Futuro desta instituição tem estado em causa devido a alegados casos de maus-tratos
Porto, 25 mar 2017 (Ecclesia) – A Diocese do Porto publicou hoje uma nota pastoral dedicada à Obra do Calvário, instituição para pessoas mais desfavorecidas criada pelo Padre Américo, e cujo atual diretor, o padre António Baptista, foi condenado por alegados crimes de maus-tratos.
No seu texto, D. António Francisco dos Santos destaca a importância de uma obra que ao longo de 62 anos tem servido como último refúgio para inúmeras “vítimas de uma pobreza escandalosa”, além de “doentes incuráveis e deficientes profundos”.
O padre António Baptista assumiu o projeto em 1957, um ano depois da morte do Padre Américo.
“Mais de mil pessoas ali encontraram guarida, gente sem família, rejeitados que se arrastavam, pessoas acamadas e com doenças não identificadas”, consideradas como “lixo” pela sociedade que as “repelia e tudo fazia para esconder”, frisa o responsável católico, que realça ainda o contributo humano dado por aquela valência, mesmo sem qualquer apoio do Estado, “nem um tostão”.
“Quantos por ali ensaiam uns passos que nunca antes deram, uma atividade que se julgara impossível, uns abraços que jamais tinham sentido e uns sorrisos que, doravante, permanecerão sentidamente retidos! Verdadeiros milagres…”, considera o bispo do POrto.
Atualmente permanecem na Obra do Calvário, na localidade de Paredes, cerca de 70 pessoas, que, segundo D. António Francisco dos Santos, têm de ter direito a continuar a escrever a sua história numa sociedade onde “os mais frágeis nem sempre merecem atenção".
O bispo do Porto realça também a importância de salvaguar o testemunho de um homem, o padre António Batista, que “abdicou de muita coisa e talvez tenha abdicado muito de si, buscando apenas servir”.
“Nunca foi fácil em tempo algum e muito menos na nossa contemporaneidade, assumir coerentemente aquilo em que se acredita e preparar-se para arcar com todas as consequências que daí resultam: o reconhecimento, a incompreensão, a humilhação e a nossa própria desadequação”, escreve o prelado.
Para D. António Francisco dos Santos, a melhor forma de “salvaguardar este testemunho” será “preservando” a Obra do Calvário, saída do mesmo espírito solidário que guiou o Padre Américo na criação de outras obras, como a Casa do Gaiato.
“Há momentos em que parece que só nos cabe o direito de rezar e apenas nos assiste a liberdade de tudo colocar no coração de Deus. Rezo também hoje com o Padre Américo pela Obra da Rua, pelos seus rapazes, pelos seus doentes, pelos seus beneméritos e pelos seus padres”, conclui o bispo do Porto.
Durante o julgamento, o padre António Baptista, de 86 anos, sempre negou as acusações de que foi alvo, nomeadamente 13 crimes de maus-tratos contra crianças e idosos portadores de deficiência.
No final do processo, foi absolvido de oito das acusações e condenado a uma sentença de dois anos e nove meses de prisão, com pena suspensa.
JCP