«A Guarda está numa zona de fronteira que, enquanto havia guerra era lembrada, e agora caímos no esquecimento», alerta professor
Guarda, 30 dez 2023 (Ecclesia) – Luís Soares, professor na Diocese da Guarda, afirma que, apesar de se atravessar um tempo de crise, “nunca Portugal esteve a viver melhor”, numa análise à situação política no país, a partir da queda do Governo e convocação de eleições antecipada.
“Há 50 anos, há 40 anos, ou até se quisermos há 30 anos, vivíamos muito pior do que agora. É preciso recordar e é preciso termos memória, sobretudo, memória histórica”, disse o educador à Agência ECCLESIA, afirmando que apesar de Portugal estar “num tempo de crise, nunca esteve num tempo também a viver melhor”.
No dia 9 de novembro, o presidente da República Portuguesa anunciou a dissolução da Assembleia da República na sequência da demissão do primeiro-ministro, António Costa, apresentada dois dias antes; Marcelo Rebelo de Sousa convocou também eleições legislativas antecipadas, para 10 de março de 2024.
“Estas crises sucessivas entroncam muito e enraíza muito numa questão quase que estrutural, quase que identitária, e que está muito enraizada na nossa mente coletiva do ser português, que é a desconfiança, a falta de confiança”, desenvolveu Luís Soares, lamentando que assim “é difícil” alcançar-se a “excelência individual e, muito menos, a excelência coletiva”.
Num comentário de final de ano a estes recentes acontecimentos políticos que ficam na história de Portugal, o professor acrescenta que com esta desconfiança geral – “a gente desconfia de tudo, desconfia de todos, desconfiamos de nós próprios e, obviamente, desconfiamos dos governantes e de quem nos governa” – é “a polis que vai sofrer”.
Nunca podemos ter uma sociedade superlativa se não confiarmos. E este é o cimento, primeiro, de todas as questões democráticas. Sem confiança não há melhoria substancial”.
Luís Soares observa que quando se vive “num tempo em que as pessoas não confiam”, há pessoas e projetos que sugerem que “as grandes questões podem ser resolvidas de forma quase que instantânea, quase que mágica” mas, alerta, que se sabe que “isso vai desembocar, em extremismos que depois levarão aos tempos passados, há 50, 60, 70 anos”.
“E as novas gerações, temos aqui um problema com elas, como não viveu esses tempos, acho que não está muito preparada e pensa que estes grandes slogans, estas grandes frases feitas de determinadas pessoas e projetos políticos são a salvação e problemas complexos normalmente não têm soluções assim tão simples”, assinala.
Face às várias crises, como na habitação, a pobreza a aumentar, nos grandes centros urbanos, e em regiões de interior, como a Guarda, o abandono da população, mas “não é um caso isolado” e esperam que “não seja o ocaso”.
“A Guarda está numa zona de fronteira que, enquanto havia guerra, se era lembrada, agora caímos no esquecimento. Estamos com falta de investimento, sem investimento não há pessoas, sem pessoas não há investimento e este círculo vicioso é um problema e só se combate com um trato preferente, com medidas agressivas, nomeadamente fiscais, para que consigamos ter a tal coesão territorial”, desenvolveu Luís Soares.
Para além da queda do Governo, o Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade, que ainda está a decorrer, a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, de 1 a 6 de agosto, a apresentação do relatório sobe os abusos de menores na Igreja Católica em Portugal, no início do ano, e as guerras, são cinco temas que se destacam de 2023 e vão estar em análise no Programa 70×7, deste domingo, 31 de dezembro, a partir das 17h35 na RTP2.
PR/CB/OC