«Continuamos a ter famílias muito vulneráveis na cidade do Porto, que precisam desta mão amiga», explica Manuel Maria Moreira
Porto, 02 fev 2021 (Ecclesia) – O presidente da Obra Diocesana de Promoção Social do Porto alertou para o impacto negativo que o encerramento das respostas sociais tem nas crianças e na população idosa, onde “cada vez se sentem mais as demências”.
“Os nossos idosos precisam de instituições como a Obra Diocesana de Promoção Social para combater a solidão, o isolamento, e vêm até aos nossos centros de dia e centros de convívio. Agora, com este novo confinamento e encerramento das respostas sociais, voltaram a ficar em casa”, explicou hoje Manuel Maria Moreira à Agência ECCLESIA.
O presidente da Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) da Diocese do Porto mostrou-se preocupado com o aumento das demências na população idosa e refere que o encerramento dos serviços, por causa da pandemia, está “a agravar” essa situação.
“É isso que nos preocupa. Mesmo que façamos contacto, com os nossos técnicos, com os colaboradores de centro de dia e centro de convívio e apoio domiciliário, falando e até fazendo visitas pontuais a casa de cada um, não é a mesma coisa. E estamos preocupados com o impacto que pode ter na própria saúde mental, na relação social destas pessoas”, desenvolveu.
O responsável pela Obra Diocesana de Promoção Social recordou que, no início da pandemia provocada pela Covid-19, os centros de dia e de convívio “fecharam em meados de março e só foi decidido reabri-los em meados de agosto” de 2020, com “condicionalismos para manter o distanciamento físico”, por isso não regressaram todos, mas continuaram “a dar o apoio domiciliário”.
A IPSS da Diocese do Porto, “uma das maiores instituições não só do norte de Portugal como do país” com “cerca de dois mil utentes”, tem 12 centros sociais no Porto, “em particular nos bairros sociais”, e 55 respostas: “9 creches, 9 pré-escolares, 6 centros de atividades e tempos livres, 9 centros de dia e centros de convívio, serviço de apoio ao domicílio, agora com cerca de 600 utentes”.
Manuel Maria Moreira explica que com os centros de dia e de convívio “mais uma vez encerados, vários idosos não têm retaguarda familiar”, por isso, domiciliaram os seus serviços e levam “a refeição diária, fazendo a sua higiene pessoal”, arrumando os quartos.
A instituição tem também cantinas sociais, para 130 utentes, – “11 cozinhas a funcionar durante a semana e duas cozinhas centrais ao fim de semana para os serviços de apoio domiciliário e cantinas sociais” – e um Centro de Apoio à Família e Aconselhamento Parental (CAFAP).
No caso das crianças, o encerramento das diversas valências “acaba por ter um reflexo muito pouco de positivo, para não dizer negativo, na sua evolução cognitiva, na evolução em termos educativos”, alerta o entrevistado.
Para Manuel Maria Moreira, a Obra Diocesana de Promoção Social, com 57 anos de serviço, “ainda continua a fazer todo o sentido”.
“Continuamos a ter famílias muito vulneráveis, pobres, na cidade do Porto que precisam desta mão amiga e muitos não pagam nada; outros 2 euros, 4 euros, 6, 8 euros, valores irrisórios para as despesas mensais”, refere, acrescentando que “cada um comparticipa de acordo com os rendimentos do agregado familiar”.
O presidente da IPSS diocesana observa que “são importantes e incontornáveis os acordos com a Segurança Social”, mas alerta que “não cobrem sequer os honorários, os vencimentos dos colaboradores, para além da alimentação, cerca de 60 mil euros por mês”.
“Era preciso aumentar as comparticipações do Estado através do Instituto da Segurança Social para as IPSS. A média que cada uma recebe do Estado anda entre 38% e 42%, para as despesas de qualquer instituição, isto é muito pouco, deveria ser no mínimo 50% e o desejável seria 60%”, indica Manuel Maria Moreira, salientando que “o setor social é vital” em Portugal e “muitas” instituições já estavam em risco antes da pandemia.
Neste contexto, o responsável assinala que as “instituições têm que gerar receita e é uma luta permanente”, por isso, apela à solidariedade e ajuda da “sociedade civil, aos cidadãos em geral, instituições públicas e privadas, empresas”.
“Tem havido uma resposta globalmente positiva que ainda não é suficiente. A instituição é da cidade, é da região, e presta um grande serviço ao longo de 57 anos a tantas gerações de pessoas para que vivam com a dignidade que merecem”, realçou Manuel Maria Moreira.
A Obra Diocesana de Promoção Social do Porto foi fundada em 1964 e faz este sábado, 6 de fevereiro, 57 anos de existência que vão comemorar de “uma forma muito simbólica”, no próximo dia 8.
CB/OC