspondem aos “ideais estabelecidos de 15 a 20 minutos por consulta”.

“Para fazer uma relação entre duas pessoas 15 minutos chega, para a pessoa me dizer o que é importante para a sua vida”, questiona o diretor do Instituto de Ciências da Saúde, da Universidade Católica Portuguesa, Alexandre Castro Caldas, para quem a consulta deve “demorar o tempo que for preciso”.

Também no Hospital de Santa Maria, o Serviço de Observação de Urgência e Emergência luta contra o tempo na abordagem ao doente porque “a primeira necessidade é estabilizar o paciente”.

 “É uma sensação muito boa e muitas vezes agradecem-nos. É a melhor sensação que temos”, revela Sandra Pereira.

A médica Internista do Hospital Santa Maria, chefe de uma equipa de 15 pessoas, comenta que, após mais de 10 anos de serviço, tem “ainda mais respeito pela vida humana” e sobretudo pela “dignidade humana”.

A reportagem «O Tempo em Saúde» foi transmitida no programa 70×7 deste domingo (RTP2), incluindo declarações do ministro da Saúde, Paulo Macedo, e do coordenador nacional da Pastoral da Saúde da Igreja Católica, padre José Manuel Pereira de Almeida.

O 23.º Dia Mundial do Doente tem como tema ‘Sapientia cordis’ [sabedoria do coração], escolhido pelo Papa Francisco, e está também em destaque nas emissões desta semana do Programa ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública (22h45).

LS/CB/OC

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