Porto: «Igreja já não passa sem os frágeis» – Américo Azevedo

Vice-presidente do Secretariado Diocesano da Pastoral Saúde do Porto realça que os frágeis não podem «ficar num mundo à parte», e têm que ser «sujeitos de uma nova evangelização»

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Gondomar, 15 jun 2025 (Ecclesia) – Américo Azevedo afirmou que “a Igreja já não passa sem os frágeis”, na Peregrinação Jubilar dos Frágeis e do Mundo da Saúde da Diocese do Porto, realizada este sábado, 14 de junho, no Pavilhão multiusos de Gondomar.

“Uma parte dos doentes, muitas vezes, nem são reconhecidos,  ninguém sabe naquilo que estão. Estes eventos têm a importância, realmente, de poder mobilizar as comunidades locais para irem à procura destas pessoas que estão escondidas, que estão arrumadinhas num canto de sua casa, ou dos lares, e trazê-los para a luz do mundo, mostrar realmente ao mundo que estamos vivos, que a morte não vem com a doença, nem mesmo com o sofrimento”, disse, em declarações à Agência ECCLESIA.

“O sofrimento pode trazer um novo sentido à vida, um sentido de esperança, de reencontro com Jesus Cristo.”

Américo Azevedo passou pela ‘porta jubilar’ que acolhia os participantes da Peregrinação Jubilar dos Frágeis e do Mundo da Saúde da Diocese do Porto, antes de entrarem no pavilhão multiusos de Gondomar, que tinha uma tarja com a inscrição bíblica: “Eu sou a porta! Quem passar por mim será salvo!”.

“Para mim, significou realmente fazer a experiência que qualquer uma das pessoas ditas normais podem fazer facilmente e que nós não temos a possibilidade regularmente de fazer”, explicou o entrevistado, que faz parte da Comunidade Católica com Deficiência Visual.

Cego, com paralisia cerebral, Américo Azevedo sublinhou que foi “importante” ter passado pela ‘porta jubilar’, “passaram já montanhas de pessoas com fragilidade e que se não fosse este evento, não tinham feito esta experiência”, indicando que, “normalmente, a Igreja não está muito atenta a esta realidade das pessoas com necessidades especiais”.

Neste sentido, assinala que este evento propõe-se também a “alertar todas as comunidades cristãs” para a necessidade da Igreja “voltar-se mais para aquelas pessoas que, normalmente, já não estão na Igreja devido à sua condição de fragilidade”.

“Nós, frágeis, não podemos ficar num mundo à parte, temos que ser também sujeitos de uma nova evangelização, deixar de ser objetos para ser sujeitos”, acrescentou.

Para Américo Azevedo, “não basta levar a comunhão a casa de quem está doente, é preciso trazer de novo a esperança”, e dizer-lhes podem também “ajudar a levar a Cristo todos os outros, através do exemplo de fé, de esperança, de saber lidar com a deficiência: “Porque estar doente, estar deficiente, não é algo que mete a medo, não é algo que assuste, é um sinal de esperança, porque não há vida sem sofrimento”.

“Quando nos queixamos de que as Igrejas estão vazias, que há falta de vocações, que há falta de compromisso de cristão, se calhar se apostarmos mais nestas pessoas que estão esquecidas, a Igreja vai ficar mais rejuvenescida, vai crescer outra vez. Nós não podemos perder esta oportunidade, o Ano Jubilar é precisamente um grande momento para isso, para mostrar realmente que nós estamos aqui, dissemos o nosso ‘sim’ ao convite”, desenvolveu.

“No fundo, nós temos de começar a perceber que ‘todos, todos, todos’, como o saudoso Papa Francisco dizia, é que somos a Igreja. A Igreja não pode passar sem estes ‘todos, todos, todos’. E o ‘todos, todos, todos’ é contando com aqueles que normalmente não se contam.”

Esta peregrinação setorial da Diocese do Porto, realizada no contexto do Ano Santo 2025, teve como tema ‘Frágeis peregrinos da esperança’, e também agente de esperança

“É termos consciência de que a Igreja já não passa sem os frágeis. E isto era bom que as pessoas doentes, deficientes, idosos, ouvissem, e as comunidades também. Porque, se a Igreja não tiver atenção a estes agentes de esperança que somos nós, frágeis, não estamos a mostrar o verdadeiro rosto de Jesus. Jesus, quando veio, foi para os mais pequeninos, para os mais simples, para os mais frágeis, para aqueles que a sociedade a rejeitava, punha de lado, descartava”, acrescentou o vice-presidente do Secretariado Diocesano da Pastoral Saúde.

O programa jubilar começou com o acolhimento, seguiu-se uma celebração penitencial, e confissões individuais, antes da celebração da Eucaristia, presidida pelo bispo do Porto, que partilhou “uma especialíssima saudação” com “tão grande número de participantes”.

“A vossa fragilidade não retira a igual dignidade de cada um em relação aos que consideramos saudáveis. Pelo contrário, no mundo da fé cristã, estes devem sentir uma forte responsabilidade moral de se colocarem ao vosso serviço para vos ajudar a afrontar os desafios que a doença e a fragilidade vos colocam, tal como o sofrimento, o isolamento e o sentido a dar à perda de controlo sobre a saúde. Vocês já deram muito aos outros e ainda têm muito a dar. Agora, têm direito a receber”, disse D. Manuel Linda., na homilia.

CB/OC

Foto: Agência ECCLESIA/CB

A Peregrinação Jubilar dos Frágeis e do Mundo da Saúde da Diocese do Porto foi uma organização do Secretariado Diocesano da Pastoral Saúde, com outros secretariados, entidades e instituições.

Américo Azevedo, cego, com paralisia cerebral, é o vice-secretariado do Secretariado Diocesano da Pastoral Saúde do Porto e sente-se “na responsabilidade” de ser luz para as pessoas que “não têm voz muitas vezes, que não tem quem cuida delas no sentido espiritual”, porque, na generalidade, “se todos forem ajudados, cada um à sua maneira, pode ser um testemunho vivo da presença de Deus na vida”.

“É importante que toda a nossa diocese, neste caso a Diocese de Porto, mas também toda a Igreja portuguesa perceba que nós não somos um mundo à parte. Nós somos membros deste mesmo corpo de Jesus, sem nós, o corpo de Jesus fica mutilado.”

O entrevistado recorda que, a partir do momento em que começou a perder “grande parte das capacidades”, é que começou a descobrir Cristo, “porque até aí Cristo não existia” para si, e foi num momento de fragilidade, que se pode “reencontrar com este Cristo Salvador”.

“É preciso que as pessoas nos ajudem a serem os nossos companheiros de viagem, porque ninguém caminha sozinho na Igreja, nem na sociedade, nem na Igreja, como é óbvio”, acrescentou.

Américo Azevedo quer que os “irmãos na fé, aqueles que se sentem sozinhos, triste, abandonados”, tentassem ver na sua participação na Peregrinação Jubilar dos Frágeis e do Mundo da Saúde, “e na presença de muitos outros que estão frágeis”, um sinal de “alarme”, para a Igreja perceber que têm de levar essas pessoas “para a Igreja de novo”.

Especial: Diocese do Porto viveu peregrinação jubilar dedicada aos Frágeis e ao Mundo da Saúde

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