António Saraiva destaca importância de combater isolamento dos mais velhos e promover novas relações de vizinhança

Lisboa, 20 abr 2025 (Ecclesia) – O presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) considera que o aumento do abandono de pessoas nos hospitais constitui uma “vergonha nacional”, que exige respostas de responsáveis políticos e da sociedade civil.
“Temos o aumento dos sem-abrigo, temos o abandono de pessoas em hospitais, entregando moradas falsas, e depois não indo buscar os seus familiares, é uma questão que nos deve envergonhar, mas para a qual temos de saber encontrar respostas”, assinalou António Saraiva, convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença.
“Há toda uma preocupação social, toda uma interação entre o Governo e a sociedade civil, e muito com o setor social, para encontrarmos as melhores soluções, porque, isto é, de facto uma vergonha nacional que temos de combater”, acrescenta.
A CVP lançou ma campanha centrada na pergunta ‘Quantos vizinhos conhece pelo seu nome?’, distribuindo um milhão de mensagens nas caixas de correio para apelar à consciência social e à proximidade comunitária.
António Saraiva sublinha que cerca de 500 mil idosos vivem sozinhos em Portugal, “a maior percentagem da população idosa da União Europeia e a quarta maior do mundo”.
“Isto deve inquietar-nos e, para além de nos inquietarmos, devemos encontrar respostas adequadas”, acrescenta.
Para o presidente da CVP, com 147 delegações, de norte a sul do país, incluindo os arquipélagos da Madeira e dos Açores, “cada vez mais a pobreza não é uma condição periférica, está no centro da vida de milhares de famílias”.
“Num mundo cada vez mais individualizado, num mundo em que cada vez mais o ser humano está virado para si próprio, porque está fechado nas redes sociais, na internet, muitas vezes não vê as realidades que estão próximas”, adverte.
António Saraiva diz que faltam “políticas públicas” para combater a pobreza e a solidão, sublinhando que “se o Estado tivesse de cumprir a sua missão e fosse ele o único a desenvolver esta função social, teria um custo orçamental muito maior do que aquele que tem”.
O responsável defende a “revisão das metodologias e dos programas, porque alguns deles estão desadequados”.
“Há valências, como é o caso da violência doméstica, dos sem-abrigo, com um crescimento exponencial e é necessário adequar as políticas públicas às novas realidades”, explica.
Quanto ao problema do envelhecimento e da solidão, o presidente da CVP entende que a campanha eleitoral é o momento de “chamar a atenção dos partidos políticos para esta realidade” e “despertar consciências”.
A quebra da natalidade é outra das questões identificadas, com António Saraiva a pedir “políticas corretas”, recordando que “Portugal hoje não viveria sem imigração”.
A entrevista encerra-se com um apelo, sublinhando a mensagem de esperança da Páscoa: “Não deixemos que o mal se sobreponha ao bem”.
Entrevista conduzida por Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)