O bispo emérito deixa funções ativas na diocese aos 78 anos, «feliz e sereno» e com vontade de ter tempo de qualidade para acompanhar as pessoas
Porto, 14 jul 2023 (Ecclesia) – D. Pio Alves encerra, em agosto, 12 anos de atividade pastoral como bispo auxiliar do Porto e, mantendo-se na diocese, sublinha a “enorme alegria e gratidão” pelo contacto com “sacerdotes e leigos de enorme qualidade” neste tempo.
“Tenho uma enorme alegria e gratidão por me ter cruzado com sacerdotes e leigos de enorme qualidade, com enorme amizade. Foi um mundo que se foi abrindo à minha frente. Pessoas que me vão conhecendo, com quem me cruzei. É muito grato verificar que, nos gestos mais comuns e normais, há memórias que ficam no coração das pessoas”, reconhece o bispo auxiliar resignatário do Porto, três anos após ter pedido a renúncia por limite de idade.
“Um dos trabalhos mais importantes do ministério episcopal são as visitas pastorais onde há a oportunidade de contactar com as pessoas mais simples e formais, com instituições e aí encontramo-nos com o mundo real, limitações e alegrias, e com pessoas – nunca mais esquecerei – em visitas a doentes, onde encontrava familiares de uma enorme generosidade que são capazes de assumir vocação de auxílio aos outros, com sorrisos nos lábios. Essas são marcas que não esqueço nunca. O exemplo de generosidade de pessoas que nunca vão aparecer nas páginas dos jornais mas está no coração de outros e no meu coração”, acrescenta.
D. Pio Alves foi nomeado bispo auxiliar do Porto em 2011; em 2018 celebrou 50 anos de ordenação sacerdotal e no ano 2020 pediu a resignação ao Papa Francisco ao celebrar 75 anos.
“Quando escrevi ao Papa, ao fazer 75 anos, disse também a D. Manuel Linda que estaria disponível para sair ou para ficar e ajudar. Nesse momento não havia nomeação substituta, e disse: se entender que fique, ficarei até ao fim, não estarei de passagem, disse-lhe. Pastoralmente penso que foi importante, caso contrário a zona pastoral que acompanhava teria ficado com algumas iniciativas provisórias”, explica.
O bispo auxiliar resignatário vai dividir a sua residência entre a Casa Diocesana de Vilar, “a casa sacerdotal da diocese, onde vivem outros sacerdotes e o bispo auxiliar resignatário D. António Taipa”, e estará também em Lanheses, a sua terra natal, na diocese de Viana do Castelo.
“Sou o mais novo dos três irmãos e precisamos uns dos outros. Nesta altura da vida, que é sempre condicionada pela saúde de todos, estarei nos dois lados, dependendo das circunstâncias. Física e mentalmente sinto-me em condições para continuar a colaborar. Penso que é importante saber sair e não estorvar para que, quem vem, possa ocupar o espaço que lhe é entregue”, indica.
A diocese do Porto, que no último domingo agradeceu a D. Pio Alves, terá, até ao final do mês, dois novos bispos auxiliares – D. Joaquim Dionísio será ordenado no dia 16, em Lamego, e D. Roberto Mariz será ordenado no dia 23, em Braga – e, com eles e com D. Vitorino Soares, bispo auxiliar, D. Manuel Linda, bispo do Porto, “fará a organização da diocese”.
“Sem interferir na orgânica pastoral direta, a título pessoal mantenho-me disponível para o que a diocese e os sacerdotes entenderem que possa ajudar”, indica.
D. Pio Alves admite voltar aos estudos teológicos na área da Patrística, cujas funções episcopais ditaram algum afastamento, mas elege a possibilidade de ter mais tempo para o acompanhamento pessoal.
“Este é um dos serviços que procurarei potenciar, disponibilizando-me. Dependendo da relação com as instituições, no Porto e em Viana, a título pessoal e informalmente, é um dos serviços que vou procurar dedicar mais atenção, uma vez que o tempo disponível era formalmente menos – Dedicar-me às pessoas em conversa informal e no contexto do sacramento da reconciliação”, avança.
D. Pio Alves iniciou em junho novo mandato na Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, da Conferência Episcopal Portuguesa, trabalho que acompanha há vários anos, e de forma mais próxima na área do património.
“A Comissão passa por um momento importante, tendo terminado o segundo mandato de D. João Lavrador. D. Nuno Brás terá novos modos de olhar para esta realidade. Compete ao presidente da Comissão pensar no rumo. Da minha parte irei ajudar! Quando fui inquirido, manifestei disponibilidade. Sempre estive mais ligado aos bens culturais, onde há sempre trabalho a fazer. É um trabalho importante de sensibilização das dioceses, bispos, relação com autoridades civis e é um trabalho nem sempre e suficientemente valorizado, mas ao longo dos anos construíram-se pontes e espaços de diálogo que vão dando frutos”, reconhece.
A poucos dias do início da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, o bispo emérito olha com esperança para os frutos que este evento pode deixar junto dos jovens, “claro, mas também junto das famílias, em especial das famílias de acolhimento”.
“A JMJ deixará uma marca importante na juventude. Foi uma oportunidade para juntar e descobrir energias. Mas penso que deixará também, tanto ou mais, marcas nas famílias, em especial as que tiverem contacto mais próximo. Tenho esperança que a realidade das famílias de acolhimento seja um bom fermento para que possam recuperar, em profundidade, a sua relação com a Igreja. Nos jovens, também com certeza, mas ai será mais claro. Penso que é importante estender essa relação às famílias”, sublinha.
Habituado a mudanças na sua vida e sem as recear, D. Pio Alves afirma-se feliz.
“O que vai mudando são os imperativos do cartão de cidadão. Estou feliz, a preparar-me para um nova etapa de trabalho, com outros compromissos e ritmo diferente, mas feliz e sereno. Nesta, como em outras fases da vida, não dominamos tudo, mas tenho confiança de que tudo vai correr bem”, finaliza.
LS
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