Organização católica procura responder aos danos da crise através do trabalho de proximidade e do estabelecimento de parcerias
Portalegre, 20 mar 2014 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Diocesana de Portalegre-Castelo Branco diz que são cada vez mais os casos de suicídio e alcoolismo na região, motivados sobretudo por situações de desemprego e solidão.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Elicidio Bilé explica que neste momento, a prioridade principal passa pela criação de “equipas de voluntários, nas diversas comunidades”, que terão como principal função “sinalizar” os problemas mais prementes.
Só assim as instituições sociocaritativas locais poderão “atempadamente chegar às pessoas”, realça aquele responsável, que aponta ainda a necessidade de formar “equipas multidisciplinares, com as parcerias que se julgarem necessárias”, que possibilitem uma intervenção ao nível psicológico, social e espiritual.
Desde que a crise atingiu Portugal, a atividade económica na região “caiu profundamente, da agricultura à indústria passando pelos serviços”.
“O desemprego cresceu de uma forma exponencial”, realça o presidente da Cáritas de Portalegre-Castelo Branco, sublinhando que está realidade é ainda mais “grave” devido à identidade “cultural e sociológica” das populações locais”.
“As pessoas aqui são muito fechadas, não se expõem com facilidade, há muita pobreza envergonhada”, aponta Elicidio Bilé.
Para chegar a essas pessoas, mais propensas a situações limite, a organização católica conta com a colaboração de outras instituições como as autarquias, através dos departamentos de ação social e as forças de segurança.
Os idosos e os jovens são duas das faixas populacionais que merecem maior atenção – no caso dos idosos, muitos estão “acamados ou vivem isolados”, pelo que mais do que apoiar com bens materiais, a missão principal é fazer um acompanhamento de proximidade.
Para Elicidio Bilé, é preciso que os mais velhos sintam que têm “alguém com quem podem falar da sua vida” ou simplesmente “ir ao médico, à farmácia ou ao supermercado”.
Quanto aos mais novos, mais propensos ao alcoolismo, neste momento “está a ser delineado” um projeto que possibilitará a realização de sessões de sensibilização junto das comunidades, com o envolvimento de equipas hospitalares de Abrantes, Castelo Branco e Portalegre.
Aproveitando o modelo dos Grupos de Interajuda Social, que a Cáritas Portuguesa criou para ajudar a combater o desemprego, o objetivo será ainda incentivar os próprios jovens a reunirem-se em grupo “ com alguma regularidade” para, com a ajuda de “um animador”, discutirem “os problemas que os afligem”.
A Cáritas diocesana de Portalegre Castelo-Branco associou-se há cerca de dois anos e meio às suas congéneres de Évora e Beja, Cidade Rodrigo, Salamanca, Cória-Cáceres e Mérida–Badajoz (as quatro últimas de Espanha) para desenvolver uma “rede de apoio mútuo” tendo em vista a busca de soluções para problemas que “são comuns” aos dois lados da fronteira.
Um dos frutos dessa cooperação foi a criação de uma página de internet onde as pessoas podem procurar ofertas de emprego, de formação profissional e procurar alojamento.
Para facilitar a mobilidade, vão ser colocadas à disposição das famílias apoiadas ações de formação em espanhol e em português, a partir de uma parceria com a Universidade Pontifícia de Salamanca.
SN/JCP