Padre Jorge Teixeira da Cunha destaca três situações «importantíssimas» para o país
Porto, 07 out 2016 (Ecclesia) – O docente universitário padre Jorge Teixeira da Cunha considera a solidariedade algo de imediato enquanto a justiça “toca a todos”, independentemente da “posição social”, e adianta três situações “importantíssimas” para Portugal aos olhos da Doutrina Social da Igreja.
À Agência ECCLESIA, o docente especialista em Teologia Moral começou por enumerar que é preciso fazer a reforma do Estado, sendo necessário “tirar competências” para que ele “possa ser justo”.
“Temos de tirar ao Estado a omnipotência, a omnisciência que tem tido até agora para que possa cumprir a sua missão”, observou o antigo diretor-adjunto do núcleo regional do Porto da Faculdade de Teologia, da Universidade Católica Portuguesa (UCP).
Depois, está a questão do trabalho e do emprego, que “é a mais importante” a resolver no futuro, porque como sociedade o acesso aos bens que cada um precisa para a sua vida faz-se através do “contributo no campo laboral e no banco do trabalho”, como refere a Doutrina Social da Igreja.
“Uma vez que hoje não há postos de trabalho para todos temos de pensar o futuro de uma maneira completamente nova e de inventarmos o futuro nesse capítulo”, acrescenta o sacerdote da Diocese do Porto.
Para o especialista em Teologia Moral a terceira questão “importantíssima” para Portugal é a “convivência plural, a convivência cívica” de respeito pelas liberdades e pela liberdade religiosa.
“Se enquanto Igreja conseguirmos capacitar as pessoas para puderem ter força de viver, para puderem desenrascar a sua vida poderemos ter os elementos e fundamentos para escapar à pobreza”, assinala, comentando que não se foge à pobreza pela dádiva de dinheiro.
“Temos é de pôr as pessoas a saberem qual é o seu lugar, a terem autonomia, cidadania, força de viver, força de promover ações e atividades que possam livrá-los da pobreza”, acrescentou.
Neste contexto, o padre Jorge Teixeira da Cunha observa que o Estado baseia-se “na justiça” e a solidariedade é construída pelas pessoas, enquanto “famílias, associações locais, pelo associativismo que está para lá da política e do Estado”.
A solidariedade é algo de imediato, “de proximidade”, e a justiça “toca a todos” independentemente da “posição social”.
O Estado não se ocupa do bem-comum porque essa função “é dos moralistas”, dos homens de Igreja, das “pessoas associadas ou privadamente” desenvolveu, assinalando que o Estado “ocupa-se da justiça” que é o “limite abaixo do qual ninguém deve e pode ser tratado numa sociedade”.
“Hoje, creio que há uma grande confusão entre a norma do bem-comum e a da nossa convivência cívica. Ao Estado compete ordenar a vida de maneira a que todos possam ser respeitados naquilo que são as exigências básicas”, reforçou o padre Jorge Teixeira da Cunha.
O Papa emérito Bento XVI dizia que economia tem necessidade da ética para um correto funcionamento, e para o professor universitário “não são duas coisas diferentes” afinal, os valores na ética “estão implícitos na atividade económica”.
“Não são dois saberes sobrepostos, funcionam dentro do mesmo sistema. É o mesmo ser humano que procura prover as suas necessidades, a otimizar os recursos, e a prover às necessidades de todos”, acrescentou.
A mais recente edição do Semanário ECCLESIA, intitulada ‘Há justiça nos Impostos?’, foi publicada hoje no contexto da conferência sobre o tema ‘Sistema fiscal e justiça social’ que vai ser promovida pela Comissão Nacional Justiça e Paz no dia 22 de outubro, e da proximidade da apresentação do Orçamento de Estado para 2017.
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