Numa iniciativa do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar, realizou-se na Casa de Vilar, no Porto, no sábado 7 de Fevereiro, a Jornada Diocesana da Família, que reuniu mais de três centenas de pessoas ligadas a este sector da vida da Igreja diocesana. Presidiu o Bispo Auxiliar do Porto, D. João Miranda Teixeira, responsável pelo acompanhamento pastoral da pastoral familiar e o encontro foi orientado pelo casal Celina e Manuel Marques. A oração inicial teve a força da palavra e do canto:”Paulo, apóstolo de Cristo, escolhido para anunciar o Evangelho da graça e da cruz. Ai de mim se não evangelizar”. O tema aglutinador da Jornada foi apresentado na conferência de D. António Couto, a que se deu o título de “A família segundo S. Paulo”. O orador introduziu o tema com a opção central de Paulo: após a revelação de Jesus, ele deixa para trás como lixo tudo o que é passado e volta-se para a frente, para a meta, buscando a Cristo, agarrado por Ele. Procura apenas “uma coisa”, com energia. Não busca uma ideia, mas uma pessoa, um acontecimento. Deixa de ser Paulo de Tarso, para se tornar Paulo de Cristo. Paulo sem Cristo não existe. É este, considera o orador, o maior desafio para os cristãos do século XXI: caminhar para Cristo. Esta procura é uma caminhada, um percurso; Cristo irrompe nesse percurso; Paulo não quer chegar à meta só, mas com todos; tem um objectivo intenso e claro; torna-se não auto-suficiente, mas teo-suficiente (traduzido na sua palavra: “para mim viver é Cristo”). A partir daqui, o orador encontra no cap. 7 da 1.ª Carta aos Coríntios 10 enunciados que considera revolucionários para o tempo (tempo em que a mulher era desvalorizada e considerada como sujeita ao homem), nos quais sempre se afirma o carácter recíproco de toda a relação: Cada um tenha a sua mulher e cada mulher tenha o seu marido; nenhum tem poder sobre o outro, nem o homem nem a mulher; não vos recuseis um ao outro, a não ser para a oração; não se separa a mulher do homem, nem o homem repudie a mulher; se ele ou ela são não cristãos, que se mantenham unidos; a mulher santifica o homem, o homem santifica a mulher; o marido salva a mulher, a mulher salva o marido; a mulher procure agradar ao homem, o homem procure agradar a sua mulher. A excepção a estes valores é o maior valor da dedicação a Deus pelo celibato ou virgindade. Toda a relação brota de Cristo, e esta é a radicalidade essencial. Paulo vê a vida matrimonial como um dom de Deus. Dá um valor primordial ao corpo como expressão do amor, o que traduz por frases como “o corpo é para o Senhor”, ou “o vosso corpo é templo do Espírito Santo”. Não se move no campo litúrgico-sacral do tempo, mas no campo vital da plena devotação ao Senhor. Apresenta um modo novo de encarar a vida histórica como vida realizada em Cristo. Realiza-se a salvação no tempo, não no tempo que passa (o cronos, que já está a “recolher as velas”), mas no tempo da salvação (o kairós, tempo da oportunidade da salvação). Não usa o binómio dominar/submeter, que transforma no binómio amar/submeter, isto é: introduz o Amor como critério de todo relacionamento. Duas notas interessantes acrescentou: revestir-se de Cristo “por dentro”, do coração, porque “por ele amados plenamente”. O nosso mal é estar “nus por dentro”; a palavra de Cristo habite em vós, “pondo o coração uns nos outros”: a caminhada não é exterior, mas caminhada interior. A reflexão continuou com um diálogo com o conferente em que alguns destes temas foram reformulados e aprofundados; e de tarde, com a apresentação de alguns testemunhos em que a vida e a dedicação familiar foram o apelo essencial. Foram também recordados os objectivos da pastoral familiar (acompanhamento dos casais novos, preparação dos casais jubilados, a constituição de equipas vicariais de pastoral familiar. Três acontecimentos previstos: de 10 a 16 de Maio, a Semana da vida; no dia 7 de Junho, o Dia Diocesano da Família (na Senhora da Saúde, nos Carvalhos, Gaia); e 3 de Outubro, o Conselho Diocesano da Pastoral Familiar. D. João Miranda encerrou a jornada, exortando os casais a uma mais profunda vivência do amor mútuo e à participação no sentido da evangelização, à imagem de S. Paulo.