Pedro Strecht destacou «coragem» da Conferência Episcopal Portuguesa em pedir este estudo e entregou o troféu a D. Américo Aguiar, para que «possa estar perto do Papa» na JMJ 2023
Lisboa, 25 out 2022 (Ecclesia) – A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) atribuiu hoje o ‘Prémio APAV 2022’ à Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, criada pela Conferência Episcopal Portuguesa.
“Este agradecimento é desde já reenviado às vítimas que nos contactaram, a todas e todos aqueles que ao longo destes meses ousaram ‘dar voz ao silêncio’ para revelar situações traumáticas que sofreram enquanto crianças, quase sempre revisitando em sofrimento tudo aquilo por que passaram tal como a incapacidade de reconhecimento ou ajuda de tantos que as rodeavam e de quem era suposto esperar uma resposta física e emocionalmente protetora”, disse Pedro Strecht, no discurso que proferiu ao receber a distinção, na sede da APAV, em Lisboa.
O coordenador da CI, no agradecimento do ‘Prémio APAV 2022’, destacou também que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) “teve a coragem de ousar pedir” que este Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa fosse realizado, “conferindo total independência” à Comissão.
Pedro Strecht lembrou que, até hoje, a Comissão Independente recolheu “mais de quatro centenas ‘testemunhos’” e que continuam a chegar por diversas formas e diariamente, “aumentando o seu número total”, de 424 testemunhos validados, revelado em conferência de imprensa, a 11 de outubro.
Segundo este responsável, após a divulgação dos resultados deste estudo, a 31 de janeiro de 2023, a CEP poderá ter uma “boa base científica” que permita o conhecimento mais detalhado “do que aconteceu no passado e assim pensar em estratégias mais adequadas para o seu futuro”.
A CI, anunciada pela Igreja Católica em Portugal em novembro de 2021, foi criada para funcionar num tempo de 12 meses, entrou em funções em janeiro deste ano.
Pedro Strecht recordou que “não se constituiu nunca, nem se constitui”, como estrutura de apoio jurídico, de investigação criminal, nem como equipa de saúde mental, por isso, reforçou a “importância de instituições como a APAV”.
O coordenador da Comissão Independente entregou o galardão recebido a D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa, tornando-o “guardião do prémio” para que “o mesmo possa estar perto do Papa Francisco” na sua visita a Portugal, na próxima edição internacional da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, de 1 a 6 de agosto de 2023. O responsável católico, presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, disse aos jornalistas que ia levar o prémio para o seu gabinete na Jornada Mundial da Juventude, na Antiga Manutenção Militar (Beato). “Será para todos, para toda a equipa, para todo este grupo de centenas e milhares de jovens que, até pelo mundo inteiro, trabalham na preparação da jornada: Será alguma coisa que nos ajudará, que nos incentivará, que nos provocará, às melhores práticas, aos melhores procedimentos e decisões naquilo que é este problema que nós queremos resolver; nós temos muitas preocupações, seja da ecologia, da ‘Economia de Francisco’, da ‘Fratelli Tutti’, temos também esta de modo especial no nosso coração porque sabemos que também o Papa tem, da tolerância zero e da transparência total”, desenvolveu.
No contexto dos abusos, D. Américo Aguiar, coordenador da Comissão para a Proteção de Menores do Patriarcado de Lisboa, afirmou que mesmo um único caso é motivo de preocupação, e se há mais casos “vai aumentando o grau de preocupação de dor”. “Se um é muitíssimo grave, é inaceitável 400, mais de 400 mais será… da nossa parte temos dado e damos todo o apoio àquilo que é o trabalho da Comissão criada pela Conferência Episcopal Portuguesa e quando entregar o seu relatório final, cada diocese, das 21 dioceses, e a Conferência Episcopal como um todo, tomarão as medidas e decisões necessárias para dar seguimento àquilo que foi a decisão primeira de criar a comissão”, referiu. |
Na sessão de entrega do ‘Prémio APAV 2022’, o presidente da direção da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, João Lázaro, destacou que o trabalho da CI “tem sido amplamente divulgado e conhecido”, e o seu mote – ‘Dar voz ao silêncio’ –, que é autoexplicativo, é uma “das motivações que estiveram na génese da atribuição do prémio ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido ao longo deste período”.
O prémio visa distinguir pessoas singulares ou coletivas que se “destaquem na defesa e na promoção dos fins, missão e visão da APAV”; O troféu foi desenvolvido por Gonçalo Falcão e Tiago Águas, partindo da “ideia de transformar um processo negativo num positivo” — pelo que se usou lixo plástico derretido e remoldado para a construção do troféu.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa pede ainda, através dos órgãos de Comunicação Social, a todas as pessoas “que não deram ainda o seu testemunho que o podem fazer para os contactos habituais” – 91 711 00 00, geral@darvozaosilencio.org, e sítio online darvozaosilencio.org – até 31 de outubro, quando termina a recolha da amostra para o seu estudo.
CB/OC