Porto: Câmara procura «quebrar a invisibilidade» da população idosa, defendendo direitos de cidadania

Fernando Paulo, vereador municipal, aborda desafios levantados pelo envelhecimento e a multiculturalidade, rejeitando associação de violência à imigração

Foto: RR

Porto, 16 jun 2024 (Ecclesia) – Fernando Paulo, vereador da Câmara Municipal do Porto com o pelouro da coesão social, afirmou que é necessário “quebrar a invisibilidade” da população idosa, defendendo direitos de cidadania dos mais velhos.

“Hoje, do ponto de vista social, é como se os idosos, a partir de determinada idade, perdessem a sua capacidade de decidir: são os filhos que decidem por ele, são institucionalizados. Muitas vezes perdem o título, perdem a sua história”, alerta o convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, publicada e emitida aos domingos.

“Muitas vezes, a população idosa é como se perdesse cidadania”, acrescenta.

Após a celebração do Dia Mundial da Consciencialização da Violência contra as Pessoas Idosas (15 de junho), Fernando Paulo aborda o plano ‘Porto Cidade Amiga das Pessoas Idosas’, na cidade mais envelhecida do país.

“Isto é uma forma também de combatermos as várias formas de violência, de quebrar a invisibilidade, de criar serviços e, sobretudo, criar uma cidade plena. Nós queremos que a cidade seja vivida”, indica.

Para o vereador do Município do Porto, é preciso “contrariar esta situação”, alertando que “muita população idosa está a viver em condições de grande indignidade”.

“O isolamento e a solidão são um dos problemas maiores que atingem esta população sénior”, observa o entrevistado.

A cidade do Porto tem cerca de 33 mil pessoas com mais de 65 anos que vivem sozinhas e, destas, há “um número significativo que está em risco”.

O plano visa “criar um radar que permita quebrar a invisibilidade” e identificar “os idosos a viver em situação de isolamento”.

Com a Covid-19, refere Fernando Paulo, o município entendeu que muitos idosos “não tinham qualquer laço de vizinhança, qualquer laço com as suas famílias e, de facto, viviam sós, viviam abandonados”.

Diminuímos em 11% o número de pessoas que, de acordo com a definição da estratégia, vivem em condição de sem-abrigo, mas aumentou o número de pessoas sem teto, que vivem na rua. E também aumentou o número da população idosa que está, de facto, desprotegida e que está a viver na rua”.

O vereador municipal do Porto assinala que, no distrito, há mais de 600 pedidos de urgência, ligadas a situações de vulnerabilidade, a aguardar vaga em estrutura residencial para pessoas idosas (ERPI).

“Na situação de Covid chegamos a ter, nos hospitais do Porto, à volta de 150 pessoas que tinham alta clínica e não tinham para onde ir e, portanto, aguardavam essa disponibilidade”, recorda, observando que neste momento o número dos chamados internamentos sociais pode ser “muito próximo das 100 pessoas, outra vez”.

Fernando Paulo defende maior investimento em “cuidados continuados de média e longa duração”, com inovação na resposta social.

“Temos de criar respostas diferenciadas, porque aquilo que é hoje a realidade da alta clínica de um hospital não corresponde àquilo que é a possibilidade, no seio familiar, de a pessoa poder convalescer e recuperar totalmente no domicílio”, precisa.

O entrevistado liga a “pedagogia do envelhecimento” à da cidadania, dando como exemplo o trabalho feito junto das comunidades migrantes, sobre as quais persistem “estereótipos e preconceitos”.

“Não temos questões de insegurança, bem pelo contrário. É uma oportunidade de educar para a diversidade, para a tolerância, para os valores”, sustenta.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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