Porto: Igreja tem de contrariar «derivações perigosas» da «globalização e secularização», diz bispo

Expansão da fé depende da intimidade que os fiéis têm com Deus e não dos meios materiais que têm à disposição, frisa D. Manuel Clemente

Porto, 10 jan 2013 (Ecclesia) – O bispo do Porto, D. Manuel Clemente, considera que a Igreja Católica tem de contrariar as “derivações perigosas” da “globalização e secularização” se quiser reavivar uma fé cristã “contrariada por contextos culturais que lhe resistem”.

Num ambiente adverso ao cristianismo “é fácil secundarizar ou relativizar a fé recebida, demorar em transmiti-la, ou recear manifestá-la pública e coerentemente”, afirmou esta quarta-feira durante as Jornadas de Teologia, que terminam hoje no centro regional do Porto da Universidade Católica, refere o site diocesano.

O vice-presidente da Conferência Episcopal criticou a globalização que deixa os cidadãos “indefesos perante totalitarismos de vária ordem, económicos, políticos ou ideológicos”, e refutou o “secularismo” que não dá “espaço nem relevo a dimensões mais definitivas” do ser humano, “onde se jogam a liberdade das pessoas e o significado das coisas”.

“Para contrariar o globalismo dispersivo e o secularismo redutor” são “imprescindíveis” comunidades católicas “presentes e constantes, provenientes de diversas etnias e grupos sociais”, à imagem das primeiras comunidades cristãs, dado que “é indispensável reproduzir hoje as condições que permitiram a revelação de Cristo”, há dois milénios.

A par do anúncio da mensagem cristã, “evangelizar é integrar numa comunidade”, tarefa “realmente difícil” devido à “grande dispersão e constante mobilidade das pessoas e das famílias”, e que por isso é um dos campos mais “urgentes” para a “criatividade” por parte da Igreja.

“Não vos escondo que, em constantes reuniões pastorais nos diversos âmbitos da diocese, este é cada vez mais o tema recorrente e quase prioritário”, disse D. Manuel Clemente na conferência intitulada ‘Do Sínodo dos Bispos ao Ano da Fé na Diocese do Porto’.

O prelado sintetizou as conclusões da assembleia sinodal realizada em outubro no Vaticano, dedicada ao tema ‘A nova evangelização para a transmissão da fé cristã’. onde marcou presença juntamente com centenas de bispos de todo o mundo.

“O que está verdadeiramente em causa é uma fé que se possa legitimamente chamar ‘cristã’ e que importa transmitir”, primazia que para o bispo do Porto “previne qualquer sobrevalorização da novidade dos métodos e das expressões que eventualmente se empreguem, desvio sempre possível mas não desejável”.

O historiador observou que os dois mil anos de evangelização cristã, pontuados por “períodos fortes e períodos fracos”, provam que a expansão da fé depende da intimidade que os fiéis têm com Deus e não tanto dos meios à sua disposição.

D. Manuel Clemente recordou que as épocas mais férteis para a Igreja estão ligadas a um “cristianismo autenticamente ‘cristão’, ou seja, reconduzido a Cristo e ao decalque da sua vida e pregação”, como aconteceu na passagem do século XII para o XIII.

Em contrapartida “não foi exatamente por falta de possibilidades de deslocação e comunicação que entretanto enfraqueceu a presença cristã em largos setores da sociedade e da cultura, de há dois séculos para cá”, assinalou.

As Jornadas organizadas pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica, que começaram na segunda-feira, foram dedicadas ao tema “O Ano da Fé nos 50 anos do Concílio”.

RJM

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