«Nem tudo o que é cientificamente possível é eticamente correto», frisa presidente da comissão organizadora do evento
Porto, 30 set 2016 (Ecclesia) – O congresso da Federação Europeia das Associações de Médicos Católicos (FEAM) está a decorrer no Porto até este domingo, com voz crítica contra várias questões fraturantes como a manipulação genética, a reprodução medicamente assistida e a eutanásia.
Em entrevista concedida hoje à Agência ECCLESIA, António Laureano Santos, presidente da comissão organizadora do congresso, frisou que “nem tudo o que é cientificamente possível é eticamente correto”.
O médico realçou que uma coisa é “a utilização adequada da genética humana no sentido de impedir a manifestação de doenças, da cura ou melhoria de determinadas doenças”, outra coisa, “absolutamente condenável”, é utilizar essas técnicas “para tentar melhorar determinadas capacidades humanas”.
“Isso a Igreja Católica não aceita tranquilamente, primeiro porque há muitos riscos e por outro lado, porque as modificações genéticas podem ter consequências que se transmitem de geração em geração”, salientou António Laureano Santos.
Sobre a reprodução medicamente assistida, recentemente aberta a mulheres solteiras e a mulheres a viverem em união de facto com outras mulheres, aquele profissional de saúde dá também voz à posição da FEAM que vai no sentido de “condenar” esta prática.
“Uma criança que nasce tem direito a um pai e a uma mãe naturais, e não devemos estar a fazer experiências que não conduzam a uma família regulamente estabelecida, nascida do amor de um casal, constituído por um homem e uma mulher. Não podemos tornar lícita uma coisa que não acreditamos que seja natural”, apontou.
A legalização da eutanásia é outro ponto que tem dominado o debate político em Portugal, e também em vários países do mundo.
Para António Laureano Santos, trata-se de uma matéria que está “errada nos seus princípios” e que será “perigosa nas suas consequências”.
“Nós médicos somos preparados para apoiar a vida das pessoas em todos os seus domínios, em todas as épocas da vida, desde o nascimento até à morte, e temos obrigação de lutar contra o sofrimento”, sustentou o membro da FEAM.
No entanto, “aplicar um medicamento com o intuito de provocar a morte deliberadamente, com o consentimento do doente, que é isto que no fundo constitui a eutanásia, é um ato condenável”, acrescentou.
Intitulado “Os médicos, a Igreja e a Europa”, o congresso da Federação Europeia das Associações de Médicos Católicos conta com a presença de cerca de 140 profissionais do setor.
No meio de outras questões mais especificamente ligadas à área da saúde, como a relação médico – paciente e a presença da Igreja Católica nos hospitais, os participantes tiveram já a oportunidade de abordar a temática das migrações na Europa, no contexto do fluxo de migrantes e refugiados que têm acorrido ao Velho Continente, e que também desafia a ação dos médicos católicos.
Para António Laureano Santos, é urgente congregar meios no sentido de “dar apoio às pessoas que fogem da penúria, da miséria e da guerra e não criar barreiras”, como “sistematicamente” tem acontecido.
O congresso da Federação Europeia das Associações de Médicos Católicos acontece na no contexto também dos 50 anos da FEAM e dos 25 anos de atividade da Pastoral da Saúde no Porto.
JCP