Igreja: Papa faz «harmonia fortíssima» entre questões políticas e sociais e a misericórdia – padre João Lourenço

Biblista faz três sugestões de leitura para o tempo de férias: «A Misericórdia como Categoria Política», «Dos pobres para o Papa, Do Papa para o Mundo» e «A experiência de Deus»

Foto: Vatican Media

Lisboa, 16 ago 2024 (Ecclesia) – O padre João Lourenço, biblista, considera que o Papa faz uma “harmonia fortíssima” entre as questões políticas e sociais e a misericórdia.

“Nós, muitas vezes, ao olhar de fora, temos certa dificuldade em estabelecer uma distinção onde é que acaba a dimensão social, a dimensão política, a dimensão religiosa, o espiritual”, diz o padre João Lourenço, que defende que não é muito fácil definir estes âmbitos e fronteiras.

“Eu creio que o Papa faz aqui uma simbiose, uma síntese e uma harmonia fortíssima entre as questões políticas e sociais e esta categoria de pensamento que é a misericórdia. Que, nesse sentido, eu diria que é inovadora da parte do Papa ao introduzir na reflexão social contemporânea”, referiu.

No programa ECCLESIA, transmitido esta sexta-feira na RTP2, pouco depois das 15h, o biblista fez propostas de leitura para o tempo de férias, entre as quais o livro “A Misericórdia como Categoria Política”, de Cristina Sá Carvalho, professora da Universidade Católica Portuguesa.

Das três obras que o padre João Lourenço leva ao programa, esta “é a mais académica”, porque “se trata de uma tese de doutoramento”.

“Eu trouxe-a aqui, porque acho que é muito rica esta categoria, porque ela hoje começa a fazer parte, também, da nossa própria reflexão. E, para muitos crentes, principalmente para muitos pastores, esta categoria deve ser considerada e deve ser usada. E não usada apenas como uma categoria de espiritualidade, mas uma categoria de envolvimento social”, evidenciou.

O entrevistado considera que a leitura é “relativamente leve” e que o livro não apresenta as partes que as pessoas mais temem quando se fala numa tese: “Nada disso está aqui, isso virá em posteriores anexos”.

“É também uma obra oportuna e tem aqui uma série de reflexões e de documentação, uma obra bem documentada, cuja fonte principal é o pensamento do Papa”, destacou.

Segundo o padre João Lourenço, existe “uma tentação muito grande” de pensar que a misericórdia se centra muito na piedade, salientando que esta é uma “uma categoria veterotestamentária (relativa ao antigo testamento) profética muito forte e muito rica”.

“A misericórdia é também dar voz e fazer realçar aqueles que, mesmo sem voz, são valores fundamentais da sociedade de hoje”, sublinhou.

Da autoria do Papa Francisco, o biblista sugere a obra “Dos pobres para o Papa, Do Papa para o Mundo”, que expõe sete reflexões do pontífice, “que procura responder a questões que lhe são colocadas, exatamente na linha do título”.

“[São] colocadas por pobres, pela sua atenção aos pobres, pelas perspetivas que ele apresenta em relação aos pobres e a vontade que o Papa tem de dar aos pobres um lugar de destaque no seu pensamento e também, diria, na centralidade da Igreja”, explicou.

De acordo com o padre João Lourenço, esta obra é ilustrativa e, ao mesmo tempo, “um eco de uma realidade social” em que todos se sentem envolvidos.

“Reflete o que é o compromisso do Papa desde a sua experiência como Arcebispo de Buenos Aires. Portanto, não é apenas uma voz que vem do magistério papal, mas é uma voz que vem do interior da própria Igreja, a que ele agora dá mais eco, eu diria, no lugar e na função que ocupa, na missão que tem, dá-lhe mais centralidade. Mas o tema é inerente à sua identidade cristã”, indica.

Outra das obras que o padre João Lourenço propõe é da autora Simone Weil, “A Experiência de Deus”, que integra os Cadernos de Marselha, escritos no inverno de 1941-42.

“Simone Weil é uma autora notável, uma pensadora também com uma boa fundamentação cristã e bíblica, mas tem uma reflexão que vai para além disso, muito fundada no pensamento grego. Ela é uma pensadora, eu diria, humanista clássica, que viveu um curto tempo (1909-1943)”, refere.

De acordo com o sacerdote, esta é uma obra “com um pensamento muito profundo”, que “percorre cenários e diversidade de cores e de pensamentos”, combinando entre eles uma perspetiva “muito humanista e livre”.

A cada sexta-feira do mês de agosto, o Programa ECCLESIA convida os entrevistados a partilharem as sugestões de leitura para dias de férias, além da análise aos textos da Bíblia que são lidos nas missas de domingo.

PR/LJ

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