Portalegre-Castelo Branco: Bispo eleito acolheu «com esperança» a proposta «completamente inesperada»

«Há um itinerário longo de conhecimento, de escuta, de aprendizagem», que tem de ser feito com as pessoas da diocese», destaca D. Pedro Fernandes

Lisboa, 10 nov 2025 (Ecclesia) – O bispo eleito de Portalegre-Castelo Branco acolheu “com disponibilidade” a nomeação de Leão XIV, quer “valorizar tanta riqueza” que existe nas pessoas comprometidas, com o presbitério “estabelecer relações da maior fraternidade possível”, e aos jovens assegura “proximidade e disponibilidade”.

“Quando foi feita esta proposta de ir para Portalegre-Castelo Branco, a minha primeira reação foi dizer, ‘mas estão-me a propor ir para a diocese portuguesa que eu conheço menos’; foi-me dito que, se calhar, isto seria uma vantagem, e eu acolhi esta argumentação, porque, em qualquer dos casos, em rigor, nunca há territórios verdadeiramente desconhecidos, há um pressuposto de fraternidade e de comunhão que nos torna verdadeiramente irmãos”, disse D. Pedro Fernandes, em entrevista à Agência ECCLESIA, na casa provincial dos Missionários Espiritanos, em Lisboa.

Nomeado no dia 7 de outubro como bispo de Portalegre-Castelo Branco, o sacerdote da Congregação dos Missionários do Espírito Santo acrescenta que, nas últimas semanas, tem tentado se aproximar “e conhecer um pouquinho melhor” esta diocese, tem consciência que, pela frente, “há um itinerário longo de conhecimento, de escuta, de aprendizagem”, que tem de ser feito com as pessoas da diocese, “com o clero, e com o povo de Deus”.

“Eu estou a entrar numa nova realidade na qual preciso de aprender e, portanto, evidentemente que serei aprendiz de bispo, e essa escola terá como professores, e como acompanhadores e tutores, todos, mas de modo muito especial, naturalmente, o presbitério da diocese com o qual quero estabelecer relações da maior proximidade possível, da maior fraternidade possível, porque o bispo é, sobretudo, um irmão”, desenvolveu.

O entrevistado explica que foi conhecendo alguns padres, “e a primeiríssima impressão é excelente, não podia ser melhor”, parte do princípio que todos têm “diferentes personalidades, diferentes backgrounds, modos diferentes de estar”, e serão os seus mestres.

Sobre a necessidade das pessoas assumirem responsabilidades mais específicas da Igreja, D. Pedro Fernandes salienta que, naturalmente, vai “apanhar um comboio em andamento”, e entrar nele como “quem aprende e como quem, humildemente, se coloca ao serviço de um caminho que já existe”, e alerta para a “tentação da autopreservação, e da defesa de padrões que serviram muito bem noutros desafios”, que “não parece que venha de Deus”.

“Há imensíssimos leigos e leigas nas nossas comunidades cristãs, por todo o país, na Europa, que dão a vida, que servem na catequese, nos serviços litúrgicos, nos serviços sociais, em vários âmbitos da pastoral, ou da solidariedade humana, a partir de convicções cristãs e de um enraizamento na Igreja. Não faltam pessoas que estão profundamente comprometidas nisso, em muita diversidade também, de modos de estar, de ser, de olhar, e todas essas pessoas, claro que são bem-vindas e pertencem.”

O bispo eleito destacou que a riqueza dos jovens “é tão grande” que “seria completamente insano” tratá-los como se fossem “apenas mais um setor social na vida da comunidade cristã”, porque são determinantes, para além de presente e futuro, são a “sinalização fundamental” do modo apropriado de estarem “num mundo contemporâneo”.

“Os jovens de Portalegre-Castelo Branco, do seu novo bispo, podem esperar proximidade e disponibilidade: Disponibilidade para estar com eles, para aprender com eles, para caminhar junto, e vou procurar, nas minhas muitas limitações, estar perto de todos e, especialmente, dos jovens, porque eles têm tanto a dar à Igreja”, desenvolveu, adiantando que espera que os jovens “sejam eles próprios, que ouçam as vozes de Deus nas suas vidas”, e que estejam disponíveis.

D. Pedro Fernandes acolheu esta nomeação do Papa Leão XIV como bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco “com disponibilidade”, salientando que é uma característica dos missionários do Espírito Santo, e pensa que de “todos os cristãos que são chamados a isso”.

“É uma proposta completamente inesperada e, portanto, uma surpresa que demora o seu tempo a digerir. E estou, por isso, a tentar fazer esse processo, mas acolho com esperança, porque a verdade é que somos todos chamados ao serviço, somos chamados à missão, e a missão, vivida na fé, apresenta sempre este perfil de surpresa e de novidade”, desenvolveu, o segundo bispo espiritano deste território, após D. Agostinho de Moura (1953-1978).

Com 56 anos de idade, a história do novo bispo, como missionário Espiritano conta com passagens pela Guiné-Bissau, França, Moçambique, Itália e Portugal, em diferentes contextos e desafios, D. Pedro Fernandes assinala que a missão, para além da sua dimensão geográfica, “é, sobretudo, existencial, humana, junto das pessoas”, e tem, também, a “característica da diversidade e da necessária integração e gestão das diferenças”.

“No caso de Diocese de Portalegre-Castelo Branco, não há exceção. É uma diocese, também, com bastante diversidade, bastante heterogénea, e com desafios de missão e de evangelização até relacionados com a interioridade, e com as características que já conhecemos”, acrescentou, na entrevista emitida no Programa 70×7, deste domingo, na RTP2.

A tomada de posse canónica de D. Pedro Fernandes acontece com a ordenação episcopal, no próximo domingo, dia 16 de novembro, na catedral diocesana, na cidade de Portalegre; vai suceder a D. Antonino Dias, que renunciou por motivos de idade.

A Diocese de Portalegre-Castelo Branco tem 161 paróquias, distribuídas por cinco regiões (arciprestado de Abrantes 33 paróquias, de Castelo Branco 44, Ponte de Sor 27, Portalegre 22 e Sertã 35), contando com o trabalho pastoral de padres diocesanos e religiosos, religiosas, diáconos permanentes, três institutos seculares, associações, movimentos de leigos e 39 misericórdias.

HM/CB/OC

“Nunca me passou pela cabeça nem ser bispo e, no início, nem sequer ser padre e, em rigor, o que esteve bastante presente desde o princípio foi o meu compromisso em contexto de primeira evangelização. Eu ainda estaria em Moçambique se não me tivesse sido pedido que voltasse para Portugal para outras funções.”

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Pedro Alexandre Simões Gouveia Fernandes nasceu a 22 de junho de 1969 em Lisboa; frequentou o primeiro ano de Teologia na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, e em 1988, ingressou na comunidade de estudantes Espiritanos do Restelo, em Lisboa, onde prosseguiu os seus estudos enquanto desenvolvia trabalho pastoral.

Segundo o entrevistado, “ficou claro, bastante cedo”, que aquilo a que Nosso Senhor o chamava seria a vida missionária, “e a experiência de missão em contexto de primeira evangelização e, certamente, de serviço aos mais pobres”, o que é “a cara dos missionários do Espírito Santo”, e foi por isso que se juntou aos Espiritanos “no final da adolescência”.

Em 1991 ingressou no noviciado Espiritano em Silva, Barcelos, e fez os primeiros votos a 8 de setembro de 1992, regressando a Lisboa em 1993 para o quinto ano de teologia, concluindo com uma tese sobre o diálogo católico-anglicano.

De 1993 a 1995 foi membro da Comunidade Espiritana de Clamart (França), obtendo uma licenciatura em Teologia Moral no Institut Catholique de Paris; em 8 de setembro de 1995 fez os votos perpétuos e, de 1995 a outubro de 1996, realizou o seu estágio missionário na Guiné-Bissau como diácono.

Na Guiné-Bissau esteve no interior do país lusófono, “em território manjaco”, e o trabalho da Igreja era muito de catecumenado, no seu tempo tiveram “os primeiros 18 batismos”, numa realidade “muito desafiante, como proposta do Evangelho, no meio de uma cultura riquíssima, lindíssima, mas completamente alheia à tradição cristã”.

“Isso foi muito enriquecedor. Desafiou-me a alargar a minha capacidade de flexibilidade, de acolhimento da diferença, de perceção dos valores e da riqueza dos outros, que são mesmo outros, mesmo muito diferentes, em muitos aspetos, e ao mesmo tempo são totalmente mesmos, porque a gente reconhece a nossa humanidade, e tantos dos nossos reflexos muito fundamentais em todas as pessoas, em todas as culturas.”

Pedro Alexandre Simões Gouveia Fernandes ordenado sacerdote em Lisboa a 21 de julho de 1996 e integrou, nesse ano, o primeiro grupo de Espiritanos enviados para a missão em Moçambique, onde permaneceu até 2009; em Roma, obteve um diploma no Centro Interdisciplinar para a Formação de Formadores para o Sacerdócio, na Universidade Pontifícia Gregoriana de Roma (2009-2010).

O bispo, religioso espiritano, recordou que em Moçambique, a realidade também de primeira evangelização “era bastante diferente,”, no contexto de uma Igreja “já muito constituída, com muitíssimas comunidades”, no primeiro lugar 136 comunidades cristãs, por isso, tinham “uma presença muito de coordenação e de acompanhamento das lideranças laicais”, de ajudar os outros a fazer: “Programar, formar, avaliar, prosseguir. E isto é muito enriquecedor para qualquer missionário, para qualquer padre ou religioso”.

De regresso a Portugal, de 2010 a 2018 foi superior da comunidade Espiritana do Porto, tendo sido conselheiro provincial e assistente da Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo, acompanhando grupos pertencentes aos Jovens sem Fronteiras, movimento ligado aos Espiritanos.

De 2018 a 2024 foi superior da Província Portuguesa dos Espiritanos e Vice-Presidente da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP).

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