Portalegre-Castelo Branco: Comissão Diocesana Justiça e Paz alerta para «desigualdade» que «empurra para a pobreza de férias»

Organismo publicou mensagem sobre direito ao descanso, advertindo para o facto de que «um terço dos trabalhadores em Portugal não conseguem passar uma semana de férias, por ano fora de casa»

Foto beirabaixatour.pt, Castelo Branco

Portalegre, 21 jul 2025 (Ecclesia) – A Comissão Diocesana Justiça e Paz de Portalegre-Castelo Branco alertou este domingo para a situação de pobreza que impede muitos trabalhadores de usufruir de uma semana de férias.

“Segundo os dados da Pordata, quase um terço dos trabalhadores em Portugal não conseguem passar uma semana de férias, por ano fora de casa. A desigualdade empurra para a “pobreza de férias”: descansar com dignidade”, pode ler-se na nota enviada à Agência ECCLESIA.

O organismo destaca que este não é um problema apenas de Portugal, citando um estudo do Instituto Sindical Europeu que diz que “na Europa mais de 41 milhões de trabalhadores estão na mesma situação”.

Que o gozo de férias seja desígnio nacional, de modo que cada um de nós tenha a oportunidade de usufruir de uma pausa no trabalho para recuperar as forças físicas, a oportunidade de viajar e comtemplar as belezas da natureza, um tempo para novas leituras e amizades, mas, também um espaço para cultivar, através da meditação e da oração, o nosso interior”, desafia.

Na nota, a Comissão Diocesana Justiça e Paz realça que, “em cenários políticos, a erradicação da pobreza deve ser assumida como ‘a’ questão central da qual depende a construção de uma sociedade mais humana, mais coesa e mais próspera”.

“Só um consenso sobre o bem comum pode provocar uma transformação dos paradigmas sociais, económicos e políticos”, assinala.

Numa fase em que o novo governo inicia funções, a Comissão Nacional Justiça e Paz e várias comissões diocesanas apelam “para que o combate à pobreza seja um objetivo nacional nos próximos anos e consideram que as metas e os objetivos de combate à pobreza devem ser um desígnio nacional prioritário que deve mobilizar, com empenho, firmeza e determinação, o Estado como um todo, a sociedade civil, as igrejas e as comunidades religiosas”.

“O respeito pela dignidade humana só estará garantido quando cada pessoa for capaz de honrar a sua própria humanidade, ou seja, só estará garantida quando cada um de nós for capaz de gerir a sua vida sem estar limitado pela necessidade ou pela extrema vulnerabilidade”, defende o organismo.

A mensagem da Comissão Diocesana Justiça e Paz reflete sobre o termo férias, referindo que muitos se recordam delas como um regresso “aos lugares aos lugares de origem e, se possível, ficava-se algumas semanas, duas ou três, em casa dos avós ou dos tios”.

“As férias, tal como eram entendidas, eram coisa de ricos. Depois veio o ‘boom’ económico, que não fez todos ricos, mas colocou nos bolsos o suficiente para uma semana de veraneio. E ainda mais tarde viria o tempo das férias adjetivadas, por assim dizer: ou seja, as inteligentes, “off-road”, alternativas, verdes, de voluntariado, peregrinações e tudo o mais que se queira acrescentar”, lembra.

O organismo diocesano debruçou-se sobre a origem das palavras férias, em português, e ‘vacation’, em inglês, apontando diferenças nos significados das palavras de que derivam: “enquanto férias vem de feriae (dias em que os romanos não trabalhavam por razões religiosas), vacation vem de vacationem (lazer ou folga do trabalho), que por sua vez deriva de vacare (vazio, livre)”.

“Este conceito entrou no grande elenco da Doutrina Social da Igreja, redesenhando efetivamente a própria noção de férias”, ressaltou.

No texto, a Comissão Diocesana Justiça e Paz de Portalegre-Castelo Branco nomeia vários exemplos da referência feita a férias por vários Papas, nomeadamente Francisco que a 6 de agosto de 2017 afirmou que todos precisam “de um tempo útil para retemperar as forças do corpo e do espírito, aprofundando o caminho espiritual”.

O organismo evoca também Leão XIV que desejou que “todos possam desfrutar de umas férias para renovar o corpo e o espírito”, antes de partir para a cidade italiana de Castel Gandolfo, na região de Lázio, a pouco mais de 20 quilómetros de Roma, para duas semanas de férias, a 6 de julho.

LJ

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