Populorum Progressio, voz profética

D. José Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa As intuições proféticas de Paulo VI, manifestadas na sua encíclica Populorum Progressio, não perderam a sua validade após 40 anos como uma das referências centrais da Doutrina Social da Igreja (DSI). Para assinalar este aniversário, a Faculdade de Teologia da UCP e as Vigararias de Lisboa promoveram a conferência “Da Populorum Progressio à Deus Caritas est”, proferida pelo especialista Jean-Yves Calvez, SJ. Em declarações ao Programa ECCLESIA, D. José Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa, destaca que a Populorum Progressio representa “o início de uma etapa na Doutrina Social da Igreja”, num momento crucial. Perspectivas e abordagens viriam a ser retomadas “pelos pontificados seguintes”. “A globalização, a nova visão do mundo e a consciência nova dos problemas do mundo” vieram confirmar muitas das intuições deste Papa, mostrando que “não basta um progresso económico, é preciso um desenvolvimento que seja, fundamentalmente, desenvolvimento da pessoa humana como indivíduo e como sociedade”. O período “muito agudo” em que foi escrita a encíclica “não fez mais do que agudizar-se nas décadas seguintes”, lamenta. Relendo hoje a Populorum Progressio, assinala o Patriarca, podemos ser levados a perguntar “em que medida é que ela foi eficaz”, mas não é possível “fazer um balanço da eficácia deste magistério”, sem deixar de perceber “uma intuição profética da evolução das grandes problemáticas contemporâneas”. Paulo VI denunciava os erros do sistema internacional, assegurando que, a continuarem as desigualdades entre Norte e Sul, os pobres podem partir para soluções violentas e afirma-se defensor desenvolvimento integral, que não seja entendido apenas como progresso económico. Para este Papa, o desenvolvimento dos povos deverá também ser acompanhado por um crescimento espiritual, de saber, da cultura e da satisfação das necessidades básicas da vida. Quanto ao papel da Igreja, D. José Policarpo assinala que “nas grandes questões sociais, ela é uma voz profética, de que os Papas têm sido os grandes protagonistas”, restando perceber “em que medida o resto da Igreja tem acompanhado o vigor desta profecia”. Este responsável lembra que a Igreja não tem meios para “resolver a pobreza, os problemas políticos, os problemas da paz”, mas apela a todos os cristãos e homens de boa vontade para que se sintam interpelados e “possam, no terreno, ser protagonistas de uma lufada de justiça e de paz”. Num mundo em que ganha espaço o neoliberalismo, o fosso entre ricos e pobres não pára de aumentar e o problema do desenvolvimento não teve a aceleração necessária, “a missão da Igreja é apontar, continuamente, os grandes caminhos da dignidade humana, da justiça e da paz”, frisou D. José Policarpo.

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Agência ECCLESIA

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