Portalegre-Castelo Branco: D. Pedro Fernandes, «aprendiz de bispo», terá todos «como professores, e como acompanhadores e tutores» nessa escola

«Somos todos chamados ao serviço, somos chamados à missão, e a missão, vivida na fé, apresenta sempre este perfil de surpresa e de novidade», destaca o bispo eleito da diocese

D. Pedro Fernandes afirma que foi “uma proposta completamente inesperada” ser nomeado bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, pelo Papa Leão XIV. Em entrevista à Agência ECCLESIA, o sacerdote da Congregação dos Missionários Espiritanos conversou sobre a vocação, a experiência da missão em África, e a mudança, agora, para uma diocese do interior de Portugal.

O segundo bispo espiritano da Diocese de Portalegre-Castelo Branco que vai “apanhar um comboio que já está em andamento”, referiu-se aos leigos e à sinodalidade, aos padres, cuja “primeiríssima impressão é excelente”, e aos jovens que “podem esperar proximidade e disponibilidade” do seu novo bispo.

D. Pedro Fernandes vai ser ordenado bispo na cidade de Portalegre, no dia 16 de novembro. Antes, foi entrevistado na casa provincial dos Missionários Espiritanos, em Lisboa, para o Programa 70×7, transmitido este domingo (9 de novembro), na RTP2.

Entrevista conduzida pelo jornalista Henrique Matos

Agência Ecclesia (AE) – Como é que acolhe agora este desafio que a Igreja lhe propõe?

D. Pedro Fernandes (PF) – Obrigado pela vossa vinda. Acolho com disponibilidade, porque essa é uma característica, penso eu, dos missionários do Espírito Santo, e penso que de todos os cristãos que são chamados a isso. Portanto, há alguma abertura.

É, efetivamente, uma proposta completamente inesperada e, portanto, uma surpresa que demora o seu tempo a digerir. E estou, por isso, a tentar fazer esse processo, mas acolho com esperança, porque a verdade é que somos todos chamados ao serviço, somos chamados à missão, e a missão, vivida na fé, apresenta sempre este perfil de surpresa e de novidade. E, portanto, há que estar aberto a isso, e os desafios fazem-nos sempre muito bem, a nível pessoal e a nível comunitário também. Sem dúvida que é uma situação que me faz sair da minha zona de conforto, mas, por outro lado, se calhar, projeta-me para uma nova caminhada que será, certamente, sem dúvida, enriquecedora também para mim e espero para os outros.

 

AE – É uma grande mudança, penso eu, porque o missionário, e o caso dos missionários espiritanos, estão focados também noutras latitudes do mundo e têm um desenvolvimento da atividade missionária muito, digamos, globalizado, porque estão continuamente em interação com outras realidades culturais, com outros missionários.

É uma mudança muito abrupta, agora, ir para uma diocese do interior do país? 

PF – Por um lado, sim. Por outro lado, não. Aí está uma resposta diplomática. Por um lado, sim, porque, efetivamente, uma das nossas características principais, mais marcantes, é mesmo a missão Ad Gentes. Somos chamados à primeira evangelização, ao serviço entre povos que não ouviram a mensagem do Evangelho e, portanto, muito facilmente nos encontramos em situações muitíssimo diversas daquelas que conhecemos em Portugal. Nesse sentido, evidentemente, é diferente. Eu trabalhei em Moçambique, tinha trabalhado em Angola por um tempo também, onde fui passando por diferentes realidades, sobretudo em contexto africano. E, portanto, nesse sentido, a diferença e a mudança abrupta, ainda que eu já estivesse em Portugal há vários anos.

Por outro lado, há, com certeza, uma continuidade, porque a missão, para além da sua dimensão geográfica, ela é, sobretudo, existencial, humana, junto das pessoas. Ela tem, também, esta característica da diversidade e da necessária integração e gestão das diferenças e, portanto, onde quer que estejamos, esse desafio coloca-se. No caso de Diocese de Porto Alegre-Castelo Branco, não há exceção. É uma diocese, também, com bastante diversidade, bastante heterogénea e com desafios de missão e de evangelização até relacionados com a interioridade e com as características que já conhecemos.

 

AE – O que é que já conhece ou o que é que já conhecia desta realidade de Igreja, desta realidade também de espaço territorial do nosso país?

PF – Em relação ao país, vou conhecendo, já cá estou há bastantes anos, e sou português.

 

AE – Refiro-me à diocese, ao espaço territorial da Diocese de Portalegre-Castelo Branco.

PF – Quando foi feita esta proposta de ir para Portalegre-Castelo Branco, a minha primeira reação foi dizer mas estão-me a propor ir para a diocese portuguesa que eu conheço menos, porque, efetivamente, passei por diferentes razões, ou por um lugar ou por outro e tive algum contato com diferentes realidades. No caso de Portalegre-Castelo Branco, o conhecimento era quase zero. Bom, foi-me dito que, se calhar, isto seria uma vantagem e etc.

E eu acolhi esta argumentação, porque, em qualquer dos casos, em rigor, nunca há territórios verdadeiramente desconhecidos porque há um pressuposto de fraternidade e de comunhão que nos torna verdadeiramente irmãos onde quer que estejamos e com quem quer que estejamos. Portanto, de facto, o meu conhecimento da realidade da diocese era muito perto do zero. Evidentemente que agora, nestas últimas semanas, tenho tentado aproximar-me e conhecer um pouquinho melhor, mas estou ainda na pré-história desse caminho. E tenho consciência de que, pela frente, há um itinerário longo de conhecimento, de escuta, de aprendizagem, que tem que ser feita, naturalmente, com as pessoas da diocese, com o clero da diocese e com o povo de Deus, claro.

 

AE – Foram seis anos como responsável provincial aqui dos missionários espiritanos. É uma mais-valia, também, este know-how adquirido para o governo de uma diocese?

PF – Creio que sim. Todas as nossas experiências humanas e eclesiais são missionárias, são sempre uma mais-valia. Neste caso concreto, evidentemente que houve uma longa experiência, uma forte experiência de gestão de pessoas, de situações missionárias, de desafios de diversa ordem e, portanto, este contacto com a necessidade de gerir pessoas e de gerir obras e missão, naturalmente que existiu fortemente.

Os anos que eu passei em África também acabaram por ser uma experiência muito enriquecedora para mim, que passou muito também pela gestão de pessoas e de missão, porque, durante o tempo que lá estive, acabei por desempenhar funções muito ligadas à coordenação pastoral da diocese, etc. E, portanto, acabou por trazer também um know-how que é o que é, com as suas pobrezas e também algumas riquezas.

E, como eu dizia, qualquer que seja a nossa experiência humana e missionária, é sempre enriquecedora para a experiência seguinte. Somos uma cadeia de muitos elos, e os elos anteriores são sempre importantes para os seguintes.

 

AE – Recorda quando um dia chegou à África a primeira vez, acho que como diácono, que fez a sua primeira experiência missionária continuada nesse território. Depois, Moçambique adquiriu ali um conhecimento de Igreja que contrastava muito com a Igreja que vivíamos em Portugal, que aqui faz caminho. São realidades muito diferentes.

E sei que a dado momento, já na realidade de Moçambique, estimulou muito a formação dos leigos, dos catequistas. Podemos dizer que, de alguma forma, aquela realidade de Igreja antecipa, de certa forma, a realidade sinodal que estamos a viver agora aqui no nosso país.

PF – Eu diria que sim. Não sei se antecipa, mas em todo caso expressa, concretiza. A realidade das Igrejas Africanas ou da Igreja em África, ela também é muito plural. A minha primeira experiência em contexto de missão Ad Gentes e em África foi na Guiné-Bissau, como disse estagiário, como diácono, e era um contexto de primeira evangelização pura. Estávamos no interior do país, em território manjaco, e o trabalho da Igreja era muito um trabalho de catecumenado. E, na verdade, tivemos os primeiros 18 batismos naquela comunidade, no período em que eu lá estive. E era uma realidade muito desafiante, como proposta do Evangelho, no meio de uma cultura riquíssima, lindíssima, mas completamente alheia à tradição cristã.

Isso foi muito enriquecedor. Desafiou-me a alargar a minha capacidade de flexibilidade, de acolhimento da diferença, de perceção dos valores e da riqueza dos outros, que são mesmo outros, mesmo muito diferentes, em muitos aspetos, e ao mesmo tempo são totalmente mesmos, porque a gente reconhece a nossa humanidade, e tantos dos nossos reflexos muito fundamentais em todas as pessoas, em todas as culturas. Alguém dizia, afinal, o amor e o carinho com que uma mãe abraça um filho é exatamente o igual em África, na Ásia ou na Europa, ainda que depois, naturalmente, as expressões culturais das relações parentais, ou outras, sejam muito diferentes.

Esse exercício de alargamento das próprias capacidades de relação, de escuta, e de autossuperação, e de relativização também, de muitas certezas absolutas, que depois começam a ser questionadas a partir de realidades diferentes, acaba por ser um exercício interessante.

No caso de Moçambique, a realidade era bastante diferente, também era de primeira evangelização, mas no contexto de uma Igreja já muito constituída, com muitíssimas comunidades. O primeiro lugar onde estive, tínhamos 136 comunidades cristãs, éramos uma equipa de, logo no início, de dois, depois passámos a três, mas muitas destas comunidades eram tão grandes como algumas das nossas paróquias aqui.  E, portanto, éramos desafiados a ter uma presença que, evidentemente, não podia ser permanentemente física, mas uma presença que era muito de coordenação e de acompanhamento das lideranças laicais. E aí a gente aprofunda esta dimensão fundamental, ou esta certeza fundamental, de que a Igreja somos nós, todos. E são mesmo todos. O papel, neste caso, dos missionários, dos padres religiosos, religiosas que estavam lá, era sermos equipa, trabalhar em coesão, e em muita escuta e muita relação com todos aqueles que estavam a caminhar no terreno, e a trabalhar arduamente, a arregaçar as mangas, para servir aquela Igreja e aquelas comunidades. Portanto, o nosso trabalho era muito de acompanhamento, de formação das diferentes lideranças.

Em Moçambique, as comunidades cristãs, nós chamamos pequenas comunidades ministeriais, em que é suposto que todos os seus membros tenham tarefas, funções, ocupem um lugar específico na comunidade, importante, importante sempre, para todos, e o trabalho era coordenar isso, acompanhar aquela máquina enorme, organizativa, que tinha uma característica pastoral e social muito acentuada. E mais do que fazer, era acompanhar e ajudar os outros a fazer. Programar, formar, avaliar, prosseguir. E isto, sim, isto é muito enriquecedor para qualquer missionário, para qualquer padre ou religioso.

 

AE – Por aqui ainda se vive um bocadinho algum saudosismo da grande cristandade. Por vezes, ainda desenhamos planos pastorais para uma realidade que se calhar já não existe. E o território que agora tem pela frente, Portalegre-Castelo Branco, parece-me ter algumas semelhanças com essa realidade que estava a referir. E se calhar é também uma zona de pastoral, um território de pastoral, onde é necessário que as pessoas comecem a assumir responsabilidades mais específicas da Igreja.

PF – Eu acredito que esse caminho já, evidentemente, foi iniciado, foi feito. Eu vou apanhar, naturalmente, vou apanhar um comboio que já está em andamento, eu vou entrar nele como quem aprende e como quem, humildemente, se coloca ao serviço de um caminho que já existe, que já está a ser feito.

Mas, como diz, a relação à realidade da Igreja na Europa, e no Ocidente, e nas velhas Igrejas, digamos, há um desafio importante. Que, por um lado, é aproveitar toda a memória, toda a experiência feita, da qual nós não podemos fazer, evidentemente, tábua rasa, e, portanto, colher toda a riqueza que foi vivida, recolhida, em diálogo com o Espírito Santo, naturalmente, ao longo de séculos.

Por outro lado, temos uma realidade, como diz, efetivamente nova, novos desafios. E quando o Papa João Paulo II lançou todo o projeto da Nova Evangelização, quando o Papa Francisco centrou todo o seu pontificado neste tema da missão, e da abertura, e do serviço, e do diálogo, e da escuta, e da sinodalidade, naturalmente, tinham bem presente o facto de vivermos tempos novos, a tal famosa mudança de época, e que precisam de respostas novas. Portanto, o mesmo Jesus Cristo, ontem, hoje e por toda a eternidade, claro que tem de ser proposto de uma forma audível, de uma forma legível, pelos nossos contemporâneos. Isso é um desafio.

Alguém dizia que é mais fácil construir de novo, do zero, na construção civil também, do que restaurar, ou do que trabalhar a partir de edifícios já existentes. Não se trata aqui, naturalmente, de restaurar, trata-se de prosseguir a história, e de perceber os desafios próprios da história, sem cair nem no saudosismo, nem no restauracionismo, nem em tendências defensivas, autopreservadoras, que acabam por estragar a missão, e por estragar até a nossa própria comunhão como Igreja.

E essa tentação da autopreservação, e da defesa de padrões que serviram muito bem noutros desafios, é uma tentação que não me parece que venha de Deus. E, por isso, é preciso estar atento a ela, e distinguir aquilo que é o respeito sagrado pela memória, daquilo que é uma autopreservação doentia, que nos impede de avançar e de viver a missão.

 

AE – E tem esperança, ou vais percebendo que, por cá, também, nas comunidades há leigos com disponibilidade para assumirem ministérios, para dar corpo a essa Igreja também ministerial, dando continuidade também àquilo que está expresso no documento sinodal, desta Igreja que caminha lado a lado?

PF – Estou absolutamente convencido disso. Há imensíssimos leigos e leigas nas nossas comunidades cristãs, por todo o país, na Europa, que dão a vida, que servem na catequese, nos serviços litúrgicos, nos serviços sociais, enfim, em vários âmbitos da pastoral, ou da solidariedade, humana, a partir de convicções cristãs e de um enraizamento na Igreja. Não faltam pessoas que estão profundamente comprometidas nisso, em muita diversidade também, de modos de estar, de ser, de olhar, e todas essas pessoas, claro que são bem-vindas e pertencem.

E, portanto, eu acho que o primeiro passo de qualquer serviço de liderança na Igreja é reconhecer essa pertença de todos, valorizar tanta riqueza que existe em tantas pessoas e, naturalmente, potenciar essa riqueza e estimulá-la, acolhê-la, integrá-la e contribuir para que aconteça cada vez com maior intensidade, cada vez com maior compromisso. Claro que há desafios de motivação para tantas outras pessoas que, eventualmente, continuam a estar na Igreja mais como consumidores do que como contribuintes, digamos assim. Mais como gente que vai receber serviços, vai à Missa, vai aos casamentos, aos batizados e aos funerais, e não chegou ainda a perceber que a Igreja é ela própria, e é chamada a dar a sua parte e a entregar-se.

E, na verdade, quanto mais nos damos, mais nos enriquecemos. Esta é uma lógica bastante anticapitalista porque, na verdade, quanto mais gastamos, mais temos. Quanto mais nos gastamos, mais temos. E esta é a dinâmica pascal da fé cristã. E, portanto, ajudarmo-nos todos uns aos outros a compreender isto e a compreendê-lo não apenas intelectualmente mas, na experiência, parece-me que é um desafio para nós todos e, portanto, também para o bispo.

 

AE – Como missionário espiritano, trabalhou muito com os jovens, nomeadamente dinamização de vários grupos. Os espiritanos, os Jovens Sem Fronteiras, por exemplo, são apenas um dessas expressões. O que é que espera o Bispo de Portalegre-Castelo Branco dos jovens daquela região? O que é que eles também podem esperar do seu novo bispo?

PF – Os jovens de Portalegre-Castelo Branco, do seu novo bispo, podem esperar proximidade e disponibilidade.

Disponibilidade para estar com eles, para aprender com eles, para caminhar junto e, portanto, sim, vou procurar, nas minhas muitas limitações, estar perto de todos e, portanto, também dos jovens e, especialmente, dos jovens, porque me parece que eles têm tanto, tanto a dar à Igreja e a sua riqueza é tão grande que me parece que seria completamente insano tratá-los como se fossem apenas mais um setor social na vida da comunidade cristã.

Os jovens, parece-me, são absolutamente determinantes, não é só porque são o futuro, mas é porque são o presente, e porque eles são a sinalização fundamental do nosso modo apropriado de estarmos num mundo contemporâneo. Eles, mais do que qualquer outro grupo social, podem-nos mostrar, nos dar os sinais de trânsito por onde devemos ir. Naturalmente, a grande referência é Cristo e é o Evangelho e é a escuta do Espírito mas esta escuta do Espírito acontece na escuta dos outros, e na escuta da comunidade cristã através da qual o Espírito nos fala e, portanto, a voz dos jovens é fundamental.

O que é que eu espero dos jovens? Que sejam eles próprios, que ouçam as vozes de Deus nas suas vidas, que se ponham, portanto, à escuta e que estejam disponíveis, que não tenham medo, como dizia o Papa João Paulo II, que escancarem as portas a Cristo, e que se deixem guiar por este Cristo que está presente já nas suas vidas, e nos seus questionamentos e nas suas buscas de sentido, e tantos estão fortemente investidos nisso. E dou graças a Deus por isso.

 

AE – Existem também os presbíteros que são uns diretos colaboradores do bispo, e também eles estarão na expectativa de quem chega. Que género de relação, de construção, de Igreja quer estabelecer com estes sacerdotes desta diocese que, obviamente, serão muito diferentes uns dos outros pela faixa etária, pelo envolvente cultural também em que cresceram, mas são padres ao serviço da Igreja.

PF – Já fui conhecendo alguns, e a minha primeiríssima impressão é excelente, eu diria, não podia ser melhor. Evidentemente, que parto do princípio que todos eles têm, como disse, diferentes personalidades, diferentes backgrounds, modos diferentes de estar, etc. Eles serão os meus mestres.

Eu estou a entrar numa nova realidade na qual preciso de aprender e, portanto, evidentemente que serei aprendiz de bispo, e essa escola aí terá como professores, e como acompanhadores e tutores todos, mas de modo muito especial, naturalmente, o presbitério da diocese com o qual quero estabelecer relações da maior proximidade possível, da maior fraternidade possível, porque o bispo é, sobretudo, um irmão. E, portanto, é um irmão de todos, que caminha com todos e que ajuda todos a perceber os laços essenciais de fraternidade que compõem a Igreja, e que nos faz ser Igreja, uma fraternidade fundada numa filiação, filiação deste Cristo que nos faz a todos irmãos e filhos do mesmo Pai.

E, portanto, esta filiação e esta fraternidade tem de ser vivida em primeiro plano com os presbíteros, e dos presbíteros entre si, portanto, o clero entre si, também com os diáconos, naturalmente. E, portanto, se nós não vivermos isso, dificilmente podemos propor isso aos outros todos com algum crédito, com alguma credibilidade.

 

AE – Não será o primeiro bispo espiritano da Diocese de Portalegre-Castelo Branco…

PF- Não, é engraçada a coincidência. D. Agostinho de Moura foi bispo desde o início dos anos 50 até 1978, em Portalegre-Castelo Branco. Os espiritanos portugueses tiveram vários bispos ao longo da sua história, mas todos eles fora de Portugal.

Que eu saiba, o único bispo em contexto propriamente português foi mesmo D. Agostinho de Moura em Portalegre-Castelo Branco em tempos muito diferentes e com outros desafios. E, portanto, ele está nesta longa sucessão de pastores e missionários que passaram por aquelas terras ao serviço daquele povo e daquela Igreja e eu vou, como dizia há bocadinho, vou entrar nesse comboio, agora numa outra carruagem.

 

AE – Um jovem de Benfica, de Lisboa, é um lisboeta, um dia sentiu vocação para uma entrega mais aprofundada na Igreja. Alguma vez pensou chegar onde a Igreja agora lhe pede que a sirva?

PF – A resposta óbvia não. Se fosse sim, também não ia dizer que sim. Mas de facto é, não me passou pela cabeça, na verdade. A fé e a relação com Deus e a inserção na Igreja sempre esteve muito presente na minha infância. Era algo muito forte por formação e contexto familiar mas também, acho eu, por sensibilidade pessoal, e por um trabalho que o Nosso Senhor vai fazendo também connosco, com todos nós e cada um a seu modo.

E, portanto, Deus sempre esteve presente na minha vida. Durante muito tempo nunca me passou pela cabeça que viria a ser padre. Passei a escola secundária sem que isso sequer se colocasse como uma remota possibilidade. Portanto, uma experiência de fé, de oração, de inserção na Igreja que me trouxe esse questionamento, essa inquietação e que, afinal, me fez perceber que, no fundo, ela tinha sempre estado presente de uma maneira mais ou menos latente, intensa, mas não consciente e que, por isso, me foi permitindo ir aprofundando, a partir de certa altura, na adolescência, essa possibilidade.

Ficou claro, bastante cedo, que aquilo a que Nosso Senhor me chamava seria, realmente, a vida missionária, e a experiência de missão em contexto de primeira evangelização e, certamente, de serviço aos mais pobres, e de disponibilidade para, eventualmente, as tarefas ou as situações com mais dificuldade em encontrar missionários. E isso é a cara dos Missionários do Espírito Santo. E foi por isso que me juntei aos Espiritanos no final da adolescência.

Nunca me passou pela cabeça nem ser bispo e, no início, nem sequer ser padre e, em rigor, o que esteve bastante presente desde o princípio foi o meu compromisso em contexto de primeira evangelização. Eu ainda estaria em Moçambique se não me tivesse sido pedido que voltasse para Portugal para outras funções.

 

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