Portugal: Alto Comissariado para as Migrações destaca exemplo «extraordinário de convivência entre religiões»

Organismo dedica colóquio a este tema

Lisboa, 21 set 2016 (Ecclesia) – O Alto Comissariado para as Migrações juntou hoje em Lisboa os líderes das várias comunidades religiosas presentes em Portugal, para realçar o contributo que o diálogo inter-religioso tem dado a favor da defesa da paz e da dignidade humana no país.

Uma mensagem deixada no primeiro dia do congresso “Cidadania e Religião”, que aquele organismo está a promover, e que teve em foco o tema da “corresponsabilidade social – cuidado do outro”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o alto-comissário para as Migrações destacou a importância desta temática “sobretudo nos últimos tempos, com a chegada de refugiados a Portugal e à Europa, com tudo o que isso traz do ponto de vista de uma crescente diversidade religiosa no nosso país e no continente”.

Segundo Pedro Calado, a nação portuguesa é hoje um exemplo “extraordinário de convivência e diálogo permanente entre as religiões”, algo que ficou demonstrado com o número de representantes de várias religiões presentes neste congresso.

No entanto, em outros países o contexto é diferente, marcado pela guerra, pelo fundamentalismo e intolerância religiosa, pela discriminação e xenofobia.

“Num tempo em que noutros locais alguns tentam aproveitar de forma populista esta ideia de que não é possível vivermos juntos, que não é possível vivermos em paz, também do ponto de vista religioso”, importa “mostrar que sim, é possível”, salientou aquele responsável.

Pedro Calado recordou ainda que “cuidar do outro é um princípio transversal a qualquer religião”.

“E é isso que queremos que as pessoas percebam. O outro são agora os refugiados, como o outro já fomos nós, os portugueses”, referiu o alto-comissário para as Migrações, aludindo ao número de emigrantes lusos que ao longo dos anos tiveram de buscar o seu futuro em outros países.

Esta quarta-feira ficou reservada à partilha de testemunhos sobre como as religiões podem ser um agente de paz e de um maior humanismo no meio da sociedade.

Foram várias as referências ao encontro inter-religioso pela paz, que teve lugar na terça-feira na cidade italiana de Assis e onde o Papa Francisco, em conjunto com vários outros líderes religiosos, reafirmou o seu “não à guerra” e condenou o terrorismo e o fundamentalismo.

Para o xeque David Munir, líder da comunidade islâmica de Lisboa, as mensagens do Papa argentino “vão tendo o seu impacto, sem dúvida” mas é preciso que as comunidades religiosas saibam ir das palavras aos atos e “expandir o amor onde há violência”.

No caso dos muçulmanos, “as pessoas que praticam a violência fazem-no por ignorância porque não conhecem o Islão, são versões deturpadas do Islão para praticar a violência, e é muito importante chegar a essas pessoas”, sustentou.

A um outro nível, relacionado com o apoio que a comunidade islâmica está a dar aos migrantes e refugiados muçulmanos que têm chegado a Portugal, o xeque David Munir frisou que “o apoio espiritual, religioso” está a ser dado.

Já no plano socioeconómico, a ajuda tem sido mais difícil porque a situação em Portugal “não é favorável”.

“Muitos deles querem trabalhar e não há trabalho, ou têm despesas imediatas que muitas vezes não conseguimos satisfazer. Portanto, partilhamos o bolo, dividimos o pão, podemos dizer assim, com as pessoas que mais precisam”, completou.

O congresso “Cidadania e Religião” promovido pelo Alto Comissariado para as Migrações, ficou ainda marcado pela conferência “O fenómeno religioso na contemporaneidade”, da autoria de Alberto Melloni, presidente do Comité da UNESCO para o Pluralismo Religioso e a Paz.

Na sua intervenção, o historiador italiano defendeu a necessidade de trabalhar hoje na “universalidade da compaixão”.

JCP

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