A esperança de quem se sente obra do Senhor
Caros padres, senhores diáconos, estimados seminaristas e fiéis em Cristo, para nós, ministros ordenados do Porto, esta manhã “inteira”, como diria uma das nossas poetisas, assenta em três pilares: a concelebração da mesma Eucaristia e a renovação das promessas sacerdotais, os gestos de saudação e convívio que estreitam os laços da nossa familiaridade e o dirigirmo-nos ao edifício do Seminário para, desde já, assinalarmos as obras de restauro e ampliação. Há uma atitude ou valor que envolve tudo isto: a esperança. Sem ela não teria sentido o exercício do nosso ministério, qual convicção de que apenas constituímos um pequeno hiato entre o momento fundante do Senhor Jesus que nos mandou fazer isto em sua memória e a certeza de que, enquanto o mundo for mundo, sempre se atualizará essa ordem na celebração da Eucaristia.
Sendo para continuar depois de nós, compreende-se que nos gere uma alegria indescritível o facto de lançarmos, oficialmente, as obras de um Seminário primaveril para um tempo que também vai ser novo. Digo isto pelo próprio convencimento e porque urge afastar aquele pessimismo que nos paralisa, como se estivéssemos em fim de linha no campo da fé, da espiritualidade e da Igreja. Não estamos! Pelo contrário, se olharmos ao redor, nestes tempos recentes, vemos que, na força no Espírito de Deus, se cumpre a profecia de Isaías: “Eis que faço novas todas as coisas. Não o vedes?” (Is 43, 18-19). A esperança impõe-se, portanto, por si mesma. Não sejamos negacionistas da evidência.
Neste clima de esperança e confiança, começo por um agradecimento pelo vosso testemunho, pela coragem com que cultivais uma diferença positiva em relação ao comum da sociedade, um agradecimento pelos sonhos e cultivo das sementes de futuro, enfim, pela esperança em que viveis e difundis, qual garantia de que os tempos que aí vêm nós os desejamos e, de algum modo, já os antecipamos.
É na linha desta esperança cristã que hoje projetamos um Seminário novo: novo no edifício e nos métodos formativos. E é na linha da esperança que nos dispomos a colaborar na missão evangelizadora para que o Reino se dilate. Para isto, em tempos de aceleração da história, impõe-se-nos alguns desafios. Permitam que acene brevemente a alguns.
Em primeiro lugar, o desafio da conversão pastoral e da conversão sinodal. Estas supõem a autoridade como serviço e não como poder, isto é, o situarmo-nos na Igreja e não acima dela. O poder só gerou clericalismo e o seu consequente anticlericalismo. Não estamos na Igreja para a determinar, mas somos membros e servidores de uma Igreja que se situa entre Cristo (de quem se recebe) e a humanidade inteira (a quem devemos amar e servir para cimentar a sua união com Deus). Igreja sinodal é uma Igreja em caminho e em comunhão. Não está parada, a olhar para trás ou à espera de melhores oportunidades, a condenar mais do que a dialogar. Ora, a esperança também se fortalece e se testemunha neste “o caminho [sinodal] que Deus espera da Igreja do terceiro milénio” (Papa Francisco).
Depois, consideremos que já estamos no “Ano da Oração”, como etapa preparatória para o Ano Santo que se aproxima, o Jubileu 2025. Num tempo em que muitos remeteram Deus para o silêncio ou O causam de permitir o mal e o sofrimento, precisamos de contribuir para a serenidade de todos, oferecendo “oásis de espiritualidade”, servindo a fé, os crentes e os buscadores de Deus. É curioso que os novos movimentos juvenis, algo em quem depositamos muita esperança, se distinguem todos pela espiritualidade da oração, quando não mesmo pela adoração eucarística. Correspondamos-lhes e ajudemos os outros a corresponder-lhes.
Em terceiro lugar, referiria o desafio da nossa formação contínua. Começa pelo cuidado com a nossa própria direção espiritual e cultura pastoral para se alargar em igual preocupação pela formação dos outros. Prestemos muita atenção àquela conhecida frase de Edgar Morin: “Tudo o que não se regenera, degenera”. Aproveitemos o que na Diocese e fora dela se nos oferece. Nesta linha, entra o sacramento da reconciliação, qual esperança que se alimenta do perdão de Deus.
Finalmente, para não demorar, chamaria a atenção a situações muito concretas e práticas: a indispensável proximidade fraterna que fortalece o presbitério diocesano e alimenta/testemunha a esperança; o convite a dosear o esforço, a evitar o ativismo, a ter tempo para o descanso, a oração, a formação e o encontro fraterno; a imprescindível atitude de evitar esgotamentos que sempre geram o “desencanto”; a “pastoral da escuta ou do ouvido”, qual oportunidade para dar esperança aos outros e para fortalecer o alento em nós; enfim, o cuidado de si, pois somos “uma obra do Senhor” e não apenas aqueles que “fazem obras para o Senhor”.
Irmãos, um Igreja sinodal é uma Igreja em caminho e em comunhão. Por isso, temos muito presentes os que participaram da mesma missão e “nos precederam marcados com o sinal da fé e agora dormem o sonho da paz”, bem como aqueles com quem festejamos especiais momentos históricos. Nesta linha, fazemos memória viva dos seguintes sacerdotes falecidos desde a última quinta-feira santa: Pe. António Emílio Ramalho Vieira da Silva (29/04/2023): Pe. Reinaldo Fernandes Moreira (04/05/2023); Pe. António Luís Teixeira Mendes (25/05/2023); Pe. Pedro Gradim de Sá Mourão (15/07/2023); Pe. José Machado Oliveira (27/07/2023); Pe. Armando de Sousa Ribeiro (21/08/2023); Mons. Manuel Clemente Teixeira (18/09/2023); Mons. Domingos Jorge Duarte do Aido (25/09/2023); Pe. Celestino de Oliveira Félix (07/10/2023); Pe. Rodolfo Orlando Silva Ferreira (08/12/2023); Pe. Manuel de Oliveira de Sousa Vales (30/12/2023); Pe. António Ângelo Alves de Sousa (23/01/2024); Pe. Carlos Alberto da Rocha Moreira (11/02/2024). E dos seguintes Diáconos: Diác. Adalberto David de Oliveira Vieira (22/05/2023); Diác. Jorge Manuel da Silva Moreira (14/08/2023); Diác. Álvaro Francisco Loureiro Pinto de Sequeira (27/09/2023); Diác. Álvaro Pinto (05/03/2024). Eles participem, para sempre, na liturgia celeste.
Em contrapartida, Deus abençoou-nos com as seguintes ordenações de Diáconos em ordem ao sacerdócio (08/12/2023): Pedro Joaquim Gonçalves Teixeira; Adrián Javier Arteaga Paucar; David João Silva Azevedo; David Samuel Brás de Castro Laranjeira. Com os seguintes Diáconos Permanentes (08/12/2023): António Agostinho da Costa Teixeira; Domingos Manuel Neves Moutinho; Sérgio Fernando da Silva Pinto; Carlos Avelino da Silva Lima. E com os seguintes Sacerdotes, ordenados a 9 de julho de 2023: P. Bruno Miguel Coelho Aguiar; P. Filipe Ramos dos Santos; P. João Miguel Moreira Azinheira; Pedro Manuel Lopes da Cunha. A todos, mais uma vez, dou as boas vindas a esta grande família dos ministros ordenados desta Diocese do Porto.
Se Deus quiser, teremos a oportunidade de celebrar as Bodas de prata sacerdotais (25º aniversário da ordenação, em 1999) dos seguintes Presbíteros: Pe. Abílio de Sousa Rodrigues; Pe. Adão Alberto Mota Cunha; Pe. André Daniel Leite Ferreira; Pe. António Fernando Pereira Pinto; Pe. Artur Manuel Monteiro Pinto; Pe. Carlos César Gonçalves Mendes (Vicentino); Pe. Emanuel António Couto da Silva Bernardo; Pe. Hélder Saúl Ribeiro Barbosa; Pe. Hermínio Bernardo Rodrigues Pinto; Pe. Joaquim Jorge Coutinho Soares; Pe. José Carlos Teixeira Ribeiro; Pe. Mário Abel da Costa Duarte; Pe. Mário Henrique Sousa de Melo; Pe. Pedro Manuel de Sousa Oliveira; Pe. Ricardo António Dias da Silva. Igualmente, alegramo-nos com as Bodas de ouro sacerdotais (50º aniversário de ordenação, 1974. Padres do 25 de abril): Pe. Bernardino de Queirós Alves; Cón. Domingos da Costa Monteiro de Oliveira: Pe. Germano Ferreira Leça. Assinalamos, ainda o sexagésimo aniversário de ordenação (1964) de: Cón. Amadeu Ferreira da Silva; P. Domingos de Lima Milheiro Leite; Pe. José de Almeida Campos; Pe. José Maria Gomes Pereira (Vicentino); Pe. Manuel Dias da Silva; Pe. Marílio da Costa Faria. Por seu lado, o Pe. Nuno Álvares Augusto Valente Borges de Pinho celebra o seu septuagésimo aniversário de ordenação (1954).
Irmãos, Santa Edith Stein tem uma frase que vale por um programa de vida: “O que vale a pena possuir, vale a pena esperar”. Vale muito o dom que possuímos: o do Sacerdócio. Vale o Seminário, formador de outros vindoiros sábios e santos sacerdotes. Vale igualmente o futuro em função de quem existimos: a edificação do Reino, a promessa da vida, a certeza de que a humanidade jamais deixará de escutar a grande notícia que é a de que, quanto mais o nevoeiro se torna denso, mais a mão de Deus segura a nossa. Vale a pena ter esperança.
Santa Páscoa.
+ Manuel Linda, 28 de março de 2024