Portalegre-Castelo Branco: Jovens «adotam» um avô e vão escrever postais de Natal aos idosos

«Não queremos abandonarmo-nos uns aos outros mas queremos unirmo-nos e cuidar de quem está mais sozinho» – Rita Santos

Lisboa, 27 nov 2020 (Ecclesia) – O Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude e Vocações de Portalegre-Castelo Branco está a dinamizar o projeto ‘Adota um Avô’ especial Natal, mobilizando também a juventude de outras regiões que combatem o isolamento provocado pela pandemia.

“Tentarmos fazer estes pequenos gestos e mostrar que não estão esquecidos, que gostamos deles mesmo sem os conhecermos. É muito especial, mostra que não queremos abandonarmo-nos uns aos outros mas queremos unirmo-nos e cuidar de quem está mais sozinho”, disse Rita Santos, da Paróquia de São Miguel da Sé em Castelo Branco, em declarações à Agência ECCLESIA.

“Seremos mais felizes se contribuirmos para a felicidade dos outros” é a forma como a jovem de 17 anos rege a sua vida e, por isso, também vai ‘Adotar um Avô’ neste “Natal tão atípico” porque “os idosos estão muito mais isolados” e esta quadra “vai ser muito mais complicado, porque não têm as pessoas que amam perto”.

João Paulo Pedro, da Paróquia de Alferrarede, em Abrantes, também salienta que os idosos “acabam por estar numa situação mais complicada, estão mais isolados”, e vê na sua paróquia, em Alferrarede, que “acabam por sentir que estão um pouco abandonados e não lhes é dada importância”, afirmou.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o o estudante de ‘Discursos: Cultura, História e Sociedade’, doutoramento no Centro de Estudos Sociais de Coimbra, de 26 anos, revela que vive com a avó e vê “o impacto” da pandemia em alguém que “está acompanhada diariamente com a família”, por isso, “há que imaginar quem não tem essas condições”.

“Ao estar a fazer isto, e todos os outros jovens, acabamos por dar alguma esperança neste tempo, mesmo que seja pequenina, e eles sabem que não são esquecidos e há quem esteja com eles e a pensar neles também”, acrescentou.

Os jovens podem enviar até três postais de Natal para idosos que estão em instituições e os dois entrevistados para além de escrever vão fazer os seus próprios postais de Natal.

“Estou a desenvolver as ideias, vou optar por coisas mais chamativas, há idosos que nunca aprenderam a ler, ou não veem tão bem. Vou pôr um pequeno texto, dar a ideia que não está sozinho, e fazer uma coisa mais alegre também para os distrair”, adiantou Rita Santos, que faz parte da equipa do Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude e Vocações de Portalegre-Castelo Branco desde “meados de abril”.

João Paulo Pedro conta que já comprou “o material para fazer os postais” e destaca que “acaba por ser diferente” quando são feitos pelos jovens: “Saber que estou a tirar do meu tempo para fazer algo que é importante para outra pessoa acaba por ter impacto maior nos idosos a quem vou enviar o postal.”

“No meio de tanta confusão vamos lembrando-nos de coisas que existiam há muito tempo, idosos que passam o Natal sozinhos ou não têm familiares, e nunca nos tínhamos lembrado de fazer postais, são coisas boas no meio de tanta adversidade”, acrescentou a jovem estudante de 17 anos.

João Paulo Pedro  já tem “alguma experiência a lidar com algumas das situações” que a pandemia veio agora revelar “mas que já existiam antes”, por isso, “já estava sensibilizado” e sublinha que, “agora que toda a gente está a começar a perder a esperança”, com oito meses de pandemia, “era importante dar alguma esperança e mostrar aos idosos que eles são importantes”.

Foto: Comissão de Gestão do Património Religioso – Diocese de Portalegre-Castelo Branco

Em declarações à Agência ECCLESIA, a diretora do Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude e Vocações de Portalegre-Castelo Branco contextualizou que a esta iniciativa surgiu “com duas dimensões, a social, caritativa em relação aos idosos, e a dimensão pastoral para os jovens”.

“Queríamos que os jovens se empenhassem a ser missionários como Jesus nos pede”, assinala a irmã Fernanda Luz, adiantando que o projeto vai ter também uma edição “especial Páscoa” e ainda incentivam os jovens, “caso queriam, que se inscrevam para escrever um postal no aniversário do idoso”.

A diretora do Secretariado da Pastoral da Juventude e Vocações destaca que a “adesão superou muito as expectativas, muito pelos jovens da diocese mas também de todo o país” e da parte das instituições também.

“Temos bastantes netos à espera de um avô. Temos quatro lares que nos irão dar a resposta hoje ou segunda-feira. A dimensão da intergeracionalidade é algo que está a agradar muito à juventude”, salientou a religiosa Salesiana, revelando que há uma escola em Abrantes que “tem um grupo de voluntariado que assumiu uma instituição e há um lar da zona de Cascais que hoje será o primeiro a receber os postais para ficarem em quarentena”.

No dia 19 de dezembro, adianta, vão “convidar os jovens” para participarem num momento de oração de preparação para o Natal “rezando pelos avôs e pelos netos, uma forma de agradecer pelos que se empenharam”.

‘Adota um Avô’ também se realizou durante a quarentena e a irmã Fernanda Luz explicou que no final do confinamento imaginaram que “ia ficar melhor” e fizeram um projeto para apoiar “os idosos nas novas tecnologias”, uma terceira parte que está adiada mas vão “ajudar a reduzir a grande infoexclusão”.

O projeto é uma primeira iniciativa do ‘Take 23’ do Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude e Vocações de Portalegre-Castelo Branco que todos os meses vai lançar uma proposta de preparação para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2023, em Lisboa.

João Paulo Pedro, pertence ao grupo de jovens da Juventude Mariana Vicentina da Paróquia de Alferrarede, participou pela primeira vez na JMJ de Cracóvia, em 2016, e recorda “a ideia de visualizar uma Igreja que não é só a paroquiazinha” mas “uma multidão de jovens e todos fazem parte da mesma Igreja que se reúne, celebra”.

“Essa sensação que estamos numa Igreja gigantesca e ocupa todo o mundo. Encontrei pessoas daquelas províncias do norte do Canadá, de origem Inuit, e que apesar da distância fazemos parte da mesma Igreja, o sentimento de ser um no meio de uma grande multidão é o que mais se tira das jornadas”, desenvolveu.

Aos 17 anos, Rita Santos ainda não participou numa edição internacional da JMJ mas conta que está “muito empolgada”, quer “conhecer pessoas, crescer mais na fé” e ser jovem “com a Igreja”.

Lisboa foi escolhida como primeira cidade portuguesa a acolher uma edição internacional da JMJ, a 27 de janeiro de 2019, no Panamá; Estas edições promovidas pela Igreja Católica são um acontecimento religioso e cultural que reúne centenas de milhares de jovens de todo o mundo, durante cerca de uma semana.

CB

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Agência ECCLESIA

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