Administrador apostólico faz balanço do anos de ministério episcopal no território, aponta o que ficou por fazer e faz revelações sobre o futuro, na véspera da ordenação do novo bispo

Fátima, 15 nov 2025 (Ecclesia) – O administrador apostólico da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, D. Antonino Dias, recordou hoje os 17 anos de episcopado naquela igreja diocesana, destacando, entre os vários momentos de serviço, o contacto com as pessoas da região.
“Foi sempre uma experiência bonita, aquilo que mais destaco ao longo destes 17 anos ali […] foi mais a proximidade junto às pessoas e, para isso, muito concorreram as visitas pastorais, fiz praticamente 4 visitas pastorais”, afirmou, em declarações à Agência ECCLESIA, em Fátima, à margem do ‘Fórum Migrações’, que decorre no Centro Paulo VI.
O Papa Leão XIV nomeou, a 7 de outubro, D. Pedro Fernandes, religioso espiritano, como bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, sucedendo a D. Antonino Dias, de 76 anos, que renunciou por motivos de idade.
Sobre a forma como era acolhido, nas diferentes regiões da diocese, o administrador apostólico observa que as pessoas eram sempre “boas” e “atenciosas”.
“Quando eu não tinha assim programação própria, agendada, aparecia espontaneamente às paróquias para celebrar. É sempre uma manifestação, ou era sempre uma manifestação da alegria do próprio povo quando via que a gente aparecia mesmo em horas que eles não contavam”, lembra.
Para D. Antonino Dias, o melhor era visitar as comunidades quando não anunciava: “Quanto mais simplicidade, melhor. Foi sempre esse o meu entendimento. Procurei sempre viver dentro desse espírito da simplicidade, da humildade, de estar com as pessoas”.
Além da familiaridade que gerou com as gentes ao longo do ministério, o administrador apostólico salienta a realização do Sínodo Diocesano, concretizado entre 2009 e 2016, com o lema ‘O Dom está em ti (1 Tim 4,14)’, que caracteriza como “longo”.
“Acho que correu bem, mas depois, como sempre acontece nestas coisas, a receção do mesmo, o levá-lo à prática é sempre mais difícil”, descreveu, indicando que o processo não se concretizou tanto quanto se desejava que acontecesse.
Questionado sobre o que ficou por fazer, D. Antonino Dias aponta a “restruturação da diocese”, uma vez que esta tem poucos sacerdotes, distâncias grandes, mas paróquias e concelhos “pequenitos”, que não têm “capacidade de dar resposta em virtude do despovoamento que existe”.
“[Gostaria de fazer] era essa reestruturação e, ao mesmo tempo, fazer com que os próprios leigos se inserissem nestas opções a fazer, porque gostaríamos, dentro desta linha da sinodalidade, que tudo ocorresse dentro desse espírito de participação, de dar a sua ideia, para depois assumir-se”, realçou.
Ao longo dos anos na Diocese de Portalegre-Castelo Branco, D. Antonino Dias partilhou reflexões na rede social Facebook, visitou quase todas as paróquias da diocese e deixou as atas destas Visitas Pastorais e Crismas, escritas por si em livros que foram entregues à diocese.
“Os escritos do Facebook comecei em Roma, quando participei no Sínodo sobre a família, e depois achei graça àquilo, que seria um meio de estar próximo e de estar presente e procurei fazer um cada semana, de facto, durante 12 anos, ou por aí, ou mais, que publicava semanalmente um artigo”, relata.
D. Antonino Dias aborda também as dificuldades das vocações na Igreja, dando conta que ordenou apenas três padres ao longo do ministério episcopal de 25 anos.
“Este problema vocacional é geral lá. A pastoral e todo o povo deveria ter isso de uma forma muito presente na sua mente, as próprias famílias, a comunidade em geral. Porque, de facto, começa a ser um problema”, assinala.
![]() O bispo eleito de Portalegre-Castelo Branco, D. Pedro Fernandes, vai tomar posse canónica da diocese, no mesmo dia da sua ordenação episcopal, este sábado, às 15h00, na catedral diocesana, na cidade de Portalegre. “Desejo ao sr. D. Pedro Alexandre as maiores venturas nas raízes pastorais, pessoais, no meio daquela gente que o aguarda com esperança e com muita alegria e com muito entusiasmo”, expressou. D. Antonino Dias considera que o perfil do novo bispo, que é da congregação do Espírito Santo, onde assumiu funções de governação, realizou missão em diferentes realidades, nomeadamente em África, “vai ser bom” para a diocese, apesar de esta não ter muitos jovens como os missionários estão habituados. O administrador apostólico fez referência a D. Agostinho de Moura, antigo bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, que também era espiritano, recordando-o como o “grande construtor de estruturas” no território diocesano. “Salpicou a diocese com colégios, que depois com o 25 de Abril, com o ensino público, foram desativados, e alguns ainda existem, um ou outro ainda existe e está desativado”, refere. “Agora vem outro espiritano que vai ter que resolver essas coisas, porque […] hoje essas grandes casas numa diocese são uma estrutura pesada, só dão despesa, e tem que […] que se repensar como resolver a situação para o futuro”, mencionou. Questionado sobre o futuro, D. Antonino Dias refere que está nos planos voltar às origens. “Eu sou do Alto Minho e irei até lá, até ver”, contou, acrescentando que tem “saudades de ser pároco”. “Vamos ver, talvez partilhar alguma comunidade com alguém e colaborar na medida do possível, como sempre fiz. Sem esquisitices, sem exigências, mas com esta dedicação que é ser membro da Igreja e estar ao serviço da Igreja”, disse. |
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