D. Manuel Linda destacou profunda transformação que o Porto sofreu nas últimas décadas, sobre a qual defende que deve assentar o novo ímpeto necessário para a pastoral

Porto, 13 out 2025 (Ecclesia) – O bispo do Porto manifestou o desejo por “uma pastoral de conjunto, articulada e em rede” para a cidade, na missa a que presidiu no Jubileu das Paróquias, este sábado, na Sé.
D. Manuel Linda considera que “ponto de partida para o novo ímpeto que é necessário para a pastoral da cidade tem de assentar na profunda transformação” que esta “sofreu nas últimas décadas e, de forma mais acelerada, nos últimos anos”, pode ler-se na homilia disponibilizada pela Diocese do Porto.
“É uma transformação que gerou uma grande polaridade social e cultural; novas formas de pobreza […]; redução do número de residentes, particularmente nas freguesias do centro histórico; concentração da economia da cidade no turismo e atividades conexas; aumento muito considerável da população imigrante”, apontou.
Como resultado desta mudança, o bispo do Porto indicou que se acentuam fenómenos cujos sintomas se sentem na população, entre eles o “deslaçamento das comunidades paroquiais, com um número crescente de fiéis a mudar-se para fora do Porto”; “a agudização da solidão”; “o agravamento do sentimento de medo e de diferença face ao outro, motivando fenómenos racistas e xenófobos”, entre outros.
Tudo isto exige uma pastoral de conjunto, articulada e missionária, e não apenas de manutenção”, frisou D. Manuel Linda, acrescentando que a “pastoral do conjunto deve olhar para esta realidade com os olhos de Jesus: escutando, servindo, curando e evangelizando”.
“Somos chamados a unir forças para responder juntos aos desafios da cidade, sem agir isoladamente, mas em comunhão eclesial”, assinalou.
Segundo D. Manuel Linda, a “resposta a estes desafios requer um esforço de toda a sociedade”, mencionando que à Igreja se pede “a motivação para uma verdadeira cultura de encontro”.
“Pede-se uma maior capacidade de trabalhar em conjunto; um esbatimento maior das fronteiras entre as Paróquias e as duas Vigararias” e “o fortalecimento da presença no mundo universitário e a recuperação do tradicional associativismo católico laical”, salientou.
O bispo do Porto defende que “urge passar de uma pastoral de ‘silos’ paroquiais para uma pastoral ‘em rede’ e com projetos abrangentes” e que seria “relevante não só a coordenação dos horários das celebrações entre paróquias, como a sua divulgação, e dos restantes serviços paroquiais, de forma integrada”.
“Os horários das Secretarias devem ajustar-se às reais necessidades das pessoas. A experiência do discernimento espiritual comunitário e sinodal, através do método da conversação no Espírito, deve ser encorajada dentro de um processo contínuo de formação nas comunidades”, afirmou.
Na homilia, D. Manuel Linda propôs ainda três pontos para uma pastoral citadina, orgânica e em rede: uma maior abertura ao outro e à sociedade, o fomento da comunicação e sinergia pastoral e um novo ímpeto eucarístico e catequético.

O Jubileu das Paróquias do Porto, inserido no contexto das celebrações do Jubileu 2025, realizou-se na Solenidade da Senhora de Vandoma, padroeira da cidade, que o bispo assinalou na celebração.
“Como sabem, a sua imagem, posteriormente colocada por cima da principal porta das muralhas do velho burgo, viajou até nós, nos finais do primeiro milénio, trazida pelos cavaleiros e militares que, do País Vasco francês, aqui vieram consolidar a paz e a segurança num contexto de grande precaridade e ameaça para os habitantes da cidade que hoje somos”, lembrou.
Segundo D. Manuel Linda, “de algum modo, fazer germinar a vontade de autonomia que, duzentos anos mais tarde, com os cavaleiros de Entre Douro e Minho e D. Afonso Henriques haveriam de levar à independência nacional e ao colocar nas nossas mãos o nosso próprio destino”.
“A Senhora da Vandoma associou-se, por isso, ao futuro, ao tempo novo, à consumação da esperança. Também hoje, nos assegura futuro e não regresso ao passado. Futuro de uma fé que há de funcionar cada vez mais como fermentadora de uma cultura mais humanística e promessa de santidade, pois esta relaciona-se com a bondade e a beleza, algo que todos apreciam imensamente”, destacou.
LJ/OC