Projeto da Paróquia da Senhora da Conceição oferece mais de 450 refeições, todos os dias, mas tem «despensa quase vazia»
Porto, 23 mai 2023 (Ecclesia) – A Paróquia da Senhora da Conceição, no Porto, fez um “apelo urgente de solidariedade” para o projeto ‘Porta Solidária’, serviço de caridade que oferece “mais de 450 refeições” diariamente, face ao aumento de pedidos de ajuda.
“[No sábado] Tínhamos bens para uma semana, daí o apelo urgente, porque depois não poderíamos dar mais de comer. Os utentes, as pessoas que precisam de comida – porque são pobres, porque estão em situações muito vulneráveis – aumentaram, nomeadamente os migrantes, sobretudo do norte de África e do Paquistão”, disse hoje o padre Rubens Marques à Agência ECCLESIA.
Segundo o pároco, o projeto ‘Porta Solidária’, na Praça do Marquês (de Pombal), Porto, recebe, atualmente, pessoas de 16 nacionalidades, algumas das quais com “muitas dificuldades de integração”, devido às barreiras linguísticas.
“Os serviços que existem para acolher emigrantes não têm respostas, nem para dormir, nem para a alimentação, e aumentou o número das pessoas em situação de sem abrigo e aqui, naturalmente, aumentou o número de pessoas à procura de comida”, acrescentou o sacerdote.
Num comunicado enviado este sábado aos jornalistas, o ‘Porta Solidária’ alertava que tinha a “despensa quase vazia” e estava em risco, um apelo que começou a ter efeito.
“As pessoas têm um coração muito generoso, a maioria das pessoas é muito solidária e, desde que lançamos o apelo, começaram a aparecer várias ofertas que vão preenchendo algumas prateleiras, mas estamos ainda longe de ter a despensa cheia”, adiantou o padre Rubens Marques.
Segundo o sacerdote, as pessoas, que “têm generosidade e são solidárias”, também sentem o impacto da inflação e têm limitações no que podem oferecer.
“A gestão do orçamento familiar da maioria das famílias permite comprar o que é preciso para a família. E essa é uma grande dificuldade para as pessoas continuarem a oferecer”, sublinhou.
O ‘Porta Solidária’ é um serviço de caridade, criado na crise de 2009, que “acolhe e socorre” a população carenciada da cidade do Porto em situações de emergência alimentar; a pandemia de Covid-19, declarada em março de 2020, “fez disparar a frequência diária para números nunca imaginados de 650 refeições distribuídas por dia”, contextualiza o comunicado.
A nota realça que o Porto é “uma cidade pujante de hotelaria”, mas existem muitas pessoas “a dormir ao relento ou a pagar 400 euros por um lugar em beliche numa casa sobrelotada”; há propostas gastronómicas, mas muitas pessoas, “ao final do dia, recorrem à solidariedade para comer a sua primeira refeição”.
“O turismo é naturalmente uma coisa boa para a cidade, do ponto de vista económico está a ter muito maior investimento, a cidade está cada vez mais bonita. É preciso, paralelamente, fazer o trabalho social necessário”, apontou o padre Rubens Marques.
O responsável pela Paróquia da Senhora da Conceição alerta que continuam a existir “muitos pobres e há uma margem da população que não obtém qualquer lucro com o turismo e continua abandonada”.
CB/OC